Review: The Plucky Squire é recheado de charme e criatividade
Entre os indies mais cotados e diferentes de 2024, está The Plucky Squire, traz um ritmo incrível de diversão! Veja nossa análise
em dúvidas, a Devolver tem um crivo muito afiado na hora de escolher projetos de jogos indies para publicar. Felizmente, parece que o parâmetro continua intacto com The Plucky Squire, novo game da All Possible Futures, oferecendo um pacote recheadíssimo de criatividade, diversão e mecânicas bem fora da caixa.
Após uma campanha breve de 8 horas, The Plucky Squire pode não ser o melhor jogo de aventura que temos por aí, mas traz algumas ideias tão interessantes, inovadoras e bem-executadas que merece aplausos por nos garantir uma jornada capaz de tirar os mais honestos sorrisos.
Se você está curioso para saber se The Plucky Squire vale a pena, confira abaixo a nossa análise completa!
Ritmo excelente em uma história agradável
Se você está por fora, The Plucky Squire tem um tema bem interessante: o jogo conta a história de Pontinho, o Escudeiro Valente do reino de Mana, que sempre derrota o mal e usa suas habilidades de poeta para criar livros que encantam todos os cidadãos. E, entre suas aventuras, Pontinho está sempre enfrentando Enfezaldo, o feiticeiro maligno.
A trama, como você deve imaginar, tem um tom bem bobinho e infantil, mas porque essa é a intenção. No escopo maior, O Escudeiro Valente é um livro do mundo real e feito por um garoto muito criativo chamado Sam, que no futuro se tornará um autor de renome capaz de inspirar muitas crianças.
As coisas desandam quando Enfezaldo encontra escrituras antigas que revelam a verdade de seu universo: tudo não passa de uma história fictícia em que Pontinho está para sempre fadado a vencer. Dessa maneira, o antagonista faz a grande reviravolta do enredo e retira o herói de sua própria história para que, dessa forma, a trama possa ser reescrita – mas isso implica em Sam perder sua criatividade.
É soberbo como forma dessa jornada é contada. Não por sua complexidade ou emaranhado narrativo, mas por extrair a diversão de uma forma fantástica com quebras de quarta parede, humor refinado e diálogos incríveis. Pense como em um filme da Pixar: na superfície é algo infantil, mas o olhar atento nota um roteiro bem-pensado para todos os públicos.
Sem dúvidas esse é o chamariz da experiência de The Plucky Squire, que encanta com sua premissa fora da curva. Você já deve imaginar que o roteiro não seja o maior atrativo aqui, mas o game ainda consegue entregar algumas reviravoltas muito legais e, acima de tudo, manter um ritmo consistente de diversão por toda a aventura.
The Plucky Squire nunca deixa a peteca cair, trazendo novos cenários, personagens cativantes e até uso de metalinguagem (e os próprios personagens brincam com isso). Você vai notar que usarei muito o termo “criatividade” neste review, mas não é para menos: ela transborda em tudo que a desenvolvedora se propõe a fazer.
A cada esquina, um coelho fora da cartola
Se The Plucky Squire tem um grande trunfo escondido na manga, certamente é o poder de surpreender durante toda a campanha a cada virada de página (até literalmente, partindo da premissa do jogo). A criatividade é um poço sem fundo e a desenvolvedora sabe entreter de diferentes maneiras para evitar a repetição e o marasmo.
Certamente, The Plucky Squire é uma ideia interessantíssima, mas o game acaba se tornando mais do que um conceito bem-feito e a All Possible Futures trabalhou para incrementar todos os elementos que o cercam – em vez de usar de muleta a ideia de misturar 2D com 3D.
Se você assistiu aos trailers de The Plucky Squire até o momento, viu que a mecânica de sair do livro e alterar o gameplay foi bastante enaltecida desde seu anúncio. Entretanto, a realidade é que a equipe conseguiu esconder muito bem o ouro por todos esses anos. Sim, o sistema de alternar entre 2D e 3D é legal, mas ele é somente um dos muitos que encontramos ao longo da campanha.
Apesar de toda a fofura e conceito cativante já merecerem a sua a curiosidade, a grande cereja do bolo está na consistência de novidades. Sim, ele é um jogo de aventura e exploração, mas ele também frequentemente é outra coisa (e evita se repetir).
Há diversos minigames, como um à la Punch Out, batalhas com mecânicas musicais, partidas de “match 3”, seções com stealth e muito mais! Nem vou me estender para não estragar todas as surpresas. E, acima de tudo, ele também é uma aventura recheada de puzzles muito divertidos.
Por toda a campanha de The Plucky Squire, Pontinho usa seus dotes de escritor para identificar palavras narrativas que descrevem a cena do livro e alterá-las para superar desafios. E, conforme progredimos na jornada, cada vez mais esses elementos se entrelaçam para criar quebra-cabeças mais complexos e prazerosos.
Por exemplo: em certo momento da campanha de The Plucky Squire, o caminho está bloqueado por uma floresta, com a frase bem clara no chão: “essa era uma floresta isolada”. Entretanto, Pontinho pode usar a palavra “ruína” do cenário e trocar a frase, dessa forma também alterando o mapa.
O desafio começa simples, mas cada vez mais vemos enigmas de palavras muito inteligentes e extremamente divertidos. A parte mais legal? Alguns puzzles de The Plucky Squire vão requerer palavras que não estão no cenário e requerem que você saia do livro, volte às páginas anteriores, pegue palavras antigas e retorne para continuar o desafio.
O ponto mais alto de The Plucky Squire é saber entregar tanta variedade com frequência enquanto amarra algumas dessas mecânicas em conjuntos mais bem-elaborados. Sim, o game pode não ser o mais profundo e recheado de conteúdo, mas nunca vai entediar ninguém – que, para mim, poderia ser um dos maiores pecados em um título que exala inventividade.
Jogabilidade legal, mas que não se aprofunda tanto
Na superfície, The Plucky Squire é um jogo de ação e aventura regado de puzzles, mas acaba nos fisgando por sua mistura de estilos que surpreendem bastante para quem esperava mais de um arroz com feijão – apesar nada ser tão profundo, como comentarei a seguir.
Enquanto no livro, com jogabilidade 2D, há uma miríade de estilos diferentes para desfrutar! Na exploração convencional, temos um tipo de gameplay similar aos Zeldas antigos, com visão isométrica, inimigos e uma progressão que traz cada vez mais golpes e recursos (existe uma lojinha muito legal para trocar recursos que você coleta).
Em certos segmentos, a aventura se transforma: de repente, você está em um cenário de progressão sidescroller, similar a Alex Kidd e Wonder Boy, com uma jogabilidade consideravelmente diferente. Já em outras partes, o foco é resolver quebra-cabeças, que são cada vez mais incrementados
Quando migramos ao mundo real de The Plucky Squire, a tendência se mantém: inicialmente, temos trechos de stealth e plataforma, depois se transforma em um jogo de aventura 3D e, eventualmente, começa a mesclar tanto os sistemas do modo 2D quanto 3D de uma forma muito natural e com frequência maior.
E, por se passar boa parte no mundo real, você também encontra artefatos mágicos que o permite manipular o livro, como virar as páginas para mover objetos, carimbos que dão poderes especiais e muito mais, todos bem legais e criativos.
Apesar de tudo ser bem divertido, não espere um jogo complexo ou que bata de frente com grandes nomes. Mesmo suprindo à proposta, o escopo de The Plucky Squire ainda é de um projeto menor e não há grandes complexidades, caminhos ocultos aos montes, combos variados ou ferramentas novas a todo momento que farão parte da sua aventura.
Mesmo entre a chuva de novidades, fez falta alguns minigames de The Plucky Squire não retornarem ou evoluírem de uma maneira legal – vou evitar comentar muito por conta de spoilers –, deixando uma vontade de experimentar mais de tudo que ele apresenta (afinal: é muito bom!).
Sim, o game pode ser comparado à Zelda em seus estilos, tanto no 2D quanto no 3D, mas nunca vai muito além, com dungeons, itens e outros elementos que estarão presentes para uso durante toda a aventura. Há muita coisa em tela, mas tudo é bem pouco aproveitado além de um minigame, com bastante linearidade e pouco incentivo à exploração.
Honestamente? Não é um grande problema, nem todo jogo precisa ser megalomaníaco e extremamente complexo, mas é inegável que The Plucky Squire não usufrui tão bem de todos as mecânicas criativas que coloca na mesa.
É bom entender que The Plucky Squire ainda é uma aventura relativamente simples de 8 horinhas e que surpreende nas pequenas coisas e é bom medir as expectativas para saber o que esperar. Em um resumo, o título é ótimo em oferecer muita coisa, mas peca em não se aprofundar em nenhum elemento de toda essa variedade.
Ao menos, temos alguns colecionáveis espalhados que garantem uma segunda olhada na campanha – e as recompensas são bastidores do desenvolvimento muito bacanas.
Visuais impecáveis, localização melhor ainda
Se você assistiu ou viu qualquer material de The Plucky Squire, sabe que a experiência visual é um deleite aos olhos. Tudo é confeccionado com carinho, a equipe usa efeitos visuais muito bem-feitos para mostrar que mesmo nas seções 2D ainda estamos dentro de um livro, o mundo real é bastante cativante e sempre há surpresinhas para arrancar sorrisos.
Se há um jogo que mostra como uma boa direção de arte muitas vezes é melhor do que gráficos tecnicamente avançados, certamente é The Plucky Squire. Tudo aqui é extremamente charmoso e fofo, com muita variedade visual e um universo feito muito simpático.
Apesar de The Plucky Squire ter todo um tom de livro infantil, seu elenco de personagens têm um humor bem único que ajuda bastante a tornar a experiência muito mais engraçada e prazerosa. Contudo, parte do charme que o jogo nos transmite vem especialmente pela localização incrivelmente bem-feita para o português brasileiro.
Todos os nomes, incluindo o do próprio jogo (oficialmente, The Plucky Squire se chama O Escudeiro Valente no Brasil) estão traduzidos, então temos personagens como Barbaluar, Barbinha, Batera, Enfezaldo e muito mais, com todos os diálogos muito bem-adaptados para um linguajar descontraído em nossa língua sem se prender muito às traduções literais.
Além disso, um grande fator me pegou de surpresa: o jogo está inteiramente dublado em português e o narrador da aventura conta com a atuação do excepcional Mauro Ramos, famoso por ceder sua voz a personagens como Shrek, Pumba (de O Rei Leão), Sullivan (Monstros S.A.) e muitos astros de Hollywood.
The Plucky Squire vale a pena?
Jogar The Plucky Squire em 2024 foi um deleite e uma surpresa bem legal. Eu esperava uma ideia divertida e não muito mais do que isso, mas encontrei um jogo recheado de criatividade, prazeroso de jogar e cheio de humor para entreter em uma campanha bem-amarrada.
Apesar de ter muitos acertos, The Plucky Squire é claramente um jogo de escopo menor. Não espere um novo Zelda, desafios grandes de plataforma, uma quantidade enorme de segredos para encontrar ou um fator rejogabilidade grande. E está tudo bem, nem todo game precisa ser “a próxima grande novidade”.
The Plucky Squire é aquele tipo de jogo que vem de surpresa, tem uma boa duração sem encher linguiça e dá uma sensação muito gratificante no fim. Na verdade, tão gratificante que acaba deixando um gostinho de quero mais.
Seria incrível ter mais de tudo isso que experimentei e ver todos os elementos mais bem aproveitados durante a jornada, mas nem por isso é um game que não tenha seu brilho. Se você busca um jogo relaxante e charmoso, encontrou uma opção excelente! Mas é bom saber que vai entrar em algo bem linear e sem grandes liberdades para usufruir todo o playground que encontra durante a jornada.
The Plucky Squire foi gentilmente cedido pela Devolver para a realização desta análise.
The Plucky Squire
Publisher: Devolver
Desenvolvedora: All Possible Futures
Plataformas: PC, PS5, Xbox Series e Nintendo Switch
Lançamento: 17/09/2024
Tempo de review: 8 horas
The Plucky Squire é um jogo incrivelmente divertido, com charme e criatividade de sobra. Mas peca em oferecer muita variedade e pouca profundidade.
Prós
- Trama simples e gostosa de aproveitar
- Extremamente criativo e sempre com novas ideias
- Ritmo consistente que nunca entedia
- Jogabilidade faz o básico, mas entretém
- Gráficos soberbos
- Localização impecável
Contras
- Combate e ferramentas bem superficiais
- Fica um gostinho de quero mais
Comentários
Uma coisa é certa, se esse jogo fosse da Nintendo a nota seria maior, pq já deu notas maiores pra Nintendo tendo os mesmo ou ate menos defeitos que esse jogo.