Gotham Knights sai da coleira do Batman, mas ainda busca seu caminho
À sombra de Batman, experiência traz grandes ideias e transfere protagonismo a outros personagens, mas ainda busca seu caminho
xplorar uma realidade em que a emblemática cidade de Gotham não tem Batman como capacho noturno das ruas não é tarefa fácil para nenhuma mídia de entretenimento, embora, nos quadrinhos, possamos ver algumas reproduções bem-sucedidas nesse sentido. Gotham Knights assumiu a árdua missão de mostrar uma história em que o protagonista está morto e quatro cavaleiros foram designados para dar continuidade ao legado do Morcego na vigilância do crime.
Concebida pela WB Games Montréal, estúdio que assina Arkham Origins (que é, sim, um belo jogo da saga Arkham), a experiência oferece um mundo aberto que pode ser desbravado solo ou cooperativamente, funcionando democraticamente bem nas duas opções – e com direito a um componente multiplayer mais profundo nas incursões.
O problema, aqui, foi assumir o distintivo que outrora pertencia ao Cavaleiro das Trevas, uma responsabilidade que carrega, por si só, o fardo de estar à sombra de Batman, independente da qualidade do produto. Ocorre que, aqui, essa qualidade derrapa em pilares fundamentais do mundo aberto e, ainda que chegue ao desfiladeiro, consegue, por pouco, se segurar para não cair.
Os Gotham Knights e a dança da motinha
À primeira vista, o combate e seus malabarismos coreografados agradam pela simplicidade com que os movimentos são executados. Você tem quatro justiceiros alternáveis a qualquer momento no “quartel”: Batgirl (Barbara Gordon), Asa Noturna (Dick Grayson), Robin (Tim Drake) e Capuz Vermelho (Jason Todd). O bom e velho “esmagamento de botões” pode ser resumido a UM único comando – quadrado no PlayStation e X no Xbox –, com pitadas de desvios, tiros e…só. Não há defesa, aliás.
O mecanismo para revidar golpes se apoia exclusivamente na rolagem, a qual, sincronizada com os socos e chutes, até cria uma dança interessante e vistosa de se olhar. Sem precisar de qualquer técnica apurada no controle, basta pressionar esses dois ou três comandos para que a mágica aconteça e as acrobacias se desenrolem automaticamente.
Aliada à moto que você usa para se deslocar pela cidade, essa dança se converte nos momentos mais divertidos de Gotham Knights – e, consequentemente, nos mais repetitivos também. O encanto dura ali suas três ou quatro horas até cair na mais absoluta mesmice, em que seus afazeres se limitam a encontrar numerosas gangues e descer o sopapo nelas, sem objetivos que encantem, que tenham riqueza na escrita dos diálogos ou surpresas que rendam o tempo gasto.
É como um caminho linear, reto, sem muitas ramificações ou esforços que prendam o jogador pela diversidade de coisas – e sim pela repetição do que foi apresentado. Pelo menos algumas armaduras valem a ostentação.
Armaduras com muito verniz
Visualmente falando, Gotham Knights resguarda aquele semblante “acolhedor” ao fã da DC e dos personagens desse universo: paleta cinza, granulada, intimidadora, convidativa a uma decadente Gotham, invadida por malfeitores que se sentiram à vontade após a queda de Batman. Esse cartão-postal, do qual tanto carecemos após a saga Arkham, mantém seu selo de qualidade.
O mesmo vale para as armaduras, envernizadas de forma a dar um sentimento positivo de “ostentação” ao jogador, que certamente vai gostar de customizar cada detalhe do traje dos heróis. Sim, o visual de Gotham Knights é bonito, com armaduras brilhantemente desenhadas, iluminação natural e animações convincentes, numa apresentação geral bastante cinematográfica.
Sem 60fps nos consoles
Num tecnológico 2022, em que a otimização de softwares para os hardwares atuais não sai da pauta, ver Gotham Knights limitado a rodar em 30 quadros por segundo tem um sabor, no mínimo, amargo. Isso porque o título foi lançado apenas na atual geração (PS5 e Xbox Series X|S), embora tenha sido originalmente anunciado para PS4 e Xbox One também. Era de se esperar que, com o cancelamento nos aparelhos que antecedem os novos, houvesse um refinamento técnico que respondesse em resolução e performance.
Conforme supracitado, sim, existe beleza gráfica nos confins da Gotham retratada aqui, mas não há qualquer customização de qualidade/desempenho que dê alguma flexibilidade ao jogador, como a esmagadora maioria dos games fazem – sacrificar visual ou performance não é um problema. A questão reside na ausência de qualquer opção nesse sentido.
Só o PC se salva com os 60fps, mas os consolistas – inclusive este que vos escreve – ficaram desamparados. E sim, historicamente todos nós consumimos inúmeros jogos a 30fps em nossas vidas e podemos nos reacostumar rapidamente a essa taxa de quadros, no entanto, olhando o mercado tal como está, ficar limitado a essa alternativa em consoles como PS5 e Xbox Series X|S é um pouco indigesto.
Resumo da ópera
A customização à la RPG, a história e os trechos de combate têm seus lampejos, mas Gotham Knights, como uma faca de dois gumes, sofre e se apoia num mesmo ponto: a ausência de Batman. Se por um lado (o positivo) o jogo ressignifica o enredo e a presença de outros personagens, por outro (o negativo) ele sofre exatamente por esses motivos.
Até mesmo arcos narrativos intrigantes dos quadrinhos, como a aguardada Corte das Corujas, não foram explorados com a inteligência que poderiam ter recebido aqui. As consequências do que aconteceu com Bruce Wayne são uma série de crimes rasos – ainda que Alfred tente resgatar, em seus diálogos, a importância disso –, mas isso poderia ser traduzido em objetivos mais interessantes para o jogador resolver do que só entrar, bater em todo mundo e coletar algum item ou interrogar alguém, que te envia para outro alguém e assim sucessivamente, no melhor estilo “a princesa está em outro castelo”.
Ainda que se apoie em boas ideias, Gotham Knights precisa de atualizações técnicas e, sobretudo, pode aceitar a ajuda de uma mão estendida em forma de expansões de história ou updates (gratuitos) que tragam conteúdos dinâmicos, até porque, convenhamos, o fim de ano está disputado. Do jeito que está, o jogo caminhou ao desfiladeiro, olhou para baixo, mas ainda não caiu. Há tempo, qualidade e competência para a salvação.
Gotham Knights
Publisher: Warner Bros. Interactive Entertainment
Desenvolvedora: WB Games Montréal
Plataformas: PS5, Xbox Series X|S e PC
Lançamento: 21/10/2022
Tempo de review: 25 horas
Gotham Knights tem ponto positivo no mesmo lugar do negativo: a ausência de Batman. Outros personagens buscam seu lugar numa conhecida estrutura de missões. Passa de ano de raspão.
Prós
- O clima decadente de Gotham está visualmente bacana
- Armaduras brilhantes, customizáveis e robustas
- Dança e coreografia vistosos no combate
Contras
- Cai rapidamente em repetitiva estrutura de missões
- História deixa de aproveitar melhor arcos importantes
- Não passa dos 30fps nos consoles
- Sem customização gráfica/performance em consoles
Comentários
Equipe Flowgames está de parabéns, vou aproveitar esse final de semana pra assistir a série de gameplays de Gotham knights.
Pra mim esse jogo é uma oportunidade perdida, sou muito fã da batfamilia principalmente do asa noturna, imagina o potencial se o jogo fosse bem feito, uma historia boa e uma gameplay mais parecida com o arkham me interessaria mais do que o que foi entregue, não vou jogar pra não gastar o meu tempo com um jogo vazio e generico