Review: One Piece é tão bom que nem a Netflix consegue estragar!
Tinha tudo para ser uma bomba, mas o live action de One Piece faz o impossível e até que diverte bastante!
m um dos painéis mais incríveis da impecável saga de Water 7, uma das melhores de One Piece e dos mangás em geral, o grande herói Sogeking surge diante de uma devastada Nico Robin e proclama algumas das palavras mais poderosas da obra: "Confie no Luffy".
O momento acabou inspirando um meme legal que volta e meia acaba se mostrando bastante necessário. Não importa o quão estranha uma reviravolta pareça, o quão bizarramente um arco se desenvolva, ou o quão improvável seja a qualidade do live action. Lembre:
One Piece é uma das grandes surpresas de 2023!
Por mais que a onda de negatividade que assola as redes sociais seja extremamente cansativa, no caso do live action de One Piece da Netflix até tínhamos motivos legítimos para temer pela qualidade do projeto.
Afinal, pouquíssimo tempo atrás a produtora decepcionou muita gente com a sua releitura de Cowboy Bebop. E quanto mais voltarmos no tempo, pior fica a situação para o serviço de streaming, que parece encontrar dificuldades para renovar as suas séries ultimamente.
O ceticismo, então, era muito menos sobre a competência dos atores, escritores, diretores e produtores envolvidos no projeto, e mais direcionado ao modelo de produção de conteúdo da Netflix. Mas a boa notícia, como você já viu no título, é que One Piece deu certo!
Como já citamos por aqui no site, Eiichiro Oda, o mangaká criador, desenhista e responsável maior pelo universo de One Piece, envolveu-se ativamente na produção e escolha de elenco, fazendo até algumas exigências para a Netflix a fim de garantir a sua qualidade.
O próprio Oda por muito tempo teve medo de adaptar a história com atores reais, e esperou por anos até que os efeitos visuais chegassem a um nível adequado para as gravações. Vendo a série em ação, sem dúvidas o seu lançamento veio em um momento perfeito.
O One Piece é real!
Ao longo de oito episódios de aproximadamente uma hora cada podemos testemunhar quase que a totalidade da saga de East Blue, salvo algumas letras miúdas e decisões narrativas que antecipam e adiam certos pontos-chave da narrativa.
Embora pareça pouco tempo — e, de muitas formas, é mesmo —, vale lembrar que a versão anime já conseguiu resumir todos os arcos de East Blue em um só especial de 01:47h, disponível para streaming no Crunchyroll, então essa missão de síntese nunca foi impossível.
Relembro isso porque se o seu objetivo for assistir ao live action apenas como uma forma de dar um pontapé inicial na obra e consumir a sua saga inicial em menos tempo do que levaria lendo o mangá ou assistindo ao anime, o longa animado cumpre bem melhor esse papel.
O live action, ainda que não contradiga (muito) a obra original, oferece um tipo diferente de entretenimento, me parecendo mais recomendado para alguém que jamais encostaria em One Piece em outras mídias por algum preconceito com os formatos.
Erros e acertos do live action
É difícil olhar para o elenco da série de One Piece e pensar em alguma pessoa que possa ter sido má escalada ou tenha interpretado aquém do esperado. Dos heróis aos coadjuvantes, todo mundo parece ter comprado a visão do Oda e acreditado no projeto.
É um detalhe que parece pequeno, mas que faz toda a diferença: com as plateias tendo a sua suspensão de descrença cada vez mais sensível, ver o imponente ator Vincent Regan vestir com toda a seriedade a sua toquinha de cachorro como vice-almirante Garp importa demais!
Não há piadinhas quebrando a quarta parede, depreciando a obra ou apontando o absurdo das coisas. Pelo contrário, não importa o quão bobo fique tudo, os atores e direção tornam o mundo crível e levam com naturalidade os eventos, ajudando o universo a clicar.
Muito elogiado — até pelo próprio Oda —, Iñaki Godoy dá vida ao Luffy com carisma e simpatia, e olha que ele não é sequer o Mugiwara que mais brilha na tela! As escalações de Emily Rudd (Nami), Taz Skylar (Sanji) e Jacob Gibson (Usopp) acertam tanto ou mais!
O casting de One Piece é absolutamente impecável tanto nos papéis principais como nos secundários.
Entre os coadjuvantes, é impossível não destacar o trabalho brilhante de Aidan Scott (Helmeppo) e Morgan Davies (Koby), ainda que quem mais roube a cena seja o Buggy de Jeff Ward. Diria até que o seu arco ficou melhor que o da obra original!
Mas… talvez só o dele mesmo. Os arcos de Arlong Park e da Vila Syrup, especialmente, sofrem muito com decisões criativas que acabam tirando quase todo o seu peso dramático e, por pouco, até flertam com o risco de estragar os personagens.
Sem entrar em spoilers, um sentimento constante é o de que a série não tem interesse em trabalhar nas comunidades locais, nas suas vidas, dificuldades e relacionamentos com o bando, o que machuca tanto o world building primoroso da obra original como o drama.
No mangá e anime, toda vez que um arco se encerra bate aquele sentimento de nostalgia; um certo peso; um misto entre a tristeza da despedida e o romantismo de içar velas e embarcar de forma agridoce para mais uma aventura deixando o passado para trás.
Na série, o sentimento é de que as pessoas estão apenas batendo o ponto e constantemente indo de um lado para o outro. Um problema acentuando pelo fato de que certos temas e personagens que só deveriam surgir bem depois foram adaptados para aparecer antes da hora.
O próprio foco no Garp e Koby é um bom exemplo. Por mais que sejam ótimos atores, perde-se muito quando o Luffy e Koby, ao invés de ficarem meses ou até anos sem se ver, basicamente se esbarram a cada nova ilha. Isso tira o peso e propósito de suas despedidas.
Custava explorar os cozinheiros do Baratie e mostrar o quanto eles importam para o Sanji? Mostrar o drama do cachorrinho Chouchou, vítima da destruição do Buggy? São pequenas coisas que, com o passar do tempo, causam dano em bola de neve e atenuam a emoção.
We Are!
Mesmo com essa montanha russa de decisões maravilhosas intercaladas com escolhas questionáveis, nem por um segundo o One Piece da Netflix deixa de ter cara de One Piece. O que diz muito sobre o poder da narrativa do Oda, inclusive.
Mesmo em um formato totalmente novo e passando por mudanças drásticas, os personagens são tão bons e carismáticos, os seus temas são tão pertinentes, que você não consegue não ser fisgado. Agora eu até já acredito que podemos ter mais temporadas pela frente!
Confie no Oda!
One Piece: A Série
Publisher: Netflix
Desenvolvedora: Netflix
Plataformas: Streaming
Lançamento: 31/08/2023
Tempo de review: 8 horas
One Piece funciona na Netflix porque, apesar de alguns tropeços, o elenco afiado e toda a produção conseguem enxergar e preservar o coração da obra do Eiichiro Oda.
Prós
- Todo o elenco foi muito bem escolhido
- Consegue manter boa parte da essência de One Piece
- Boa mistura de ação e comédia
- Algumas adaptações até melhoram o original!
Contras
- ...mas muitas outras adaptações deram bastante errado
- Bem rushado no geral
- Impacto emocional reduzido em relação às outras mídias
- Faltou explorar mais o povo e comunidades de cada arco
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