
Review: Clair Obscur Expedition 33 é uma obra-prima atemporal
Estão preparados para o novo concorrente ao GOTY? Clair Obscur Expedition 33 é muito mais do que você imagina! Confira nosso review
Imagem: Sandfall Interactive
esde que foi anunciado, Clair Obscur Expedition 33 já tinha me fisgado bastante pela sua temática, seus gráficos muito vistosos e principalmente pela maneira que parecia redefinir o que esperar de um combate por turnos. E, durante o preview, as expectativas não poderiam ficar maiores.
Entretanto, após mais de 40 horas com o jogo, o que eu me deparei ao terminar Clair Obscur Expedition 33 não faz jus às expectativas: ele é muito, muito mais do que poderia imaginar e entrega uma das melhores experiências que já encontrei em um RPG, me fisgando no enredo tocante e cativante, no RPG de turnos mais divertido que joguei e em uma das apresentações mais autorais e artísticas que já vi por aí.

Imagem: Vinícius Munhoz/Flow Games
Tudo isso e mais é apenas um pouquinho do que posso começar a dizer antes de começar essa análise. Ficou curioso? Veja o nosso review completo de Clair Obscur Expedition 33 abaixo!
Mundo e história dignos de andarem entre colossos
O ditado diz que a primeira impressão é a que fica e Clair Obscur Expedition 33 não perde tempo em fisgar nossa atenção. No universo criado pela Sandfall Interactive, o mundo entrou em colapso após a Fratura, um evento que separou a cidade de Lumiére do continente principal, e transformou a realidade.
Desde então, a Artífice, uma pintora gigante que paira no horizonte, desenha um número no monolito: ano após ano, esse número é apagado e as pessoas daquela idade morrem. Para tentar parar esse evento apocalíptico, a humanidade envia expedições para o continente sombrio.

Imagem: Sandfall Interactive
E, como o próprio nome diz, Clair Obscur Expedition 33 nos envolve na missão da expedição 33, composta por jovens de 33 anos que têm um ano para tentar impedir novamente a Gommage, o evento que apaga os humanos com a idade pintada. 67 expedições ocorreram, nenhuma foi bem-sucedida, mas todas tentam fazer algum progresso para que a próxima seja melhor.
A trama de Clair Obscur Expedition 33 é sombria, desesperadora e traz momentos aterrorizantes. E, nesse emaranhado de agonia, o jogo encontra momentos mágicos tão tocantes que me emocionaram para valer, não só de tristeza e melancolia, mas também de felicidade e magia.
Toda essa premissa garante um ar de Hell’s Paradise (Jigokuraku) ou até mesmo outras obras, como Berserk ou algo retirado de um filme do Studio Ghibli (por mais contraditório que possa parecer), com um continente hostil, quase alienígena, recheado de perigos bizarros e um sentimento ao mesmo tempo extremamente desconfortável e belo – outra obra que me passa essa sensação é o filme Aniquilação. É sobre encontrar a beleza no horror.

Imagem: Vinícius Munhoz/Flow Games
A Sandfall Interactive criou um universo riquíssimo e extremamente criativo capaz de ser um terreno fértil para desenvolver diversas ideias. E é gratificante o quão bom os resultados em tela são. Os personagens ranqueiam entre os mais cativantes que já vi em um RPG, dosando artesanalmente e com muito cuidado as relações pessoais de cada um, suas histórias, passados e motivações.
Ao longo das mais de 40 horas de campanha, eu nutri um apego emocional muito forte com todos os personagens, sem exceção. E, ao mesmo tempo que os momentos de entrosamento da equipe traziam um quentinho no coração, a atmosfera de Clair Obscur Expedition 33 sempre tem uma sombra pairando por perto para dar a sensação que ninguém, absolutamente ninguém, está seguro, e a qualquer momento tudo pode desandar.
O game tem muitos mistérios para desvendar, reviravoltas impactantes e muito mais, mas vamos evitar os spoilers aqui. E a parte boa? Tudo está legendado em português do Brasil, então sem problemas para acompanhar o roteiro espetacular.

Imagem: Vinícius Munhoz/Flow Games
Se Clair Obscur Expedition 33 fosse uma série de megaprodução da HBO, certamente caminharia entre o ranking das melhores obras que já tivemos. Há reviravoltas no enredo que ressignificam tudo que vimos e me fez querer começar imediatamente uma nova campanha para ter um novo olhar sobre todos os eventos.
Parte dessa narrativa tão rica é elevada pela atuação de dubladores de altíssimo calibre, como Charlie Cox (que interpreta o Demolidor na série da Disney+), Andy Serkis (que fez Gollum em O Senhor dos Anéis), Jennifer English (Shadow Heart de Baldur’s Gate 3), Ben Starr (Clive de Final Fantasy 16) e muitos outros talentos.
Você certamente não está preparado para as cutscenes de altíssimo nível e a quantidade avassaladora de momentos memoráveis que o enredo de Clair Obscur tem a oferecer. E, embora a história tenha um papel importantíssimo, o game passa longe de depender apenas de sua narrativa, oferecendo um combate que pode criar um novo parâmetro para RPGs.

Imagem: Vinícius Munhoz/Flow Games
O melhor combate de turno que já joguei (e ponto final)
O combate de RPGs de turno é icônico e, mesmo em 2025, ainda atende uma parcela de fãs apaixonados, mas é inegável que também afasta uma parcela de jogadores com aversão ao sistema. Mas e se a jogabilidade não precisasse escolher entre um e outro? Clair Obscur Expedition 33 emerge com uma proposta ousada, cativante e que pode redefinir o gênero daqui para frente.
Clair Obscur Expedition 33 adota uma alternativa muito, mas muito interessante e divertida nesse sistema tão engessado. Se eu tivesse que tentar resumir como ele é, seria um misto entre um JRPG tradicional e Sekiro. Toda luta do começo ao fim de sua aventura requer muita atenção, pois não se trata apenas de navegar por menus e inserir comandos.

Imagem: Sandfall Interactive
Você pode realizar parries, esquivas, pulos, contra-ataques e muito mais para cada ataque adversário. O nível de habilidade importa tanto que, se você quiser, até mesmo chefões opcionais MUITO acima do seu nível de personagem podem ser derrotados.
Todo ataque normal pode ser aparado, mas há golpes especiais que requerem uma esquiva ou até que os personagens saltem (e você pode realizar um contra-ataque aéreo). É muito, mas muito divertido analisar o padrão de ataque dos adversários e reagir para tentar mitigar o dano – assim como realizar comandos para magias, usar armas de longo alcance e muito mais. Você precisa estar atento para jogar e isso é ótimo.
A minha maior preocupação pairava em dois fatores: as mecânicas cansarem rapidamente e a variedade de inimigos ser baixa, causando uma repetição monótona. Felizmente, nenhum desses casos aconteceram. Clair Obscur Expedition 33 possui criaturas diferente para cada mapa, sendo que elas possuem ataques substancialmente diferentes uma das outras, e mecânicas novas (mecânicas, veja bem, não skills) até mesmo na parte final da aventura.

Imagem: Vinícius Munhoz/Flow Games
Somado a tudo isso, cada um dos 6 personagens jogáveis apresenta maneiras completamente diferentes de gameplay (algo próximo a Final Fantasy 10), tornando cada momento da experiência um deleite para quem gosta de jogos focados em gameplay.
E, embora haja equipamentos aos montes, eles não são meros loots. Cada “picto” traz atributos excelentes, mas habilidades ainda mais impactantes. É realmente difícil decidir qual usar, mas por sorte Clair Obscur Expedition 33 tem o sistema de “Lumina”, que permite que habilidades de pictos já dominados possam ser equipados com um sistema de pontuação.

Imagem: Vinícius Munhoz/Flow Games
Até as armas têm papeis essenciais, trazendo habilidades extras (incluindo turnos extras para ataques básicos ou turnos novos), aprimoramentos que impactam bastante o gameplay e muito mais. O combo aqui é realmente muito completo.
Posso parecer repetitivo, mas o sistema de combate de Clair Obscur Expedition 33 realmente me conquistou com força. A luta contra Sirène foi uma das batalhas contra chefes mais épicas que já vi em um RPG e não falo isso de maneira leviana. É inacreditável o quanto a equipe soube misturar uma experiência focada em jogabilidade com elementos cinematográficos.

Imagem: Vinícius Munhoz/Flow Games
Se há um ponto de melhoria que eu gostaria de ter visto em Clair Obscur Expedition 33 é alguma forma de nivelamento automático. Veja, por oferecer um combate tão vistoso e divertido, é extremamente gratificante ir atrás de desafios maiores e opcionais, mas isso o tornará bem forte em eventos obrigatórios da campanha.
Em certas batalhas contra chefões da história principal, eu estava tão forte que mal houve turnos suficientes para apreciar diálogos da história. Seria interessante ter algum sistema de balanceamento para que essas batalhas mais impactantes tenham seu devido peso.

Imagem: Sandfall Interactive
Uma tonelada de conteúdo: é mesmo um jogo AA?
E, por falar em conteúdo extra, Clair Obscur Expedition 33 reserva uma boa dose de atividades paralelas. Há diversos caminhos alternativos em cada cenário, sempre com alguma recompensa. Muitas vezes, são pontos de Lumina, outras são pictos novos e impactantes, enquanto em outros momentos são diários de expedições passadas.
Como houve 67 expedições anteriores à atual, é enriquecedor conhecer mais sobre esse universo. E, como os pictos são importantes para o gameplay, tanto faz o que você encontrar: é sempre algo valioso, seja na perspectiva de jogabilidade ou de história.

Imagem: Vinícius Munhoz/Flow Games
Conforme avançamos na história de Clair Obscur Expedition 33, Esquie, um dos companheiros e também a “montaria”, ganha poderes novos que permitem explorar ainda mais locais secundários. É delicioso se aventurar pelo antigo continente e desbravar novidades.
E, assim como na seção de combate, a exploração e progressão de elementos opcionais está sempre recebendo novidades. Há até mesmo uma mecânica de aumentar relacionamentos entre os membros da equipe, algo similar a Persona, que traz ainda mais doses incríveis da história do game.
É quase inacreditável que um jogo desse escopo seja um AA, ofertado por um valor abaixo que muitas superproduções que deixaram a desejar no passado. A mera existência de Clair Obscur Expedition 33 é um tapa na cara da indústria atual e dá um show em comparação com outros games de altíssimo orçamento que custam US$ 70 – já Clair é vendido por R$ 200 e ainda estará no Game Pass.

Imagem: Vinícius Munhoz/Flow Games
Porém, para não dizer que tudo é perfeito por aqui, há alguns raros momentos que exigem desafios de plataforma, como pular e escalar locais, e a jogabilidade de Clair Obscur Expedition 33 não é exatamente a melhor do mundo nesse aspecto, tornando a exploração meio truncada. Por sorte, não é um problema recorrente.
Além disso, certos locais podem ser bem vastos (o que é bom), mas carecem de um mapa para guiar o jogador. Às vezes, acabei progredindo na história sem querer, deixando para trás uma exploração que não gostaria de ter perdido. Nessas horas, ter um mapa, mesmo que simples, ajudaria.
Por mais que eu tenha comentado sobre como Clair Obscur Expedition 33 é um jogo AA que ganha de lavada de certos títulos AAA da indústria atual, há certos momentos que o escopo do jogo fica um pouco mais aparente. No endgame, estava ansioso para explorar outras localidades, mas algumas delas decepcionaram um pouco.

Imagem: Vinícius Munhoz/Flow Games
Por fim, algumas quests opcionais e atividades paralelas também são difíceis de rastrear no conteúdo de endgame: ter um quadro de missões ou algo do tipo ajudaria demais, especialmente para relembrar onde estão os Nevrons benevolentes e colecionáveis que ficaram de fora.
Para deixar claro, é achar pelo em ovo. A grande maioria dos cenários opcionais desbloqueados no endgame são tão bons quanto quaisquer outros, mas há alguns pontos que não passam de uma única “sala” para ganhar um colecionável de música.
Um espetáculo audiovisual e artístico em absolutamente tudo
Onde quer que coloquemos nossa atenção em Clair Obscur Expedition 33, ele exala um trabalho autoral. E, por ser a mais fácil e óbvia, sua direção de arte se destaca bastante nesse parâmetro. Olhar para qualquer canto da tela durante a campanha é esperar algo soberbo.
Há alguns problemas pequenos de pop-in e o jogo é um pouco pesado (joguei no PC com uma RTX 5080 e tudo foi tranquilo, mas soube que no PS5 há quedas de performance), mas a apresentação visual é tão boa que atropela qualquer aresta para ser aparada.

Imagem: Vinícius Munhoz/Flow Games
Os cenários de Clair Obscur Expedition 33 sempre trouxeram surpresas atrás de surpresas, variedade e ideias bem criativas. O mapa-mundi para se locomover é lindíssimo, inspirado na Art Déco da era Belle Époque da França (na verdade, boa parte do jogo também), os efeitos gráficos são muito vistosos e por aí vai.
E, só para não ficar de escanteio (mesmo que quase seja uma nota de rodapé), eu amei, mas amei muito, a trilha sonora de Clair Obscur Expedition 33. Toda melodia, toda faixa, todo trecho musical são fantásticos, casando-se muito bem com a estética e o clima.
As faixas musicais talvez elevem a experiência tanto quanto a apresentação visual, faz parte da alma do jogo. Clair Obscur Expedition 33 é confeccionado à mão e traz autoralidade em cada canto.

Imagem: Vinícius Munhoz/Flow Games
Clair Obscur Expedition 33 vale a pena?
Clair Obscur Expedition 33 tinha me chamado a atenção, só não esperava que teria meu coração ao término da campanha com mais de 40 horas. Ponderei por muito tempo a nota que ele merece e confesso que ainda a decisão ainda foi difícil.
Por tudo que o jogo entrega e surpreende, Clair Obscur Expedition 33 poderia facilmente ser um nota 10 com sua trama imbatível, seu sistema de combate extremamente divertido e apresentação de altíssimo calibre, mas sinto que há pequenas coisas que poderiam ser um pouco melhores. Por mais que haja motivos de sobra para uma nota máxima, ainda é possível observar raríssimas vezes alguns trincos que revelam seu escopo um pouco menor.

Imagem: Sandfall Interactive
É picuinha, mas é até difícil achar defeitos por aqui. A experiência confeccionada pela Sandfall Interactive não apenas será uma das grandes surpresas de 2025, mas também espero que seja um marco no gênero de RPG. Não é todo dia que vemos um RPG dessa qualidade chegar e muito menos uma obra-prima, já atemporal, surgir.
Clair Obscur Expedition 33 mostra que há espaço de sobra para entregar games de qualidade gigantesca sem cobrar muito. E vale o lembrete: ele chega já no lançamento no Game Pass.
Clair Obscur Expedition 33 foi gentilmente cedido pela Sandfall Interactive para a realização desta análise.

Clair Obscur Expedition 33
Publisher: Kepler Interactive
Desenvolvedora: Sandfall Interactive
Plataformas: PC, PS5 e Xbox Series X|S
Lançamento: 24/04/2025
Tempo de review: 40 horas
Clair Obscur Expedition 33 vai marcar a história dos RPGs de turno, seja por seu combate inovador, sua trama impecável ou sua apresentação de outro mundo.
Prós
- História soberba, pesada e cheia de reviravoltas
- Personagens cativantes e atuação de altíssimo calibre
- Um dos (se não O) melhores combates de RPG por turnos
- Novidades da história e gameplay mantém ritmo impecável
- Toneladas de conteúdo opcional para aproveitar
- Apresentação visual e trilha sonora soberbas
Contras
- A navegação e plataforma são fracas em certos pontos
- Quests principais poderiam ter um nivelamento melhor
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