Review: Avowed tem boa aventura, mas é RPG com “R” minúsculo
Nós jogamos quase 40 horas de Avowed e compartilhamos nosso veredito! Veja a análise completa!
ão vou mentir: Avowed não me empolgou em nada desde seu anúncio. Me parecia mais um RPG de fantasia, mesmo que trouxesse consigo o selo de qualidade da Obsidian: seria mais uma tentativa da desenvolvedora em emular jogos da Bethesda, similar a The Outer Worlds? Sempre há seu público, mas parecia que eu não fazia parte dele.
Entretanto, acabei mordendo a própria língua e admito a conclusão precipitada. Em novembro, tivemos acesso às duas primeiras horas da campanha de Avowed e tudo que senti na época me empolgou: boa premissa, combate muito satisfatório e uma trama que parecia mesclar bem mistérios, elementos dúbios que me atormentariam em decisões impactantes e uma boa dose de interesse pelos desdobramentos. Ótimo início para um preview, não é mesmo?
E, em uma nova reviravolta, Avowed também parece ter me decepcionado um bocado pelas expectativas que criou no começo. Após 40 horas, o novo game da Obsidian traz uma dose muito boa de aventura e um combate bem gostoso, mas também vem acompanhado de um roteiro inconsistente e mecânicas de RPG bem rasas.
Ficou curioso? Venha ver a nossa análise completa abaixo!
Uma excelente premissa, mas contada em conta gotas e com tropeços
Avowed tem um pontapé muito bom para quem gosta de uma boa campanha. Na trama, servimos como o porta-voz do Imperador de Aedyr nas Terras Férteis, local em que a aventura se passa. Esta localidade é bem peculiar porque além de ser um refúgio para os mais variados povos, ela também é a fonte de uma epidemia de fungos chamada de Praga dos Sonhos, capaz de levar à loucura qualquer ser vivo que toca.
Portanto, a ambientação em que somos jogados logo no começo é de um continente selvagem, com poucas leis e com uma civilização ainda em construção, mas que também oferece perigos políticos e naturais. Por conta disso, o local é um motivo tanto para descobertas quanto para dominação do império, que pretende, em meio ao caos, colonizar a terra e expandir seu domínio.
Ou, em outras palavras, a ameaça da Praga dos Sonhos, a rejeição do povo ao império e lutas constantes entre os clãs criam o barril de pólvora perfeito para ingressarmos Avowed com altas expectativas. E, para coroar com a cereja do bolo, o game também evita alguns clichês clássicos de RPG na hora de nos apresentar o protagonista.
O nosso herói, criado pelo jogador, tem algumas reviravoltas interessantes. A primeira delas é que, independente da história de fundo que escolhermos, ele não será um novato e já chega com uma reputação a zelar. E, além disso, o protagonista é uma divindade.
Isso significa que, no mundo de Avowed (que compartilha o universo com Pillars of Eternity, vale lembrar), ele é tanto um escolhido por deuses quanto alguém a ser temido ou odiado. Além disso, ele trilha uma vereda diferente: no roteiro, o protagonista é adotado pelo imperador de uma nação totalitária e colonialista que, ao mesmo tempo que se compadeceu da situação, também nos utiliza como uma ferramenta para seus interesses.
O roteiro funciona de maneira esperta e evita a armadilha de, mais uma vez, criar uma história sobre uma vítima que sofre preconceitos por nascer diferente (claro, isso até é abordado, mas você pode contornar com escolhas bem intrigantes). Afinal, desrespeitar um porta-voz do próprio Imperador não é uma escolha sábia. Esse início é realmente cativante e cria um caminho interessante de seguir.
Porém… Toda essa apresentação inicial cai em um marasmo depois de um tempo. Durante as 37 horas que levei para zerar Avowed (o que inclui fazer bastante missões secundárias), poucos foram os momentos realmente marcantes, que são espalhados por quests geralmente monótonas, sem pontos altos e com decisões bastante binárias ou até maniqueístas.
Há exceções e Avowed brilha bastante no final capítulo 2 com escolhas bem impactantes que alteram parte da campanha principal (e o final em si é banhado em decisões), mas senti que o ritmo que a história é entregue fica um pouco aquém das expectativas.
Não quer dizer que a história inteira seja monótona, só que o ritmo pode ser inconsistente. Eu estava louco para saber mais sobre a Praga dos Sonhos, que mexe com a alma dos seres vivos, e entender quem é a Voz, presença estranha que se comunica conosco através de um elo estranho.
Os elementos são bem-configurados e há tudo para aproveitar, adorei a semente plantada em nossa cabeça sobre o propósito de nossa visita às Terras Férteis de Avowed: uma manipulação do Imperador para colonizar o continente? A Voz é uma aliada ou uma inimiga? É possível confiar no propósito atribuído ao nosso personagem?
Essas questões nos assombram durante boa parte da campanha e têm um desfecho até que bacana. Até os nossos aliados, que são quatro no total, podem ter quests pessoais legais de acompanhar, mas também sofrem dos mesmos sintomas.
O maior problema de Avowed é como ele entrega um ritmo inconsistente dessa intriga de maneira picotada entre uma progressão que se assemelha a um MMORPG. Muitas quests podem ser bem bobinhas, mesmo entre as principais, o texto de algumas delas é bem fraco e nem sempre as suas escolhas se pagam.
E o que acabou me desagradando é que algumas partes dessa campanha, que tinha tudo para ser muito rica, traz uma escrita bem rasa. Quer um exemplo? Durante uma missão em Paradis, logo no primeiro mapa, precisamos encontrar um rebelde (que vou evitar comentar para não dar spoilers) e as escolhas de um dos diálogos foram… estranhas.
Uma das alternativas que tinha era de pagar a informante rebelde para ele contar todo o plano da resistência e ainda revelar o nome do meu alvo. E por que ela faria isso? Eu sou um recém-chegado porta-voz do Imperador, do reino de Aedyr (que domina a cidade e pune de forma ferrenha os crimes dos rebeldes) e poderia só mandar prendê-la.
E prendê-la era literalmente uma das opções após a confissão! Por que a rebelde se incriminaria para uma visível ameaça inimiga por dinheiro? É um desfecho de roteiro que não faz sentido, mas por sorte essas discrepâncias não ocorrem com tanta frequência em Avowed – mas ocorrem.
Não vou mentir: mesmo em meio a esses problemas, Avowed ainda me intrigou no final da campanha, me fez gostar das histórias dos meus companheiros e buscar suas quests pessoais para descobrir suas histórias e motivações, além de me deixar curioso para ver o desfecho dessa aventura. Eu só gostaria de ver o esmero que a Obsidian tem com suas narrativas, algo que não senti por aqui.
O escopo maior até se paga, mas é nos detalhes que o jogo peca. Vindo da desenvolvedora de Fallout New Vegas, um dos RPGs ocidentais que mais dá a liberdade de decisões, é um pouco chato ver que o a trama não é o ponto forte de Avowed – apesar de ter momentos e uma premissa bem legal, como citamos. E isso se replica também para as missões secundárias.
Sidequests questionáveis e com estrutura de MMO
De longe, as sidequests de Avowed foram o que mais me desagradaram. Elas não são ruins, mas também não foram particularmente memoráveis em sua grande maioria. Isso porque, por algum motivo, a Obsidian parece ter implementado atividades secundárias similares a MMORPGs.
As famosas “fetch quests”, ou as missões de “leva e traz”, compõem a maior parte das suas atividades. Há algumas missões com desfechos interessantes que trazem o clássico sistema de escolhas que adoramos em RPGs, mas, novamente, essa parece ser a seção mais fraca do game. É difícil lembrar de alguma decisão que tomei no roteiro que impactou o mundo ou criou interações que se desdobraram mais para frente.
Muitos dos diálogos de Avowed são meio limitados em opções quando falamos de sidequests e não trazem grandes recompensas, seja em termos narrativos como até mesmo em equipamentos ou dinheiro. É só mais uma alternativa do que fazer no mundo do game.
E você pode argumentar que “basta não fazer” e partir para a campanha principal, certo? Bom, infelizmente, não. Avowed parece depender bastante de um sistema de progressão atrelado ao nível de equipamentos, então não adianta tentar avançar na força bruta: você pode até ser habilidoso, mas as penalidades de dano contra inimigos mais fortes da campanha vão barrar o seu progresso.
Dessa maneira, é quase obrigatório realizar as missões secundárias, seja para garantir alguns recursos extras ou até para forçá-lo a explorar o mapa para encontrar itens valiosos. E perceba: isso não é muito diferente do que qualquer RPG faz, o problema é que essas atividades não são muito divertidas e parecem um episódio “filler”.
De todas as quests secundárias que realizei em Avowed, poucas tiveram algum impacto no mundo ou algum desfecho que mostraram as minhas escolhas – e alguns desses desfechos surgiram apenas como slides no fim da campanha para mostrar o “impacto” as minhas ações.
Além disso, o material opcional de Avowed pode ser um tanto convoluto. Em alguns diálogos, há tantos termos, raças, divindades e até gírias desse mundo de fantasia que acaba sendo difícil de entender (talvez os fãs de Pillars of Eternity entendam melhor? Difícil dizer se o texto é mais complicado para novatos).
Por sorte, há um modo de “dicionário” nos diálogos que você pode consultar a qualquer momento e entender a explicação de cada termos, mas isso acaba reforçando outro problema do jogo: ele depende muito, mas muito, de que você leia absolutamente tudo, todos os textos, arquivos, diálogos com todos os NPCs disponíveis. E isso pode ser bem maçante, porque quase todos os textos são gigantescos e não desfrutam do recurso de dicionário para consulta de termos.
O que acaba compensando nesse ciclo de repetição de Avowed não é o seu poder de entreter pelas tramas, mas sim por seu maior ponto positivo: seu combate e exploração viciantes.
Combate: onde reside a verdadeira diversão
Vamos combinar que os trailers de revelação não venderam muito bem a premissa de gameplay de Avowed, que parecia um pouco truncado e genérico – sendo chamado, inclusive, de cópia simplificada de The Elder Scrolls. Sim, é verdade que The Outer Worlds seguiu uma fórmula próxima de Fallout, mas Avowed não é bem uma derivação de The Elder Scrolls.
Como alguém que também teve essa impressão mais negativa, fui pego de surpresa e provado o contrário. Pode parecer uma opinião ousada e que vai ser impopular, mas Avowed me pareceu muito mais divertido (ao menos em questões de gameplay de combates) que Skyrim.
Está na hora de admitir que o bom e velho Skyrim é bom, mas já tem 13 anos de idade. Avowed itera em cima da fórmula sim, a clássica luta corpo a corpo em primeira pessoa, mas há muito mais aqui do que você imagina. Existem diversos tipos de armas diferentes e cada uma com uma jogabilidade muito singular, sem parecer uma leve mudança de status a cada troca de equipamento.
Varinhas, tomos mágicos, espadas, machados largos, martelos de duas mãos, arcos, adagas, magias, arremessáveis, tudo que você pensar há por aqui e funcionam de forma distinta tanto na jogabilidade quanto com os seus atributos. Quer utilizar um machado e causar dano massivo? Ótimo! Quer um set com espada e escudo para destreza? Basta apertar um botão e você troca rapidamente para um segundo set.
Avowed sabe mesclar muito bem o uso das armas e feitiços de uma maneira bem dinâmica, trazendo golpes melee que funcionam bem e atalhos rápidos para habilidades de classe ou magias poderosas. Um dos sistemas utilizados aqui é um que sou bastante fã: a interação de magias diferentes causando efeitos combinados.
É tudo muito fluido, rápido e sem complicações. Mesmo que uma magia ou habilidade não esteja em um atalho rápido, basta apertar um botão para pausar o tempo e achar o que você quer utilizar. O combate de Avowed é simplesmente gostoso, bem balanceado e utiliza excelentes sistemas para trazer algo prazeroso.
Outro ponto interessante é que os inimigos também têm uma barra de vigor e podem ficar cansados, gerando uma oportunidade perfeita para a execução de uma finalização especial (com animação e tudo!). Há inimigos diferentes, com armadura mais fortes, curandeiros, magos e por aí vai – sem contar os debuffs, como fogo, gelo, envenenamento e mais.
Você ainda precisa se preocupar com defesa, barra de vigor em ataques, poções de vida e mana, tempos de recarga de habilidades e até esquivas, então o ritmo é rápido e bem divertido. “Tédio” certamente não é uma palavra que se encaixa por aqui. E claro, você ainda tem um sistema de nível, atributos que aumenta manualmente e escolha de skills, além do loot, equipamentos com habilidades passivas e por aí vai.
Tudo isso pode parecer protocolar (e até é), mas Avowed executa tudo muito bem. Sabe as quests monótonas e pouco inspiradas que citei acima? Elas às vezes nem foram um problema porque eu acabei gostando de ir até locais com chefões únicos e partir para porradaria.
E não se engane, há ainda mais detalhes bacanas nesse sistema. Você pode, por exemplo, usar uma dupla empunhadura, como um machado para golpes cortantes na mão esquerda e uma maça para golpes atordoantes na direita. Ou que tal uma espada e uma pistola para ataques à distância? Essas combinações são realmente legais e divertidas.
Embora eu tenha praticamente só elogios, há alguns pontos que poderiam ser um pouco mais refinados. Com a dupla empunhadura, por exemplo, você perde a opção de defesa. Seria realmente interessante que o bloqueio estivesse mapeado em outro botão para evitar isso, mas talvez seja uma decisão de game design, uma espécie de “troca” pelo ganho de flexibilidade.
Outros probleminhas que encontrei foram de hitbox em objetos pequenos, que por algumas vezes estavam desalinhados de uma maneira estranha e não funcionavam, e um bug irritante que logo após sair da seleção de habilidades, o seu personagem para de se mexer, necessitando de um “duplo clique” para que o jogo volte a reconhecer os comandos.
Há outros pontos que são bem protocolares também, como a repetição excessiva dos mesmos inimigos durante toda a campanha, a dependência do nível de equipamento e um outro bug que, de vez em quando, os adversários podem te encurralar em um canto que é literalmente impossível de sair por conta do hitbox dos personagens.
Mais ação e aventura do que RPG
Conforme mencionei, quem esperava algo no nível de Skyrim de Avowed, é bom mensurar as expectativas (ou, quem sabe, apenas ajustá-las). O que o novo título da Obsidian entrega é legal e tem suas qualidades, mas, como você deve ter notado no título deste review, a parte de RPG não é o ponto forte dele.
Além de as escolhas parecerem não ser tão impactantes durante a jornada (mas até têm seu peso no fim), eu senti que a mecânica de atributos é pouco explorada. No geral, elas parecem servir mais para combate e recursos de builds do que para os diálogos.
Sabe em Fallout, quando você não tem os pontos necessários para uma opção de Carisma, Tecnologia ou algo do tipo? Em Avowed, basta consumir alguns alimentos especiais e aumentar tudo o que você precisa para conseguir os pontos nesse “esquema”. Não tem problema se faltar 4 pontos de Determinação: basta consumir alguns alimentos que garantirão esse status. Falta peso para esse sistema.
E nem há tantas conversas que essas opções abriam opções imperdíveis, salvo alguns casos – que não vou comentar para evitar spoilers. De qualquer forma, redefinir todos os seus pontos é bem barato e não deve ser um problema trocar builds ou passar por situações que você carece dos pontos certos, o que acaba sendo algo positivo e negativo ao mesmo tempo.
Quer mais exemplos? Avowed não tem sistema de moral, então pode relaxar e pegar tudo que tiver dentro da casa dos habitantes das Terras Férteis. E o craft? Algo bem protocolar também. As árvores de habilidades? Há apenas três delas. É realmente uma forma bem simplificada de RPG, mas ele ainda guarda algumas cartas na manga.
O que Avowed realmente se destaca é no seu senso de aventura e exploração. Os mapas do jogo são bem-construídos, o sistema de parkour para escalar estruturas é bem legal e funciona maravilhosamente bem, há alguns puzzles e desafios de plataforma que necessitam de magias, como congelar a água para criar plataforma ou gerar energia para abrir portas, e por aí vai.
Ele tem um certo DNA e aprendizado com grandes jogos de mundo aberto (apesar de não necessariamente ser isso, já que traz áreas segmentadas e telas de loading): se você olhar algo que chame sua atenção no cenário, pode ir atrás que há alguma coisa legal por lá.
Inclusive, muitos dos ambientes de Avowed trazem paredes destrutíveis, áreas secretas e desafios de progressão para nos entreter. Curiosamente, como um jogo de aventura ele funciona bem melhor do que você imagina. É na parte do RPG que ele falha bastante.
Eu só gostaria que a equipe tivesse pesado menos o sistema de level nos equipamentos: aqui, importa mais o nível da sua arma do que o level do seu personagem, o que acaba espiralando em uma busca eterna por recursos, algo que pode truncar a exploração orgânica.
Boa direção de arte (mas com problemas de Bethesda)
Outro ponto de Avowed que passou por muitos comentários de internet foi a direção de arte do jogo. De uma maneira peculiar, parece que, ao mesmo tempo, o público está cansado de gráficos fotorrealistas, mas também rejeita estilos originais.
Sim, Avowed não traz à mesa uma experiência extremamente real e com gráficos feitos com fotogrametria ou outras técnicas que tentam emular a realidade, mas, após muitas horas com o game, eu acabei gostando muito do estilo visual. Há uma mistura de técnicas avançadas, como ray tracing, com uma arte mais estilizada muito bacana.
A equipe foi bem criativa ao desenhar dungeons, planícies, florestas, praias e até personagens, dando um toque autoral e um DNA próprio que, daqui a alguns anos, estará bem menos datado do que o título fotorrealista de ponta.
Eu quero chegar justamente no ponto que estilização não é sinônimo de gráficos ruins. Pelo contrário, Avowed roda na Unreal Engine 5, tem muitas tecnologias avançadas e traz cenários bem vistosos. De forma curiosa, parece que ele peca justamente em um aspecto que a Bethesda também peca há gerações: as expressões faciais e diálogos.
Aqui o orçamento claramente foi menor e, mesmo que não compartilhe o motor gráfico da Bethesda e traga alguns elementos bem melhores, a tática é a mesma: personagens estáticos, pouco expressivos e que, inclusive, parecem feitos com o próprio criador de personagens do jogo (eu posso jurar que vi um ou dois NPCs idênticos ao meu protagonista).
Outro ponto negativo é a falta de cutscenes e a dependência de slides para contar o enredo. Não é um problema por si só, mas o uso excessivo desses elementos pode cansar, quebrar a imersão ou não trazer o impacto emocional que as cenas gostariam de passar.
Não espere muito também da opção de jogar em 3ª pessoa de Avowed: o modo é claramente uma medida de acessibilidade feito para quem tem problemas para jogar em 1ª pessoa, já que torna ainda mais difícil o acerto de golpes, traz animações muito esquisitas e por aí vai.
E, por último, gostaria de tocar em dois pontos: a otimização do jogo para PC e a tradução. No geral, mesmo que Avowed possa ser pesado em opções mais altas, não achei que foge de um padrão bem-feito. Em uma GeForce RTX 4090 e um i7-13700K, rodei com tudo no Ultra, Ray Tracing e em 1440p alcançando taxas de mais de 100 FPS, mesmo sem DLSS 3 com geração de frames (mas usei o DLSS Qualidade).
Com exceção de algumas partes no fim da campanha, que alguma coisa parece ter aumentado bastante o uso da CPU e gerou quedas para a casa dos 60 ou até 50 fps, a experiência foi bem tranquila. Sim, há arestas para aparar ainda, mas você não deve ter grandes problemas.
Já sobre a localização em português, achei tudo muito bom (apesar de não ter dublagem), mas gostaria de ressaltar um ponto que não me agradou: o uso da linguagem neutra. Antes de achar que essa é uma reclamação da discussão contemporânea de “woke” ou “anti-woke”, saiba é que um aspecto muito mais prático.
Veja, Avowed utiliza muitos termos de alta fantasia e até gírias de idiomas fictícios, (algo que já comentei no texto) que, quando combinados com a linguagem neutra, criam uma verdadeira confusão. Termos algo como “ê Jardineire” num parágrafo repleto de palavras estranhas à nossa língua, faz parecer mais um termo de fantasia – quando, na verdade, é o “neutro” de “o Jardineiro”. Alguns usos dessa linguagem neutra realmente me fizeram perder mensagens importantes da história.
Inclusive, há até pontos em que a tradução está errada, onde claramente um personagem é mencionado no masculino em inglês e a tradução utiliza a linguagem neutra. Eu acho que há formas melhores e menos confusas de lidar com essas mensagens. Entendo que divindades de fato não têm sexo definido, mas utilizar essa solução torna tudo muito confuso no contexto de fantasia.
Avowed vale a pena?
Avowed se enquadra em um tipo de jogo bem peculiar: aquele que tem alguns defeitos chatos ou qualidades que não se destacam muito, mas tem um ou dois elementos tão legais que acabam compensando bastante suas carências. O combate e a exploração realmente fazem o trabalho de casa e são divertidos para quem aprecia esses pilares de gameplay.
De forma alguma Avowed é ruim. Ele é só… aquém. É simples, é mais rústico e menos ambicioso do que eu esperava de um selo da Obsidian. É notável que as ideias estavam todas ali, mas foram desenvolvidas de maneira irregular. Caso ele desse alguns passos extras em trazer alicerces mais sólidos, seria um jogão bem fácil de recomendar.
Mas, para ser justo, eu ainda recomendo Avowed. Sabe aquela velha história de: às vezes é mais divertido entrar de cabeça em um game nota 7 que tem algo bem legal do que investir em um jogo 8,5 que é uma maravilha técnica, mas é meio monótono ou similar demais com outros títulos que vemos por aí. Avowed se encontra mais próximo do primeiro exemplo. O que a Obsidian confeccionou aqui tem um valor de entretenimento muito alto, mesmo em meio às falhas e deficiências.
E, considerando que ele é um jogo de lançamento do Game Pass, certamente é uma oportunidade que vale testar. Quem sabe o universo conectado de Pillars of Eternity cative mais os fãs do que me cativou? É definitivamente um game que vale a chance.
Avowed foi gentilmente cedido pelo Xbox para a realização desta análise.
Avowed
Publisher: Xbox
Desenvolvedora: Obsidian
Plataformas: PC e Xbox Series X|S
Lançamento: 13/02/2024
Tempo de review: 38 horas
Avowed traz uma combinação de ideias interessantes, exploração e combate divertidos, mas deixa a desejar em seus elementos de RPG, roteiro inconsistente e sidequests esquecíveis.
Prós
- Premissa e mundo muito interessantes
- Elementos dúbios do enredo nos prendem até o fim
- Combate muito recompensador e divertido
- O incentivo de exploração funciona muito bem
Contras
- O texto de muitos diálogos é fraco ou esquecível
- Muitas quests não trazem escolhas de impacto no mundo
- Elementos de RPG são bem rasos
- O grind excessivo pode ser maçante
- Sidequests bem esquecíveis
Comentários
Pô, claramente ia ser péssimo… Só na diferença do primeiro teaser para a gameplay do Trailer já ficou claro a otarice;
Mais um jogo fazendo o consumidor de trouxa
Excelente texto
“Eu não vou mentir.”.. Puxa, que bom então! Fora isso, uma analisar razoável…
E desde quando flow games joga alguma coisa???
Interessante como a obsidian saiu da Bethesda, mas a Bethesda não saiu da obsidian, vários dos “problemas” já eram conhecidos nos RPG da Bethesda e eles replicaram aqui