Inofensivo, Disney Illusion Island sobra em magia e peca em ambição
A jornada por Disney Illusion Island tem sabor melhor se aproveitada no modo cooperativo
nunciado no D23 ao final de 2022, Disney Illusion Island, conforme o Flow Games constatou em teste realizado durante a Summer Game Fest, trouxe um rápido flashback à memória de muitos fãs como um potencial sucessor de peso à série Illusion, que inclui o estelar Castle of Illusion, clássico de plataforma 2D lançado no limiar dos anos 90, com o próprio Mickey Mouse controlável.
Land of Illusion, World of Illusion e Legend of Illusion compõem o restante da franquia, com adaptações e coletâneas lançadas ao longo dos anos.
A título de curiosidade, o número de “D23” se refere ao ano de fundação da The Walt Disney Company, em 1923. É nessa ocasião que a companhia celebra seus personagens e franquias com anúncios a diversos formatos de mídia – games, filmes, séries, livros, quadrinhos, parques e outras novidades.
Desenvolvido pela Dlala Studios, mesma equipe por trás do mais recente Battletoads, Disney Illusion Island nunca se propôs a atingir o jogador hardcore, embora este, o saudosista de hoje, seja automaticamente contemplado pela atmosfera nostálgica, ligada a um sentimento afetivo que muitos sentem pela empresa.
Ainda assim, a extrema casualidade do game deixa algumas pontas soltas para certas implementações que poderiam ter acontecido – sem perder o aspecto inofensivo ou mudar o foco original. Vejamos.
Confira o trailer do jogo:
Disney Illusion Island: metroidvania “para crianças”
Num tom infantojuvenil em formato de fábula, a história segue quatro personagens icônicos do elenco da Disney em busca de três livros mágicos que precisam ser encontrados para que a misteriosa ilha de Monoth seja salva.
Mickey, Minnie, Donald e Pateta embarcam nessa jornada e podem se colaborar para a missão – e isso, aliás, eleva consideravelmente a diversão da proposta, aproximando o jogo de um conceito de party-game, mas focado em progressão lateral (em contraste aos tabuleiros virtuais de Mario Party, por exemplo, em que cada um tem habilidades próprias e ferramentas de ajuda).
Infelizmente, o modo cooperativo de Disney Illusion Island é apenas local, não online. Imagine, basicamente, um “metroidvania para crianças”: mapa para consultar, level design que ensaia ser intrínseco e recursos sempre ao alcance do jogador (com dicas na tela, vidas extras e outros facilitadores). Alguns upgrades dão acesso a áreas previamente visitadas e há um considerável backtracking nessa toada.
Habilidades simples e conhecidas como pulo duplo, salto entre paredes, gancho e outros artifícios incrementam as travessias, que fazem parte fundamental da experiência. A exploração oferece algumas ramificações interessantes, mas nada que traga o agridoce sabor de se sentir perdido pelo level design – positivamente falando.
Sem combate (e sim, fez falta)
Não há qualquer sistema de combate em Disney Illusion Island. Socos, chutes, saltos sobre cabeça de inimigos, uso de itens arremessáveis, algum poderzinho que inflija dano, nada. Você sempre precisa desviar dos oponentes para progredir, e essa “falta de ação” provoca, após algum tempo, um certo cansaço no ritmo, um vazio inexorável.
Por mais que a proposta seja casual e declaradamente focada nas travessias e nos mecanismos cooperativos que existem entre elas, a ausência de um sistema de combate, casual que seja, é sentida durante quase todo o jogo. “E se eu pudesse só pular na cabeça desse inimigo e prosseguir?”, você vai se perguntar. Ou, ainda, “e se ele servisse de plataforma para avançar?”.
Pequenas sacadas assim poderiam ser aplicadas sem tirar a casualidade que o jogo obsessivamente busca ter. Ao menos há cartas e outros colecionáveis escondidos em paredes falsas para dar um impulso adicional à exploração, todos muito bem listados em abas organizadas do menu.
Visual cartunesco e conhecido
Se você detectou alguma familiaridade nos gráficos desenhados à mão, há explicação: o estúdio responsável por Disney Illusion Island, Dlala, é o mesmo que assina o mais recente Battletoads, lançado em 2020 para Xbox e PC.
A escolha artística combina com a atmosfera mágica da Disney e a simplicidade da experiência, além de imprimir personalidade ao quarteto da aventura. Os diálogos – lamentavelmente sem português brasileiro – foram confeccionados com esse mesmo espírito em mente.
Os colecionáveis estão bem representados. Consistem, sumariamente, em ilustrações que constroem uma narrativa enciclopédica dos personagens da Disney (e, no fim das contas, dela própria), dando um empurrãozinho extra para explorar aqui e ali em todos os cantos possíveis…se você não ficar cansado antes, claro.
Veredito: casual e fácil? Bingo
Disney Illusion Island pode pegar de calça curta os desavisados de plantão, especialmente aqueles que ansiavam por algo similar a Castle of Illusion, que segue sendo a principal referência de plataforma 2D do camundongo.
O combate, no imaginário de existir, e por mais singelo que fosse, poderia sacudir um pouco as coisas. O ritmo inevitavelmente se torna um marasmo de vai e vem, colocando a experiência numa espécie de inércia criativa.
Em contrapartida, a jogatina ganha outra dimensão se aproveitada cooperativamente, não exigindo muita habilidade de quem estiver segurando o controle e, talvez, arrancando momentos de descontração somados a boas lembranças. Estar ao lado de personagens tão emblemáticos do entretenimento nunca é demais, certo?
Tenha isso em mente e Disney Illusion Island talvez seja uma boa pedida para você, ciente das limitações criativas e técnicas que a proposta oferece e com a chavinha “casual” ligada no talo.
Disney Illusion Island foi gentilmente cedido pelo time da Disney Games para a realização desta análise.
Disney Illusion Island
Publisher: Disney Games
Desenvolvedora: Dlala Studios
Plataformas: Nintendo Switch
Lançamento: 28/07/2023
Tempo de review: 10 horas
Disney Illusion Island poderia ter mais ambição criativa e um combate cairia bem, mas o jogo funciona dentro da proposta casual
Prós
- Fácil aprendizado e forte apelo aos casuais
- Colecionáveis organizados, que formam uma enciclopédia
- Diverte bastante no cooperativo
Contras
- Ausência completa de combate traz ritmo monótono
- Coop apenas local, sem online
- Falta de ambição criativa para um projeto Disney
Comentários
Boa análise, Mica. Uma pena o jogo estar assim, imaginava que o jogo seria mais inventivo, ainda mais se tratando de um “plataforma”do Mickey.