Preview: Metaphor Refantazio é material de GOTY
Jogamos várias horas de Metaphor ReFantazio e vem aí mais uma mitada da Atlus
um feliz episódio de sincronicidade da vida, enquanto eu voava para Nova York a convite da SEGA para jogar um pouco de Metaphor ReFantazio, durante o percurso decidi rever trechos de um dos meus filmes favoritos, Sociedade dos Poetas Mortos.
Não importa o que os outros te digam, palavras e ideias podem mudar o mundo.”
Era isso que ensinava o professor John Keating, magistralmente interpretado pelo saudoso Robin Williams, em mais uma dentre as várias citações que me marcaram no longa.
Horas depois eu estaria no sul de Manhattan, dentro da deslumbrante sinagoga Angel Orensanz Foundation, onde a Atlus preparou dezenas de estações de teste para mostrar para imprensa e criadores de todo o mundo a sua mais nova história.
A leitura é, provavelmente, uma outra maneira de estar em um lugar (José Saramago)
Em Metaphor ReFantazio mergulhamos em um reino tomado por injustiça, desigualdade social e racismo, problemas que parecem distantes das preocupações dos conspiradores da elite, sedentos por poder e mais do que dispostos a sujar as suas mãos de sangue para tanto.
É nesse contexto que conhecemos nosso protagonista, um jovem que leva sempre consigo um livro escrito pelo enigmático autor More. Nele, é retratada uma utopia onde as pessoas convivem em harmonia e igualdade. “É estranho sentir inveja de um mundo fictício”, admite a nossa companheira Gallica ao folhear algumas páginas da história ainda no comecinho da campanha.
Eu não sei você, mas eu pelo menos achei interessante — e um tanto metalinguístico — ver um jogo dando tanto peso ao valor das histórias, das ideias e da ficção como força motriz para nos ajudar a sonhar e provocar mudanças no mundo. Assim, em menos de meia hora eu já estava fisgado pela narrativa de Metaphor ReFantazio.
Ler mudou, muda, e continuará mudando o mundo (Virginia Woolf)
Feito por um verdadeiro Dream Team da Atlus (com direção e produção de Katsura Hashino, arte de Shigenori Soejima, e músicas de Shoji Meguro), Metaphor ReFantazio traz muitos elementos de séries populares como Persona e Shin Megami Tensei, mas evita ser por demais derivativo, transbordando identidade própria e sacadas únicas que o ajudam a se distanciar o suficiente das outras franquias da casa.
É claro que ajuda gostar dos outros jogos do estúdio, já que você vai encontrar um ou outro sistema familiar aqui e ali (desde os nomes das magias até a evolução de atributos sociais), mas de forma alguma isso é um pré-requisito para encarar Metaphor ReFantazio. Até porque desta vez a estética é de alta fantasia misturada com steam punk, e o ritmo da ação é bem mais agitado, com os combates por turno dividindo espaço com lutas em tempo real, o que dá uma grato sopro de ar fresco na fórmula dos JRPGs.
Em jogos recentes como Persona 3 Reload e Shin Megami Tensei V Vengeance você já podia dar golpes nos inimigos enquanto explorava os cenários, mas Metaphor ReFantazio vai mais longe: agora você tem uma espécie de “visão detetive” (aqui chamada de Visão Feerica e ativada com LT/L2), conseguindo de antemão ver se os rivais são mais fortes ou mais fracos que você. Ao acertar os mais fracos, dá até para resolver tudo com espadadas em tempo real, sem precisar sequer entrar nas lutas por turno.
Se você engajar com eles apertando Y/triângulo, ativará o combate tático por turnos. Já batendo com o X/quadrado, pode seguir na ofensiva seguidamente, drenar o medidor de guarda dos inimigos, e até atordoá-los, o que garante que os membros do seu time farão o ataque inicial na fase por turnos. Depois disso, mais ou menos como em SMT, usar uma ação consome um ícone do medidor no canto superior da tela, e tanto o nível customizável de dificuldade como a efetividade dos seus movimentos ditam os turnos, com os inimigos ganhando rodadas extra no modo mais difícil, que foi o que eu escolhi para a demo.
Ao subir de nível, é permitido distribuir os pontos entre atributos de força (dano físico), magia (ataque mágico), resistência (redução de dano sofrido), agilidade (aumento de evasão e taxa de acerto) e sorte (melhor aquisição de itens), novamente pegando um pouquinho emprestado de SMT. Eu achei o combate muito prazeroso e viciante, então intercalar entre a ação e exploração foi sempre muito bom e imagino que não deva cansar tão cedo.
Aliás, se você estiver meio perdido pelos cenários mais abertos que o habitual, basta apertar Y/triângulo para pedir ajudar para a fadinha Gallica, ou RB/R1 para abrir o mapa. O mapa-múndi é lindíssimo e parece feito em tecido, mais uma linda escolha estética entre as toneladas de boas decisões visuais do jogo, que englobam desde os menus até as texturas e modelos de personagens. O reino de Euchronia figura entre os mais belos locais que eu já vi nos videogames, e foi deslumbrante passear desde a capital real de Grand Trad até o forte na fronteira norte.
Quem gosta de ler não morre só (Ariano Suassuna)
Finda a primeira sessão de gameplay, que tinha um ritmo mais linear e surpreendentemente urgente (sanando, assim, a lentidão que costuma imperar nas primeiras horas dos Persona da vida), o pessoal da Atlus nos colocou para jogar outro trecho situado cerca de 9 horas adiante na campanha, com o nosso protagonista já acompanhado por uma equipe bem eclética na cidade de Martira.
Ali, tínhamos um montão de coisas para fazer e a graça era justamente o fato de que era impossível fazer de tudo no nosso tempo limitado de teste. Apesar de me sentir um pouco sobrecarregado pelo excesso de opções sendo disponibilizados de uma só vez, isso foi profundamente instigante. Até porque em Metaphor ReFantazio também temos um calendário interno e um número limitado de atividades que podem ser feitas a cada dia. É coisa demais para fazer e muita gente para conhecer, e vou te contar, me amarrei nisso.
A primeira coisa que eu fiz foi conversar com uma NPC que estava por perto no bar onde começamos, e ao escolher ouvir a sua história ganhei pontos de imaginação, o que me fez aprender que temos vários traços aprimoráveis de personalidade: Coragem, sabedoria, tolerância, eloquência e imaginação. Tal qual Persona, certas interações só são viabilizadas ao subir o nível de determinados traços.
Em outro canto, o informante Falcone estava disposto a nos oferecer valiosos detalhes sobre missões, sistemas e mecânicas de gameplay, (tudo isso em troca de dinheiro, é claro), enquanto outros habitantes da cidade vendiam ingredientes de culinária ou mesmo uma previsão do tempo, já que o clima também impacta a dinâmica das viagens e fases. Até sentar no banco para ver a vista serviu para algo e, além do tempo passar, ganhamos um pouquinho de sabedoria. Em outra escolha bem menos sábia, paguei 250 moedas para pular de um penhasco preso em uma corda, o que ao menos rendeu pontos de coragem.
De grandes a pequenas missões, tinha de tudo. Um camarada nos pediu para recolher um kit de ovos de pombo correio na nova área de Komero, que ficou marcada no mapa, enquanto uma seguidora chamada Maria sofria com bullying e tirava conforto de nossas histórias e viagens. Conversar com ela subiu o nosso nível de vínculo, o que por sua vez gerou a habilidade aspecto do curandeiro, reduzindo o custo de magia. Ou seja, me pareceu que esses seguidores são quase como uma espécie de social links do Metaphor ReFantazio, e avançar a sua história ainda nos rende benefícios legais.
Há oficinas para comprar armas e identificar itens, lojas de armaduras, e até um placar de popularidade na Pedra do Rei. Lá, você pode conferir como anda a fé do povo. Quanto maior ela for, mais magia você ganha diariamente, então é bom ajudar as pessoas e cumprir os seus pedidos para ganhar ainda mais fé. Por lá, também consegui debater com um candidato, o que valeu pontos de eloquência. Parece que em todo canto há chance de ganhar ou aprender alguma coisa.
Outra missão me lembrou uma espécie de Tártaro/Mementos, com andares sequenciados oferecendo muita ação e exploração na medida em que o nosso grupo tentava alcançar o misterioso Morris. E entre um desafio e outro, relaxando em uma mesinha ao lado dos nossos aliados Strohl, Heismay e Hulkenberg, foi quando caiu a minha ficha e notei o quanto já estava afeiçoado àqueles personagens, mesmo tendo convivido tão pouco com eles.
Foi uma tarde inteira jogando Metaphor ReFantazio, mas eu tenho certeza que essas horas foram apenas o teaser de mais um grande épico da Atlus.
Testá-lo foi como começar a ler uma saga literária: cá estou eu contando os dias para o lançamento do próximo capítulo e ansioso para poder retornar a esse mundo mágico, encantador e cativante, ciente de que levarei as suas histórias no coração para sempre. Eu acredito no poder da ficção, eu acredito em Metaphor ReFantazio, e você devia acreditar também.
Metaphor ReFantazio será lançado em 11 de outubro de 2024, com versões para PC, PS5, PS4 e Xbox Series X/S. Você também está ansioso para jogar Metaphor ReFantazio? Conte para a gente nos comentários a seguir!
Comentários
Excelente matéria. Ansioso pelo lançamento do jogo.
Olha, essa materia ficou muito boa!
Mesmo gostando de Persona, tinha desconhecimento deste game, já adicionei a wishlist!
Abs!
Faz tempo que não leio uma matéria sobre games tão boa. Sensacional! O redator tá de parabéns!
Já fiz pré compra do jogo, porque sou muito fã das obras da Atlus,e o que foi apresentado aqui me deixou ainda mais hypado!
Ansioso para o lançamento, muito provavelmente irei pegar na pré venda