Alan Wake 2 deve fechar 2023 com chave de ouro [preview]
Nós já podemos falar de Alan Wake 2 e, apesar de ainda não ser um review, você pode conferir nossas primeiras impressões!
oje marca a queda de embargo para análise de Alan Wake 2 e, apesar de algumas análises já começarem a aparecer, o envio do jogo foi muito próximo à data e o Flow Games ainda não conseguiu destrinchar todos os elementos do game para trazer um review completo, mas já temos algumas primeiras impressões para compartilhar.
Alan Wake 2 é um jogo curioso: sequência de um título que se tornou cult ao longo dos anos e com um grande cliffhanger que nunca se pagou. Ao menos não verdadeiramente, já que em 2019 a Remedy decidiu apimentar as coisas e envolver Control em um universo conectado que, para mim, é uma das melhores experiências narrativas em games do momento.
Por enquanto pudemos experimentar cerca de 10 horas da campanha de Alan e Saga Anderson, um tempo já considerável perto da jornada de cerca de 20 horas (que, segundo a Remedy, não leva em consideração a busca por colecionáveis e o tempo pode ser bem maior).
Apesar de não ser possível dar um veredito neste momento, confira abaixo nosso parecer prévio da trama inédita do escritor mais famoso do games!
Campanha dupla beneficia a narrativa
Esta análise em progresso não contém spoilers.
Nos pegando de surpresa, Alan Wake 2 não é exatamente um jogo sobre Alan, já que dessa vez há uma segunda protagonista para temperar os mistérios de Bright Falls e a conexão com o escritor, que segue preso no Lugar Sombrio desde o fim do primeiro jogo.
Diferentemente do que vemos em Resident Evil e outros games do gênero que oferecem múltiplos protagonistas, o novo game da Remedy não tenta emular a mesma estrutura de jogo de forma idêntica entre as “duas campanhas”.
Alan Wake, ainda no Lugar Sombrio, tem mecânicas sobrenaturais e que alteram eventos da história que está escrevendo para escapar, como a luz capaz de modificar o cenário e as palavras-chave de seu manuscrito que mudam drasticamente algumas cenas, tudo de forma instantânea e bem interessante.
Em uma única área, por exemplo, Alan pode imaginar que um crime aconteceu e tudo virou uma cena de crime com o layout A; mas ele pode trocar a qualquer momento para uma palavra-chave diferente, como cultistas atacando o local, o que muda drasticamente para o layout B. Algumas áreas chegam a ter 3 a 4 palavras distintas e isso é essencial na progressão de Alan Wake 2.
A campanha de Wake certamente apresenta mecânicas realmente inteligentes e extremamente polidas que trazem um certo grau de inovação e, principalmente, um frescor de novas ideias para o gênero.
Do outro lado, Saga Anderson e seu parceiro Alex Casey (detetive homônimo ao investigador e personagem dos livros de Alan) partem em busca de mortes misteriosas de um culto em Bright Falls, mesma cidade dos eventos do primeiro título, para entender como os novos crimes se conectam aos eventos que ocorreram 13 anos atrás.
Contudo, Saga tem uma perspectiva completamente diferente em Alan Wake 2: em vez de sobreviver em um pesadelo infernal, a protagonista explora diversos cantos da cidadezinha interiorana dos Estados Unidos em um clima muito mais lento, com mecânicas investigativas bem interessantes: é necessário encontrar evidências de diversos casos abertos para progredir.
Apesar de ambos estarem seguindo caminhos distintos, o enredo afunila em uma única coisa: eventos que estão ocorrendo, de alguma forma, de acordo com páginas escritas por Alan no Lugar Sombrio para tentar escapar. Os personagens movem a história ou o livro cria os personagens?
É possível alternar entre os dois protagonistas e, por enquanto, ainda não está claro para mim se optar mais por um do que por outro pode ter consequências nessas histórias paralelas. Entretanto, a produtora já anunciou que o título terá um New Game+ que, inclusive, traz um enredo alternativo (estou bastante curioso para ver isso).
Esse limiar entre o que é real e o que é ilusão permeia bastante todos os elementos narrativos de Alan Wake 2 e apimentam bastante nossas teorias. Control elevou bastante a forma como a Remedy conta histórias, mas Alan Wake 2 parece consagrar um modelo magnífico de nos entreter.
Talvez seja uma fala forte, mas caso você não acompanhe o trabalho da Remedy nos últimos tempos, o que há a consumir aqui é um roteiro digno de comparação às melhores obras de Stephen King com uma execução com cacife de Naughty Dog. Se você tem interesse, mergulhe de cabeça e você terá uma das melhores experiências narrativas que existe na atualidade.
Pode esperar por muitas maluquices: jogo, filme, livro e até série, todos os aspectos da história vão e voltam em mídias diferentes para contar um fio narrativo cheio de metalinguagem e referências aos eventos passados e, principalmente, à luz das novas descobertas do universo de Control.
Stephen King, não MCU
Aqui vai um aviso aos curiosos de plantão: apesar de ser perfeitamente possível jogar Alan Wake 2 como uma sequência do jogo de 2010, Control não é apenas um easter egg embutido nas entrelinhas da aventura. Se você realmente quiser aproveitar a trama do jogo em todo seu potencial, estar alinhado com os eventos de Control é bastante importante.
Exatamente por conta disso, talvez fãs mais desavisados (ou que não lembram com vividez os eventos do título de 2019) possam não extrair toda a genialidade do roteiro da Remedy por aqui. É impossível aproveitar Alan Wake 2 sem ter jogado Control? Não, de forma alguma. Mas é recomendável que você esteja à par para que cada acontecimento, que apesar de não serem frequentes, tenham um peso maior.
Porém, relaxa: por mais conectado que o universo Remedy esteja nesse momento, Alan Wake 2 é seu próprio jogo (e sequência), e não uma continuação de Control, então não precisa se preocupar tanto também.
A parte mais legal é que, de certa forma, Max Payne e Quantum Break também fazem parte de toda a maluquice de Bright Falls e do Lugar Sombrio em Alan Wake 2. Bom… mais ou menos. A realidade é que a Remedy não detém mais os direitos de Max Payne (agora da Rockstar) e Quantum Break é uma IP da Microsoft.
Contudo, isso não impediu a desenvolvedora de trazer citações mais diretas possíveis, mas sem causar problemas no âmbito legal, o que acabam as tornando mais sutis. Mas, se você é fã desses games também, vai saber reconhecer coisas MUITO legais durante a campanha e, novamente, elevar ainda mais a jogatina.
Assim como Stephen King (que inclusive foi a maior inspiração para Alan Wake existir) cria nós e amarras com quase todas suas obras, essa a intenção da Remedy com Alan Wake 2, Control e o que quer que venha no futuro, apimentando ainda mais tudo que experimentamos por lá.
Survival horror com gostinho de Resident Evil
Durante o desenvolvimento, a Remedy chegou a comentar que se inspirou bastante nos novos Resident Evil (como 2 Remake) para beber de inspiração ao gameplay de Alan Wake 2 e isso é bastante visível em muitos aspectos – e muito positivos, que não deixe dúvidas.
A perspectiva em terceira pessoa, com a câmera acima do ombro, foi uma das belas adições que o estúdio soube aproveitar bem. Alan Wake de 2010 pode ser bom, mas certamente o tempo não foi gentil com suas mecânicas. Já Alan Wake 2 é moderno, robusto, extremamente bem-animado e com um peso em cada tiro que nos passa uma sensação boa durante as lutas.
A sequência de 2023 é substancialmente diferente e mais encorpada que o game original e você estará em casa se for fã dos Resident Evil recente, já que a sensação tanto com Saga quanto com Alan é de um survival horror de primeira (sério, até as salas seguras estão por aqui, com direito a local para salvar e um “baú” para guardar itens e gerenciar melhor o inventário).
Cada um dos protagonistas tem seu próprio sistema de upgrade: Alan deve encontrar palavras de poder que garantem bônus de atributos, enquanto Saga vai para um lado mais convencional, com recursos que aprimoram armas e pingentes que garantem bônus passivos (é possível equipar até 3 e trocar entre eles).
Inclusive, tanto Alan quanto Saga têm “glossários” próprios, cada um deles com seu “espaço mental” que podem visitar um espaço físico (mas projetado mentalmente) para revisar investigações, acessar diários, vídeos e muito mais. A transição entre o gameplay e este local é instantânea, mas vale reforçar: ir para lá não pausa o game e, se você tiver inimigos por perto, vai levar golpes (e isso inclui consultar o mapa).
Eu já mencionei isso, mas volto a frisar: Alan Wake 2 nunca me passou a sensação de ser o mesmo jogo com dois personagens de “skins” diferentes. É muito louvável que cada um deles tenham mecânicas, sistemas e gameplay notoriamente distintos, mesmo que compartilhem uma mesma base.
O terror foi outro ponto bastante elevado aqui, especialmente pela ambientação e pelos visuais de ponta que a Remedy entregou (você confere mais sobre isso em outro tópico). Apesar de ainda não ser aquele tipo de experiência que vai te borrar de medo, certamente é bem mais tenso do que vimos em 2010.
Como esperado, a luz tem um papel vital durante o gameplay de Alan Wake 2 e a desenvolvedora soube balancear um arsenal bem interessante nas mãos do jogador com diversas armas e ferramentas distintas. A esquiva permanece, mas revisitada e mais balanceada, assim como ferramentas de defesa (como as as facas e granadas reativas de RE2 Remake) e alguns QTE para escapar de inimigos.
Além disso, os inimigos estão mais variados e com uma inteligência artificial renovada, e há uma boa dose de luta contra chefões que ajudam no ritmo da campanha.
No geral, o estúdio soube tirar sensação de repetição de combates que vimos no game original e trazer uma experiência moderna, mais robusta e gostosa de jogar, alcançando aquele ponto ideal entre uma campanha narrativa de aventura e um bom terror à la Stephen King.
Uma outra pequena crítica aqui é que justamente por ser tão bom, poderíamos ter uma dose um pouco maior do combate durante a campanha. Assim como um bom thriller policial, Alan Wake 2 começa lento e isso pode mudar em breve (afinal, ainda estou para chegar na metade do jogo), mas não reclamaria de um pouco mais de ação para sacudir a experiência.
Jogo maior, mapa maior
Outra modificação bem interessante e positiva para a campanha são os cenários bem mais abertos para exploração. Os mapas ficaram significativamente maiores – mas longe de ser um mundo aberto – e há colecionáveis dos mais variados tipos para se esbaldar que garantem recompensas diversas, de itens e recursos a mais detalhes da narrativa.
O mais legal é que as atividades extras são bem-elaboradas, com diversas delas envolvendo puzzles bem mais rebuscados do que aqueles que vemos em Resident Evil: é preciso parar, ler arquivos, buscar fontes de explicação e desvendar os mistérios à sua frente. Puzzles como colecionáveis? A ideia é interessante no papel e melhor ainda na prática.
A parte boa é que em grande maioria os cenários podem ser revisitados e há um incentivo para backtracking. O sistema mecânico de recursos também ajuda nesta parte: para não deixar a experiência monótona, inimigos surgem para temperar a jogatina com pitadas de combate e, por mais que gerenciamento de recursos seja um dos aspectos, ficar sem balas não costuma ser uma opção, pois oponentes podem deixar balas em alguns casos raros de escassez.
Contudo, aqui vem a minha primeira e, possivelmente, única crítica de Alan Wake 2 até agora. Essas áreas são legais de revisitar, mas o mapa realmente foi expandido (o que é bom) e traz um certo cansaço em andar por alguns minutos (o que é ruim). Ter alguns pequenos pontos de fast travel por aqui ou ao menos dar uma velocidade de corrida maior fora de combate seria o ideal.
Muitas pessoas hoje em dia consideram o primeiro Alan Wake um jogo narrativo bom, mas muito datado mecanicamente. Alan Wake 2 nada contra essa correnteza e se prova um excelente game de survival horror, mesmo sem a história brilhante, oferecendo horas de diversão (mesmo que possa ser bastante lento em alguns pontos, mas não é algo que me incomoda e, particularmente, até gosto bastante).
Alan Wake 2 é um espetáculo visual sem concorrente
Ok, ok: vamos tirar o bicho papão da sala aqui. Os requisitos mínimos e recomendados de Alan Wake 2 assustaram bastante a internet nos últimos dias e houve uma grande preocupação em o game estar mal otimizado no PC, mas fique tranquilo (bom, em partes).
Neste primeiro momento, Alan Wake 2 não me passou nenhuma sensação de má otimização, mas sim de um jogo tecnicamente bastante avançado, tal qual Control foi em seu lançamento. Trata-se de um título verdadeiramente de nova geração em tudo: e isso é custoso.
O meu setup é bem poderoso e não necessariamente é um parâmetro (rodei tudo em uma GeForce RTX 4090 e um i7-13700K), mas com absolutamente tudo no Ultra em 1440p, ray tracing e path tracing, e tive performance similares a de Cyberpunk 2077: uma média de 120 fps (com DLSS 3 ativo, para deixar claro).
Se Cyberpunk 2077 vai para uma escala macro impressionante, Alan Wake 2 mira nos micro detalhes para nos deixar de queixo caído. Teremos que esperar benchmarks para ver como o game se comporta em outras categorias de hardware, mas, por ora, nada que deixar o ray tracing de lado em placas mais modestas não garanta uma experiência agradável.
Mas, sem sombra de dúvidas, Alan Wake 2 caminha entre colossos e é atualmente um dos jogos mais lindos da geração. Além da direção de arte fantástica (se você achava legal as referências de Twin Peaks, espere para ver o que há por aqui), a tecnologia da Northligh Engine realmente evoluiu bastante.
A ambientação e atmosfera da aventura são elevadas em níveis estratosféricos com os visuais de ponta, com contrastes de sombras e luzes dançando entre as partículas da floresta, ray tracing com ray reconstruction (DLSS 3.5) usando e abusando nos reflexos mais realistas de jogos possível e uma iluminação de path tracing que cria cenários absurdamente realistas.
As sombras da lanterna e a luz natural criada pela iluminação global via path tracing em Alan Wake 2 é algo de dar inveja: poucos jogos são tão imersivos e nos passam uma sensação de realismo em cada canto como ele.
Não tive a oportunidade de testar Alan Wake 2 nos consoles, mas em conversas breves com a equipe do Flow Games que também está jogando, parece que o jogo está rodando tranquilo por lá também (ao menos na versão de PS5).
A Remedy foi gentil e já nos ajudou a entender como as coisas estão por lá. No PlayStation 5 e Xbox Series X há dois modos: o Qualidade, que roda em 30 fps e em uma resolução interna de 1270p (mas reconstruída para 4K), e o Performance, que roda em 60 fps e em uma resolução interna de 847p (mas reconstruída para 1440p).
Já no Xbox Series S, Alan Wake 2 só tem o modo Qualidade em 30 fps e com resolução de saída em 1440p – não foi informada a resolução interna.
Ah, e vale mencionar: o game também vai ter um modo foto para capturar toda essa beleza magistral, mas em um período posterior ao lançamento e sem uma data definida.
Música para meus ouvidos
Se você é fã dos jogos da Remedy, certamente conhece o apreço pelo audiovisual do estúdio, da sonoplastia dos efeitos aterrorizantes até as músicas brilhantemente feitas sob medida para servir tanto à atmosfera quanto para propósitos narrativos (lembra das músicas de Alan Wake original e da cena do labirinto de Control?).
Por incrível que pareça, a produtora elevou o nível aqui. Cada fim de capítulo de Alan Wake 2 tem seu próprio encerramento e uma música única que une a sensação do que vivemos com uma letra que esteja coerente aos acontecimentos, há diversas conexões musicais com bandas e até trechos bem importantes com faixas sonoras.
Alan Wake 2 é, no geral, um game silencioso que preza pelos efeitos que vão nos deixar tenso em sua atmosfera sombria, mas nunca é parado suficiente para não ter verdadeiros videoclipes que amarram cada um desses trechos de gameplay.
Ainda não posso falar (e nem vou para garantir sua surpresa), mas certamente há um momento da aventura que vai dar o que falar – positivamente – por aí na internet: e mal espero para ver você ficar tão empolgado quanto eu fiquei.
…
Essas foram as primeiras impressões do Flow Games com Alan Wake 2, mas, como você deve ter percebido, nosso veredito é bastante positivo até o momento. Por se tratar de um jogo extremamente narrativo e cheio de reviravoltas, seria desonesto darmos considerações finais antes de terminar a campanha.
Mas, por ora, Alan Wake 2 parece ser o jogo que vai selar 2023 como um dos melhores da história e um dos grandes AAA de peso que a indústria já produziu: tudo exala um cheiro de polimento técnico enorme (apesar de alguns pequenos bugs) e uma campanha confeccionada com carinho e muito cuidado – curiosamente, por um preço abaixo dos blockbusters atuais.
Gosto é gosto e não necessariamente você vai adorar tanto essa aventura quanto eu, mas consigo ver claramente o título inédito da Remedy concorrendo ao GOTY em dezembro (por enquanto, o game já tem um sólido 9 garantido e podendo chegar ao 9,5 com pouco esforço, mas veremos o desfecho dessa história).
Em breve, provavelmente na semana que vem, poderemos falar mais abertamente sobre o desenrolar da narrativa e como tudo se amarra (ou não) no encerramento da aventura de Alan Wake 2. Se você ficou curioso, já já tem a análise completa aqui no site!
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