Review: Metaphor ReFantazio é o JRPG perfeito
Atlus acerta mais uma vez e brinda o público com Metaphor ReFantazio, o melhor jogo de 2024
uando escrevi a minha prévia de Metaphor ReFantazio aqui no Flow Games, falei que o novo JRPG da Atlus tinha tudo para ser um dos mais fortes candidatos ao GOTY 2024.
Eu estava errado. Afinal, ele não é apenas um forte candidato: é, disparado, a melhor experiência que eu tive com videogames em 2024. E, se houver justiça no mundo, esse jogo terminará o mês de dezembro coroado com a maior premiação possível.
Vou evitar repetir por aqui o que já falei no meu preview, já que ele segue no ar e recomendo a leitura a todos. Modéstia à parte, considero um dos melhores textos que já fiz e está super completo, então vai lá dar uma moralzinha, vai?
O que mais mudou desde então é que aquele texto foi escrito com cerca de 6 horas de gameplay, enquanto esta análise final envolveu pouco menos de 100 horas de jogo — ainda que o contrato de embargo deste review me impeça de entrar em detalhes sobre eventos que aconteceram após cerca de 3o horas de campanha. Não que isso fosse mudar a minha nota e considerações, mas fica aí o registro e transparência para vocês.
Você realmente deveria jogar Metaphor ReFantazio!
De tempos em tempos surgem videogames que furam as bolhas de seus respectivos gêneros. A própria Atlus já tinha conseguido provar desse sucesso com o ótimo Persona 5, que trouxe uma nova onda de interesse para os jogos com combates por turno.
É difícil fazer um exercício de futurologia, já que a qualidade de um jogo não é o principal fator na hora de pautar a sua influência e sucesso, mas eu gosto de pensar — e, francamente, torço por isso — que Metaphor ReFantazio pode levar os JRPGs ao merecido lugar de destaque que há tempos merecem ocupar no mainstream.
Nos últimos anos, a mídia ocidental acostumou-se a premiar games cuja linguagem aproxima-se do cinema. Você sabe do que estou falando, aquelas aventuras que misturam ação e drama com orçamento na casa das centenas de milhões de dólares, enlatadinhas para papar tudo que é prêmio por aí. No processo de se aproximar com Hollywood, a meu ver esses jogos perdem um bocado de gameplay e da chance de fazer coisas que só são possíveis como videogame.
Metaphor ReFantazio, por outro lado, toma o caminho oposto, o que me agrada imensamente. É uma narrativa soberba, facilmente figurando entre as melhores da geração, e que só pode ser contada através de um videogame. Como Nier Automata, Mother e tantos outros grandes jogos japoneses atemporais, é um produto orgulhoso de suas origens, e que sabe tirar máximo proveito da mídia interativa para passar a sua mensagem.
Então se você tem algum interesse em jogar para curtir uma história fora de série, fica aqui a minha recomendação máxima de cara. E olha só, mesmo que você não ligue para nada disso e prefira estilo em detrimento da substância, tenho boas notícias. Metaphor ReFantazio é ainda mais estimulante visualmente que os já ótimos Personas, até então paradigma de qualidade nessa área. Diabos, o jogo é tão estiloso e irado que inspirou até um carro de F1 no mundo real:
Aliás, além da Hulkenberg meio que temos mais nomes de pilotos espalhados pelo jogo? Será que o Strohl foi inspirado no Lance Stroll e a Gallica na Divina Galica?! Eu não sei o que eles estavam cozinhando com isso, mas achei uma inspiração no mínimo divertida.
Dream Team em ação
De certa forma, a grandeza de Metaphor ReFantazio era ao menos um pouco previsível. Afinal, você não junta um Dream Team sem esperar que o elenco dê um verdadeiro baile em campo.
De Persona 3, 4 e 5 temos o diretor Katsura Hashino, o compositor Shoji Meguro e o designer de personagens Shigenori Soejima, todos em sua melhor forma. No caso de Soejima, esses possivelmente são os melhores designs que ele já fez, com muita variedade e diversidade de estilos (mesmo que alguns personagens puxem traços de obras do seu passado. Só eu acho que a Gallica parece a Takeba, o Strohl o Sanada, e a Hulkenberg a Chidori?).
As composições do Meguro também estão em outro patamar, com as músicas partindo para novas e empolgantes direções com uma pegada bem única. Entre outros grandes nomes, Koda Kazuma (de NieR Automata) fica a cargo da arte conceitual, enquanto Ikuto Yamashita (do anime Neon Genesis Evangelion) é o designer mecânico. Essa pluralidade de vozes cria um mundo de fantasia que parece vivo, repleto de segredos e bem trabalhado em cada cantinho e detalhe.
Como citei anteriormente, além de não poder dar spoilers por obrigação contratual, eu também não gostaria de fazer isso de forma alguma, já que acredito que Metaphor ReFantazio traz algumas reviravoltas e momentos de cair o queixo. São grandes viradas bem espaçadas na narrativa. Você tem o tempo de respiro necessário, mas logo depois vem uma surpresa depois da outra. Prepare alguns lenços, porque ocasionalmente as coisas ficam bem pesadas.
Que delícia de combate
Não acho que seria absurdo afirmar que Metaphor ReFantazio inclui o melhor sistema de combate em toda a trajetória da Atlus. É quase como se os melhores elementos de Shin Megami Tensei V Vengeance e Persona 3 Reload (para pegar os jogos mais recentes de cada franquia) se unissem e ganhassem vários acréscimos, virando algo novo e profundamente prazeroso no processo.
Apesar de termos menos Arquétipos para trabalhar do que tínhamos de Personas e demônios em outros jogos, as suas possibilidades em batalha são bem maiores na prática, com mais possibilidades de sinergias, golpes combinados e elementos estratégicos de combate misturados.
Desde antes de a luta por turnos começar, você já tem mais liberdade na ação em tempo real, que por sua vez dita como o combate por turnos vai se desenrolar. Na nova etapa, os personagens podem se descolar entre o pelotão frontal ou ficar na retaguarda, tomando menos dano e evitando ser impactados por suas fraquezas, mas causando menos dano de volta (logo, uma posição perfeita para arquétipos com magias de cura).
Como em SMT, há um indicador visual de ações que podem ser feitas por turno, e você pode ganhar mais rodadas capitalizando no ponto fraco dos inimigos. É bem fácil apertar botões e agilizar as lutas quando você já tem a memória muscular de quais golpes e botões fazem o que, então o ritmo é consistentemente agradável do início ao fim do jogo. Não é preciso investir em grinding e lutar é tão gostoso na última hora da campanha como em seus momentos iniciais.
Da mesma forma, é legal demais gerenciar o calendário e ocupar os turnos do dia e da noite com atividades mais variadas do que víamos em Persona até então, com direito a alguns dos melhores social links que já vi. Isso garante que você nunca tenha um momento de tédio, seja nos combates ou nos momentos de interação com os NPCs e exploração do mundo. Cada segundo em Metaphor ReFantazio é um deleite.
Vale a pena jogar?
Se o primeiro subítulo desse texto e a nota logo abaixo não deixaram flagrantemente claro para você, sim, Metaphor ReFantazio pode e deve ser jogado por todos aqueles que possuem ao menos um pouco de interesse em JRPGs, e possivelmente até por quem não tem, mas está disposto a reavaliar a sua posição e abraçar o bom gosto.
Ele leva ainda mais longe os sistemas que conhecemos tão bem em séries como Shin Megami Tensei e Persona, aprofundando e aplicando mais nuances a eles ao mesmo tempo em que torna tudo mais palatável, intuitivo e acessível para novatos. Habilmente, sem te segurar demais pela mão, tudo é ensinado de forma orgânica, divertida, e com ritmo muito melhor do que estamos habituados a ver no gênero.
Se alguém me perguntasse o que de melhor os videogames podem mostrar em 2024, eu não hesitaria em recomendar Metaphor ReFantazio. É o novo paradigma de excelência não só em JRPGs, mas nos jogos como um todo. Imperdível e essencial!
Metaphor ReFantazio
Publisher: SEGA / Atlus
Desenvolvedora: Studio Zero
Plataformas: PC, PS5, PS4, Xbox Series X/S
Lançamento: 11/10/2024
Tempo de review: 98 horas
Metaphor ReFantazio é um jogo primoroso, digno de ser lembrado e premiado entre os melhores de 2024. Uma aula de JRPG com narrativa e sistemas primorosos.
Prós
- Uma das melhores histórias já contadas nos videogames
- Elenco impecável de personagens
- Sistema de combates divertido, ágil e moderno
- Trilha sonora absurda
- Mais uma aula de interface e menus. Pura excelência
Contras
- Não dá para namorar com a Hulkenberg nem Strohl :(
- Pequenos erros de revisão aqui e ali na boa localização
- O jogo termina...
Comentários
Como um amante de persona, não vejo a hora de poder jogar ReFantazio. Até agora não vi uma pessoa criticar o jogo.
Criticar não significa falar mal de algo. Uma análise como essa são uma crítica ao jogo