
Review: Elden Ring Nightreign é um “best of” da From em rogue
Como um “best of” da FromSoftware, Elden Ring Nightreign é cruel e agrega o masoquismo do soulslike ao rogue
Imagem: Bandai Namco
or mais longeva que seja a trajetória de uma banda, não é preciso lançar um álbum de “best of” para celebrar seu legado. A FromSoftware, no entanto, com seus quase 40 anos de existência, chegou à conclusão de que esse era o momento de lançar uma coletânea com os seus maiores hits – isto é, com seus chefes mais memoráveis ao longo da fase souls – num jogo 100% cooperativo, que é o caso de Elden Ring Nightreign.
Conhecido por proporcionar experiências single-player épicas, o estúdio japonês, comandado pelo grande maestro Hidetaka Miyazaki, flerta com elementos multiplayer desde Demon’s Souls – portanto, um jogo de caráter cooperativo da From não é bem uma surpresa, certo? Reaproveitar assets de Elden Ring, sua criação mais prestigiada até aqui, tampouco causa estranheza (e eu até enxergo isso como algo positivo, uma vez que acelera o tempo de produção de games com escopo maior).
Devo dizer que o que me deixou surpreso não foi o fato de Nightreign ser um jogo multiplayer, mas sim a FromSoftware ter se rendido a um gênero que, hoje, convenhamos, já está um tanto saturado. Acostumada a liderar e a ser fonte de inspiração para inúmeras outras desenvolvedoras, é curioso ver a FromSoftware se curvar às tendências da indústria, sobretudo considerando que ela concebeu o estilo mais influente da atualidade.
Elden Ring Nightreign: uma breve passagem pelas Terras Intermédias
Familiar à primeira vista, para o bem ou para o mal, Nightreign reinterpreta o que conhecemos e só tem Elden Ring no nome e na skin. E não, não é pejorativo quando afirmo que o título mais parece um mod feito por fãs do que qualquer outra coisa. Novamente: não pela reciclagem de elementos, mas pelo escopo e, especialmente, por não carregar o DNA da FromSoftware no quesito level design.
Em vez de explorar a vastidão das Terras Intermédias no próprio ritmo, o jogador tem como objetivo correr contra o tempo para se fortalecer, seja subindo de nível, seja obtendo novos equipamentos, enquanto a chuva restringe o perímetro da região nos moldes de um battle royale. As partidas contam com três noites, ou seja, três rodadas, cada uma com sua dificuldade, sendo o terceiro e último dia o verdadeiro desafio. No fim das contas, tudo se resume a caçar um chefe final, aqui nomeado de Lorde da Noite.
Como mencionei acima, diferentemente do jogo base, cujo foco está na exploração e no senso orgânico de descoberta, aqui a prioridade é evoluir o personagem, quase num esquema de boss rush, na tentativa de amenizar a dificuldade dos chefes. Mais do que vasculhar os mapas sem propósito, Elden Ring Nightreign exige que você os aprenda e, com tempo, saiba otimizar cada segundo para chegar à provação final devidamente preparado.
Aqui a prioridade é evoluir o personagem, quase num esquema de boss rush, na tentativa de amenizar a dificuldade dos chefes

Imagem: Flow Games/Victor Teixeira
Soulslike + rogue = punição ao quadrado
No melhor dos sentidos, Elden Ring Nightreign une o típico masoquismo dos dois mundos, soulslike e roguelike, para criar uma jornada que requer muita persistência. Não bastassem as batalhas monumentais contra os chefes, que exigem uma abordagem estratégica e coordenada da equipe de até três jogadores, o fator roguelike nos pune sem chororô: morra ao final da luta contra o boss e dê adeus ao progresso. Equipamentos, níveis e magias: nada é preservado para a próxima partida.
Equipamentos, níveis e magias: nada é preservado para a próxima partida
A ausência de um sistema de progressão mais robusto – leia-se permanente –, contudo, pode afastar muita gente, em especial aqueles que buscam a experiência de lobo solitário pela qual a FromSoftware ficou conhecida. Sim, você pode se aventurar solo e até mesmo desconectado dos servidores, mas saiba que a tarefa será mais ardilosa do que colaborar em grupo (algo para poucos, eu diria, exigindo um nível de habilidade acima da média, ainda que você seja experiente em soulslike).
Para não passar batido, até existe uma leve progressão a partir das relíquias, um sistema característico dos roguelites, não dos roguelikes, pois nos permite equipar itens que modificam os atributos do personagem. Você pode iniciar a run com algum bônus elemental aplicado à arma principal, por exemplo, bem como melhorar a taxa de vigor ou a recuperação dos itens de cura.

Imagem: Flow Games/Victor Teixeira
Mesmo que cumpra o papel de facilitador, o conjunto de relíquias, a meu ver, é insuficiente, ou seja, não há a sensação de evolução contínua que um game do gênero precisa promover, aquela artimanha utilizada para fisgar o jogador no ciclo da repetição. Como as rodadas têm, em média, 30 minutos, chega um momento em que perder tudo, sem que haja um progresso palpável, deixa de ser tão divertido quanto era no início.
Chega um momento em que perder tudo, sem que haja um progresso palpável, deixa de ser tão divertido quanto era no início
Os maiores hits da FromSoftware
Se tem algo incontestável, cá entre nós, é que a FromSoftware deu vida a alguns dos chefes mais complexos e visualmente embasbacantes da história dos videogames ao longo de sua carreira. Não é exagero, é fato – duvido muito que os adeptos do soulslike discordem de mim aqui.
Os melhores estão em Elden Ring Nightreign: meu favorito, o Rei Sem Nome, filho primogênito de Gwyn, que me torturou à exaustão em Dark Souls 3 – e até coadjuvantes, como o Demônio da Fundição, um fardo de Dark Souls 2. Reencontrar chefes dos jogos anteriores compõe parte da graça, e a curiosidade que o jogo desperta por reviver essas lutas clássicas, moldadas pela nostalgia, funciona como estímulo para se manter entretido no loop.

Imagem: Flow Games/Victor Teixeira
Apesar de encorajar a repetição, Nightreign tenta diversificar as coisas com um leque de oito classes, cada qual com suas particularidades. O Executor, por exemplo, transforma Elden Ring quase num mod de Sekiro: Shadows Die Twice, graças às mecânicas de aparar. Já o arqueiro, que me lembrou os arquétipos de longa distância de Monster Hunter, é ótimo como peça de suporte.
Apesar de encorajar a repetição, Nightreign tenta diversificar as coisas com um leque de oito classes
Dado que cada personagem tem um estilo único e específico de se portar em batalha, dedicar tempo para aprender as nuances de seus movimentos é recompensador (e uma das partes mais divertidas de Elden Ring Nightreign). É como aprender a jogar do zero cada título da FromSoftware, de Demon’s Souls até Sekiro, dentro de um único ecossistema.
Veredito
De Elden Ring, Nightreign só herdou a carcaça, sem a alma que consagrou o jogo original – pegou o meu trocadilho com souls, né? Unindo a dificuldade insana dos gêneros mais cruéis dos videogames, Nightreign é, sim, um ótimo rogue com traços de soulslike – e não o contrário, vale pontuar, como muitos esperavam –, apesar de um tanto frustrante.

Imagem: Flow Games/Victor Teixeira
Em um lampejo incomum, a FromSoftware deixou de lado sua autonomia criativa para apostar na maré das tendências da indústria. Não há nada de errado em seguir o fluxo do que está em alta, mas a empresa japonesa se sai melhor quando mantém-se fiel à sua própria visão e desafia a corrente do mar em que navega – basta olhar para seu histórico.
Analisado no PS5 Pro.
Elden Ring Nightreign foi gentilmente fornecido pela Bandai Namco para a realização desta análise

Elden Ring Nightreign
Publisher: Bandai Namco
Desenvolvedora: FromSoftware
Plataformas: PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series X/S e PC
Lançamento: 30/05/2025
Tempo de review: 25 horas
Elden Ring Nightreign é uma homenagem à história da FromSoftware em formato rogue, mas sem o toque mágico do estúdio
Prós
- Ressuscita os melhores chefes da história da From
- Reaproveita assets de maneira inteligente
- Variedade de classes adiciona nuances à jogabilidade
- Funciona bem no coop, apesar da ausência de cross-play
Contras
- Sem o senso de exploração do jogo original
- Sem progressão permanente para ficar mais palatável
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