
Review: Death Stranding 2 emociona e supera o 1º em tudo
Com gameplay mais convidativo, Death Stranding 2 é outro símbolo de ousadia de Hideo Kojima
Imagem: Kojima Productions
ideo Kojima tem uma clara assinatura em seus trabalhos: fugir do senso comum. Gerar questionamento, engajar o debate, provocar, instigar, convidar a uma reflexão. Death Stranding 2: On the Beach não seria diferente disso.
Como ele próprio diz em entrevistas, sua intenção é “subir a barra dos videogames”. Para isso, Kojima se alia a um valioso instrumento: o aspecto cinematográfico. Já que, como ele também alega, 70% de seu corpo é “formado por filmes”.
O primeiro Death Stranding evocou justamente o que o criador talvez estivesse buscando: diferentes opiniões, visões conflitantes e debates calorosos sobre um gameplay focado em…entregas.
A sequência evoluiu nesse sentido? Há novos ingredientes de gameplay para salgar essas andanças? E a história, que já era complexa, ganhou novas camadas? Sim para absolutamente tudo, mas uma verdade permanece: esse definitivamente continua não sendo um jogo para todo mundo.
Death Stranding 2: relações humanas, vida e morte
Tal como o anterior, o tema principal de Death Stranding 2 é sobre conexão. A frase que grudou nos trailers do jogo questionou se “deveríamos ter reconectado”. Essa foi a grande missão do protagonista Sam Porter Bridges, interpretado pelo ator Norman Reedus, na primeira aventura.
Embora essa indagação insinue a ideia de que o elo formado trouxe a ruína do mundo, a verdade é que, aqui também, sua jornada se resume a conectar instalações espalhadas num extenso mapa composto por terrenos acidentados. Só que há uma considerável mudança geográfica e atmosférica: dessa vez, em vez de pisar nos Estados Unidos, o portador visita o México e a Austrália, esta última sendo o ponto focal da jornada.
Grosseiramente falando, o Death Stranding é uma forma de fim do mundo, em que o elo entre os vivos e os mortos, como conhecíamos, é rompido, e a única forma de evitar a extinção da humanidade é justamente unindo as comunidades que se isolaram em abrigos subterrâneos.

Imagem: Kojima Productions
Sem ir além para não dar spoilers, tenha em mente que essa continua sendo sua missão principal em Death Stranding 2, só que novos tripulantes se juntam à viagem de Sam, como Rainy, Tomorrow, Tarman e Dollman, para citar alguns. O termo “tripulantes” é perfeitamente adequado para o contexto: outra novidade é a DHV Magalhães, uma nave capaz de viajar pelo alcatrão – aquela substância que parece um “piche” capaz de engolir e mandar pessoas e objetos para o outro lado.
Todas essas camadas mal arranham a superfície de uma mensagem muito maior que Kojima busca enviar a quem joga: o isolamento faz mal, e as conexões humanas fazem bem. Ele mesmo disse, em mais de uma entrevista, inclusive ao Flow Games, que a pandemia da Covid-19 o fez reescrever a história do jogo. Sua recomendação é que as pessoas joguem com as reflexões que esse período de confinamento trouxe ao mundo.
Gameplay mais agradável e lotado de novidades
A jogabilidade de Death Stranding foi o maior ponto de discussão entre os que gostaram de fazer entregas e os que se entediaram com isso. A experiência não segue aquela fórmula “universal” que a Ubisoft, por exemplo, costuma aplicar em seus jogos, em que a intenção é agradar o maior número possível de jogadores.

Imagem: Kojima Productions
O objetivo de Kojima foi justamente “estranhar” a cabeça do jogador com algo diferente, contemplativo, que vai contra o senso comum do convívio dopado de ansiedade e imediatismo que os seres humanos têm aqui no mundo real, nos dias contemporâneos. A ideia talvez tenha sido justamente traçar um contraste incômodo para cutucar quem está jogando.
Terremotos, enchentes e incêndios são algumas das novidades que tornam as andanças de Sam mais dinâmicas do que antes, oferecendo uma nova percepção sobre o mundo ao redor dele
Death Stranding 2 te convida a repetir essa jornada, mas adiciona uma série de elementos que enriquecem as caminhadas. Se antes você tinha preocupações apenas com EPs (as entidades sobrenaturais do game), MULAs (bandidos que roubam entregas) e terrenos irregulares, agora você tem desastres naturais para chacoalhar um pouco as coisas – literalmente.
Terremotos, enchentes e incêndios são algumas das novidades que tornam as andanças de Sam mais dinâmicas do que antes, oferecendo uma nova percepção sobre o mundo ao redor do protagonista enquanto ele acompanha o jogador – e vice-versa – na caminhada pelo apocalipse. E não é só isso: nevascas e tempestades de areia, com direito a raios à la Mad Max, ajudam a incrementar a viagem a pé para que ela se torne mais aventuresca.

Imagem: Kojima Productions
Tudo tem mais qualidade de vida nas travessias pelo mundo aberto. As estradas, por exemplo, podem ser pavimentadas com mais facilidade graças às viagens rápidas da nave. Sam pode reunir os materiais necessários e se deslocar com mais rapidez aos pontos de pavimentação. Além disso, agora há monotrilhos que podem ser construídos para que o jogador transporte cargas enormes – até veículos – entre determinados pontos. O próprio Sam pode se deslocar entre eles como tirolesas.
Sim, tem mais ação!
A baixa variedade de inimigos é, sem dúvida, um revés do jogo anterior. Logo nas primeiras missões de Death Stranding 2, é ofertado, ao jogador, um arsenal generoso para lidar com bandidos.
Tudo está melhor aqui: o stealth é mais eficiente, não obrigando o jogador a equipar o cordão para neutralizar inimigos furtivamente (e sim deixando a ferramenta sempre mapeada num botão); as armas aparecem em generosos banquetes, com variantes de metralhadora, pistola, shotgun e bazuca; e a luta corporal de Sam tem até parry.

Imagem: Kojima Productions
Em outras palavras, o combate está muito mais presente em Death Stranding 2 desde o começo. E se você for o purista das entregas e do anonimato, tal qual no primeiro game, fique tranquilo: a postura discreta sempre será uma alternativa viável (e eu, particularmente, prefiro assim).
Além de bandidos comuns, o jogador se depara com grupos mais fortes na segunda metade do jogo, os chamados “sobrevivencialistas”, bem como versões modificadas de EPs – com variantes enormes e monstruosas – e robôs. Há também as criaturas quirais, que são bichinhos capazes de dar choque ao mais singelo dos toques.
Death Stranding 2 reserva momentos pesados, daqueles capazes de dividir opiniões em abismos enormes, e nada aqui tem rápida digestão
Sim, Death Stranding 2 se tornou mais “palatável” nesse sentido, buscando um ritmo mais harmonioso entre as entregas e a ação propriamente dita entre elas.

Imagem: Kojima Productions
Emoções de primeira linha
Cinéfilo declarado, Kojima é célebre por montar e conduzir cinemáticas de games como ninguém. Tanto que, agora, no alto de seus 60 anos, ele se diz preparado para dirigir seu primeiro filme.
Death Stranding 2 parece ser a culminação de ideias repreendidas que o criador tinha há muito tempo e talvez não havia tido a oportunidade de desenvolvê-las adequadamente.
As metáforas que esse jogo cria para se referenciar a coisas reais são poderosas para provocar reflexões sobre vida, morte e relações humanas. A mensagem, ao menos para mim, é clara: uma andorinha só não faz verão. Sozinhos, somos limitados; juntos, somos mais fortes.
Com isso em mente, saiba que Death Stranding 2 reserva alguns momentos pesados, daqueles capazes de dividir opiniões em abismos homéricos, e nada aqui tem rápida digestão. Pelo contrário: leia cada mensagem e preste atenção em cada linha de diálogo para captar e absorver tudo que o jogo tem a oferecer. Converse com outras pessoas, debata ideias, crie teorias. Talvez seja exatamente esse o desejo de Kojima – e, assim como no primeiro jogo, é o que possivelmente vai acontecer.

Imagem: Kojima Productions
Veredito
Death Stranding 2: On the Beach é impecável na intenção e na execução. Impulsionada por uma trilha sonora magistral, a caminhada de Sam Porter Bridges ganha novos rumos, companheiros inéditos e um ritmo absurdamente melhor na história e no gameplay. A jornada, do começo ao fim, ocupou 65 horas do meu tempo, feitas algumas missões secundárias, mas com muito conteúdo a ser desbravado ainda. Caçadores dos 100% podem esperar a marca da centena de horas ou mais.
É importante deixar claro que esse continua sendo um jogo focado em realizar entregas, mas os eventos que surgem durante suas travessias, sejam eles provocados pela natureza ou por outras ameaças do mundo, criam um sistema dinâmico, fluido e prazeroso dentro do que deve ser “videogame”.
O advento do Death Stranding é uma forma apocalíptica de debater temas humanos, enquanto Death Stranding 2 oferece um vislumbre ainda mais filosófico e intrínseco sobre tais temas. Vá com disposição que o jogo te devolve na mesma moeda e descubra uma obra-prima.
Analisado no PS5 Pro.
Um código de Death Stranding 2: On the Beach foi fornecido pelo PlayStation Brasil para a realização desta análise.

Death Stranding 2: On the Beah
Publisher: Sony Interactive Entertainment
Desenvolvedora: Kojima Productions
Plataformas: PS5
Lançamento: 26/06/2025
Tempo de review: 65 horas
Death Stranding 2 é melhor que o primeiro em tudo: gameplay, ritmo, mundo aberto e história. Jogue de mente aberta que o jogo te devolve na mesma moeda e descubra uma obra-prima
Prós
- Ritmo de gameplay absurdamente melhor
- Mundo aberto mais dinâmico e cheio de novas ameaças
- História arrebatadora e emocionante
- Novos mecanismos de gameplay enriquecem a experiência
- Não perdeu a essência: o principal é fazer entregas
Contras
- Morosidade ao fazer entregas ainda desanimará alguns
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