Review Alan Wake 2: não acabe, doce pesadelo
Como diversos outros jogos, Alan Wake 2 não é perfeito, mas é ousado, único e autoral. Confira nosso review completo
ocê alguma vez já concluiu uma obra, seja um livro, filme, série ou jogo, e ficou verdadeiramente triste? Não por uma mensagem tocante no fim ou por um tema sensível, mas o simples fato de uma experiência singular que, quando os créditos rolam, você sabe que não terá a mesma sensação de novo por um bom tempo? Isso é Alan Wake 2.
Eu aposto que cada um que ler esse texto tem aquele game ou filme que gostaria de esquecer para ter uma aventura fantástica e marcante pela primeira vez novamente (e este é um desses casos para mim). Mesmo com suas falhas e seus aspectos de “videogame” que podem ser desbalanceados, Alan Wake 2 oferece uma sensação tão brilhantemente confeccionada à mão que merece aplausos.
Após uma campanha de 28 horas (que eu sequer fiz tudo) recheadas de metalinguagem, terror, loops temporais e uma trama digna de aula, o novo game da Remedy não é perfeito, mas certamente vai se tornar uma referência no futuro de como desenvolvedoras podem ousar, ter confiança em sua visão autoral e servir aos usuários aquela dose inesquecível na memória.
Talvez seja exagero da minha parte e a história me prove errado, mas Alan Wake 2 ficará marcado em 2023 como um game que muda paradigmas e servirá de fonte de inspiração para obras futuras. Aqui jaz uma prova viva, jogável, de que fugir do habitual e apostar em coisas completamente fora da caixa funcionam no âmbito de blockbuster tão bem quanto em games indies.
Em meio a tantas qualidades que continuam em uma espiral sem fim (e não em círculo), o jogo pode marcar a história da indústria. Confira nossa análise completa de Alan Wake 2!
Narrativa transcendental e recheada de metalinguagem
É difícil dar uma dimensão do quão narrativo Alan Wake 2 pode ser (mas não de uma forma ruim, como um walking simulator). Claro, você tem suas cutscenes bem-feitas – e bota bem-feito nisso – e todo o estilo de contar história que conhecemos, mas há muitas nuances em todos os cantos que você olhar, literalmente.
Arquivos e páginas de manuscritos para ler? Estão lá. Filmes e propagandas live action para prestar atenção e enriquecer o enredo? Opa. E que tal… grafites nas paredes que de alguma forma acrescentam ao universo conectado? Lousas com detalhes importantes, músicas que representam sentimentos, pedaços de livros que contam a história, loops temporais e o que você puder imaginar.
Pode contar com tudo isso e, sem jogar, não vai entender como a Remedy vai muito além com um uso excepcional de metalinguagem. Histórias contadas em paredes, talk shows que se conectam com jogo, que é um livro se tornando realidade, mas que vem de um lugar que é quase uma projeção inconsciente.
Desde o começo fica claro que há paradoxos estranhos em jogo e a desenvolvedora sabe usar com maestria todos esses elementos. Os personagens existem por causa da história ou são reais e colaboram com o roteiro? Em um panorama geral, até mesmo o nome dos capítulos tem um peso no que acontece no decorrer da campanha.
Alan Wake 2 será um estudo de caso no futuro sobre como criar um game focado em narrativa. É impressionante como a Remedy dá conta de ousar e pensar fora da caixa, evitando clichês e, principalmente, criando paradigmas sem parecer um trabalho presunçoso.
De uma maneira resumida, Alan Wake 2 retoma eventos do primeiro título, 13 anos após o protagonista ficar preso em um universo paralelo chamado de Lugar Sombrio para salvar sua esposa. Na prática, é muito mais do que isso, já que agora temos uma segunda protagonista que tempera o roteiro com ainda mais nuances.
Saga Anderson é uma agente do FBI e trabalha junto com seu parceiro Alex Casey – um personagem homônimo ao protagonista dos livros de Alan Wake, teoricamente fictício. Em pouco tempo, mistérios permeiam essa trama convoluta que mistura ficção com realidade, com Saga percebendo eventos estranhos que sugam sua vida pessoal e familiar para dentro dos acontecimentos.
Inclusive, em certo momento da campanha é possível alternar entre os dois protagonistas de Alan Wake 2. Por mais que o desfecho e a história sejam uma coisa só, a ordem que você escolhe jogar muda a sua percepção dos fatos: não há certo ou errado, mas isso só vai acontecer uma vez e será uma experiência pessoal e única.
A possibilidade de mudar entre os personagens e seguir a história de maneira não linear muda a sua percepção dos eventos e, por mais que deságue no mesmo lugar, sua visão sobre os eventos será única
Por ser uma campanha que se passa em universos e tempos muito distintos, é como ler um livro fora de ordem, mas que, não importa qual você siga, a compreensão dos eventos se paga no final da mesma forma. Sério, é uma experiência inesquecível que, por mais paradoxal que seja, eu gostaria de esquecer para ter novamente esse sentimento.
A forma como a Remedy cria dúvidas sobre o que é real e o que é fruto de manuscritos criados por Alan Wake é brilhante. Por toda a jornada, eu senti que nunca houve um ponto sem nó, todas as pequenas peças da trama são posicionadas com esmero, escolhendo a dose perfeita do que explicar e do que deixar confuso.
Como o primeiro game mesmo diz com base nas palavras de Stephen King, explicar um mistério é matar a diversão, é “antiético à poesia do medo”, já que é o mistério insolúvel, livre de lógica e explicações que fica conosco por mais tempo. Sim, há pontas soltas sem amarras, mas propositalmente pelo que está por vir.
E devo confessar: estou morrendo de curiosidade para ver o que o que está por vir e não me esquecerei tão cedo de tudo que vivenciei em Alan Wake 2. Muito se elogia Naughty Dog e outras desenvolvedoras como referências narrativas, mas talvez esteja na hora de olhar para o lado e ver que estúdios como a Remedy dão um baile neste aspecto.
Alan Wake 2 não deve ser colocado como parâmetro com outros jogos nesta altura do campeonato, ele já está no patamar de ser comparado com grandes obras e universos de Stephen King e outros mestres da escrita, algo que a desenvolvedora inclusive bebe muito desta fonte de inspiração.
Universo conectado apimenta trama
Aqui vai um aviso aos curiosos de plantão: apesar de ser perfeitamente possível jogar Alan Wake 2 como uma sequência do jogo de 2010, Control não é apenas um easter egg embutido nas entrelinhas da aventura. Se você realmente quiser aproveitar a história do game em todo seu potencial, estar alinhado com os eventos de Control é bastante importante.
Exatamente por conta disso, talvez fãs mais desavisados (ou que não lembram com vividez os eventos do título de 2019) possam não extrair toda a genialidade do roteiro da Remedy por aqui.
É impossível aproveitar Alan Wake 2 sem ter jogado Control? Não, de forma alguma. Mas é recomendável que você esteja à par para que cada acontecimento, que apesar de não serem frequentes, garantem um peso bem maior.
Porém, relaxa: por mais conectado que o universo Remedy esteja nesse momento, Alan Wake 2 é seu próprio jogo (e sequência), e não uma continuação de Control, então não precisa se preocupar tanto também.
A parte mais legal é que, de certa forma, Max Payne e Quantum Break também fazem parte de toda a maluquice de Bright Falls e do Lugar Sombrio em Alan Wake 2. Bom… mais ou menos. A realidade é que a Remedy não detém mais os direitos de Max Payne (agora da Rockstar) e Quantum Break (que é uma IP da Microsoft).
Contudo, isso não impediu a desenvolvedora de trazer citações mais diretas possíveis, mas sem causar problemas no âmbito legal, o que acabam as tornando mais sutis. Mas, se você é fã desses games também vai saber reconhecer coisas MUITO legais durante a campanha e, novamente, elevar ainda mais a jogatina.
Assim como Stephen King (que inclusive foi a maior inspiração para Alan Wake existir) cria nós e amarras com quase todas suas obras, essa é a intenção da Remedy com Alan Wake 2, Control e o que quer que venha no futuro, apimentando ainda mais tudo que experimentamos por lá.
Uma amálgama de jogos, mas com DNA próprio
Após comentar tanto sobre a história de Alan Wake 2, talvez você tenha a impressão de que temos em mãos mais um “jogo filme”, como a internet tanto gosta de chamar. Mas isso não poderia passar mais longe da realidade. O novo game da Remedy pode não ser o mais cheio de ação do mercado, mas ele está longe de ser uma experiência puramente contemplativa.
Na verdade, ele se apoia sobre o ombro de gigantes para construir um gameplay extremamente sólido e rebuscado. Em termos de mecânica, diria que hoje Alan Wake 2 não deixa nada a desejar a um excelente Resident Evil e supera qualquer Silent Hill (em sistemas e jogabilidade).
O game claramente bebe da fonte dos novos remakes de Resident Evil, como o 2 ou o 4, para trazer seu estilo de combate: câmera sob o ombro, grande impacto nas animações de tiro e muito mais. Até mesmo a safe room e um baú no maior estilo da série da Capcom existem por aqui.
Em seu cerne Alan Wake 2 é um survival horror de respeito: pode contar as balas, recursos e possivelmente até fugir de inimigos (e claro, recheado de elementos de terror muito mais exacerbados que no primeiro jogo).
As mecânicas de luz para enfraquecer os inimigos voltam ao palco, mas com menos importância do que no passado. Agora, optar por iluminar adversários é uma maneira de reduzir seus escudos de escuridão, mas não uma obrigatoriedade, cabendo ao jogador optar por gastar mais baterias ou balas dependendo da situação.
Apesar de o combate de Alan Wake 2 não ser um dos alicerces da experiência, ele é extremamente bem-construído e satisfatório durante toda a jornada, oferecendo até mesmo algumas lutas contra chefões de tempos em tempos. Esse é um dos pontos positivos do jogo: até mesmo em segmentos que não são o foco, os devs tiram tudo de letra.
Há até mesmo colecionáveis que trazem recursos de melhorias para os protagonistas, como a busca pelas Palavras de Poder para Alan e os pedaços de manuscritos para Saga, que permitem melhorar armas e alguns atributos.
Puzzles também marcam presença aqui e ajudam a ditar ainda melhor o ritmo da aventura. O melhor de tudo? Os quebra-cabeças encontrados na campanha não subestimam a inteligência do jogador e oferecem verdadeiros desafios, sejam eles obrigatórios ou opcionais (algo sempre bem-vindo, já que puzzles não têm sido o ponto forte de survival horror atualmente).
Já de Silent Hill, Alan Wake 2 se inspira bastante nos mapas físicos e ambientação macabra da franquia da Konami. Contudo, apesar de ter referências claríssimas a essas séries, o título jamais passa a sensação de uma cópia. Pelo contrário, ele parece uma obra singular da Remedy. Não há absolutamente nada no mercado atualmente se assemelhe a ele.
Inclusive, palmas novamente para a Remedy. Apesar de ter dois protagonistas diferentes que compartilham uma base sólida, tanto Saga quanto Wake têm sistemas de gameplay bem diferentes entre si, algo que ajuda bastante à variedade de jogabilidade e mudanças no ritmo à gosto do cliente.
Enquanto Saga tem um ciclo de gameplay com menos ação, um sistema de investigação genial para solucionar casos e um ritmo mais lento, Alan tem momentos mais aterrorizantes, inimigos diferentes, armas distintas e até uma mecânica única, em que cenas de seu manuscrito podem ser rescritas e formas cenários completamente novos, dando sequência à trama e oferecendo novos caminhos.
Saga Anderson, por ser uma detetive do FBI, tem sistemas de investigação muito interessantes de construção de casos, criando um verdadeiro clima de thriller policial. Apesar de a procura por pistas não ser necessariamente uma mecânica ligada à progressão (há elementos de um game de detetive, mas ele não é o alicerce), a construção de eventos no Lugar Mental nos ajuda a entender melhor o panorama da progressão.
De certa forma, ligar os pontos que estão acontecendo em Alan Wake 2 não serve apenas para o contexto narrativo das motivações de Saga, mas também para nos ajudar a entender de forma visual a progressão do enredo.
Já Alan Wake tem mecânicas ainda mais ousadas, com o Lugar Sombrio e seu processo de escrita alterando o mundo psicodélico em que está preso. Dá para afirmar sem medo nenhum que as ideias apresentadas aqui são tão originais que nos cativam a explorar e ansiar pelo desenrolar dos eventos.
Além de armas, Wake tem em seu arsenal duas ferramentas importantes: o abajur de anjo capaz de emprestar ou tomar luzes do cenário (capaz de abrir ou fechar caminhos) e a habilidade de mudar o manuscrito de fuga do Lugar Sombrio, que consegue transformar ambientes inteiros.
Esse tipo de sistema em Alan Wake 2 exala criatividade e traz uma satisfação enorme durante toda a campanha. Autoral, original e ousado são apenas algumas das palavras para descrever o game em uma indútria tão saturada. E, inclusive, tanto o Lugar Mental de Saga quanto a Sala de Escrita de Alan são menus interativos em tempo real que nos levam para outro local de maneira imediata.
Apesar de ter outros elementos que gritam nova geração, momentos e sistemas como esse escancaram que Alan Wake 2 é um jogo que verdadeiramente não poderia estar nos consoles antigos. Se tem um game que aproveita tudo e mais um pouco, é esse.
Cenário confeccionado com maestria
Apesar de os personagens brilharem bastante durante a campanha, é válido comentar sobre o mapa de Alan Wake 2, que como todo resto, tem uma atenção e propósitos bem claros, se tornando quase como um terceiro protagonista que conta uma história também.
Se você teve contato com o primeiro título, deve conhecer as referências claras a Stephen King e, principalmente, à série Twin Peaks de David Lynch. Novamente, a Remedy consegue contar eventos e passar sensações muito legais com detalhes em cada canto, trazer trechos do enredo escondido nas nuances de grafites, misturar ficção com a realidade em alguns locais e até esconder easter eggs e referências ao seu universo.
O mapa de Alan Wake 2 se beneficia bastante da escolha de design de torná-lo enxuto, mas denso, recheado de conteúdo para quem busca. Que tal colecionáveis que são puzzles? Ou talvez colecionáveis que trazem mais do pano de fundo de Control? Tamanho nem sempre é documento e, quando bem aproveitado, menos é mais.
Mesmo que o título possa ser aproveitado de uma forma mais linear e focado na história, ele não deixa a desejar em nada para quem quer um mapa semi-aberto recheado de segredos, seja com os colecionáveis de Saga ou com os ecos de Alex Casey que podemos encontrar com Alan.
Há bastante conteúdo extra para quem quiser se aventurar por mais tempo em Alan Wake 2 e, em momento algum, perseguir conteúdo extra me deixou entediado. Pelo contrário, por muito tempo persegui e gastei horas atrás de tudo que o game tinha a oferecer e me obriguei por vezes a dar continuidade nos eventos da campanha.
Outra parte boa é que, num geral (mas não tudo), é possível voltar e buscar tudo que ficou para trás – inclusive, o game avisa quando há um ponto de não retorno para alertá-lo sobre todo o conteúdo opcional.
Se há algum ponto negativo que enfrentei durante a campanha de Alan Wake 2, ele talvez esteja aqui: deixar acumular muitas atividades secundárias ou buscá-las de uma só vez pode ser cansativo – mas não monótono, é bom reforçar. Apesar de serem palavras parecidas, descrever um pouco melhor talvez traga discernimento à questão.
Não há nada de errado com o conteúdo extra de Alan Wake 2, há até mesmo ressurgimento de inimigos para que sua jornada não seja apenas caminhar por aí (e esses oponentes podem derrubar munição para evitar pontos de travamento de progresso quando os recursos estão escassos), mas há um outro probleminha: a locomoção.
Por não haver viagem rápida e os protagonistas de Alan Wake 2 não andarem lá muito rápido, parar e fazer tudo que há de opcional pode ocasionar em longas caminhadas. Particularmente, não ligaria muito de a velocidade de movimento de nossos heróis ser um pouco mais ligeira fora de combate.
Mas que fique claro, isso é achar pelo em ovo e essa peculiaridade passa longe de ser um agravante de qualquer forma, é apenas uma constatação.
Alan Wake 2 é um dos jogos mais lindos já feitos (e isso não é uma discussão)
Ok: vamos tirar o bicho papão da sala aqui. Os requisitos mínimos e recomendados de Alan Wake 2 assustaram bastante a internet no lançamento e houve uma grande preocupação em o game estar mal otimizado no PC, mas fique tranquilo (bom, em partes).
Alan Wake 2 não me passou nenhuma sensação de má otimização, mas sim de um jogo tecnicamente bastante avançado, tal qual Control foi em seu lançamento. Trata-se de um título verdadeiramente de nova geração em tudo: e isso é custoso.
O meu setup é bem poderoso e não necessariamente é um parâmetro (rodei tudo em uma GeForce RTX 4090 e um i7-13700K), mas com absolutamente tudo no Ultra em 1440p, ray tracing e path tracing, e tive performance similares a de Cyberpunk 2077: uma média de 120 fps (com DLSS 3 ativo, para deixar claro).
Se Cyberpunk 2077 vai para uma escala macro impressionante, Alan Wake 2 mira nos micros detalhes para nos deixar de queixo caído. Teremos que esperar benchmarks para ver como o game se comporta em outras categorias de hardware, mas, por ora, nada que deixar o ray tracing de lado em placas mais modestas não garanta uma experiência agradável.
Mas, sem sombra de dúvidas, Alan Wake 2 caminha entre colossos e é atualmente um dos jogos mais lindos da geração. Além da direção de arte fantástica (se você achava legal as referências de Twin Peaks, espere para ver o que há por aqui), a tecnologia da Northligh Engine realmente evoluiu bastante.
A ambientação e atmosfera da aventura são elevadas em níveis estratosféricos com os visuais de ponta, com contrastes de sombras e luzes dançando entre as partículas da floresta, ray tracing com ray reconstruction (DLSS 3.5) usando e abusando nos reflexos mais realistas de jogos possível e uma iluminação de path tracing que cria cenários absurdamente realistas.
As sombras da lanterna e a luz natural criada pela iluminação global via path tracing em Alan Wake 2 é algo de dar inveja: poucos jogos são tão imersivos e nos passam uma sensação de realismo em cada canto como ele.
Não tive a oportunidade de testar Alan Wake 2 nos consoles, mas em conversas breves com a equipe do Flow Games que também está jogando, parece que o jogo está rodando tranquilo por lá também (ao menos na versão de PS5).
A Remedy foi gentil e já nos ajudou a entender como as coisas estão por lá. No PlayStation 5 e Xbox Series X há dois modos: o Qualidade, que roda em 30 fps e em uma resolução interna de 1270p (mas reconstruída para 4K), e o Performance, que roda em 60 fps e em uma resolução interna de 847p (mas reconstruída para 1440p).
Já no Xbox Series S, Alan Wake 2 só tem o modo Qualidade em 30 fps e com resolução de saída em 1440p – não foi informada a resolução interna.
Ah, e vale mencionar: o game também vai ter um modo foto para capturar toda essa beleza magistral, mas em um período posterior ao lançamento e sem uma data definida.
Porém, mais do que uma carinha bonita, Alan Wake 2 também traz uma direção de arte soberba, recheada de inspirações das maiores franquias de terror da cultura pop, muita atenção a detalhes e animações de primeira.
Em conversas com muitos NPCs, é possível perceber a fidelidade de suas expressões faciais, as animações de cada protagonista são refinadas ao extremo e há bastante empenho em criar uma experiência polida para nos imergir nessa história maluca e cheia de horrores.
Talvez seja clichê falar isso, mas Alan Wake 2 é o tipo de jogo que se beneficia muito de bons gráficos para contar seu enredo inspirado em séries live action, como Twin Peaks. Ter esse nível de fidelidade visual e altíssimo orçamento ajuda a construir uma atmosfera sem igual.
Filme, série, livro, jogo: mas música também
Se você é fã dos jogos da Remedy, certamente conhece o apreço pelo audiovisual do estúdio, da sonoplastia dos efeitos aterrorizantes até as músicas brilhantemente feitas sob medida para servir tanto à atmosfera quanto para propósitos narrativos (lembra das músicas de Alan Wake original e da cena do labirinto de Control?).
Por incrível que pareça, a produtora elevou o nível aqui. Cada fim de capítulo de Alan Wake 2 tem seu próprio encerramento e uma música única que une a sensação do que vivemos com uma letra que esteja coerente aos acontecimentos, há diversas conexões musicais com bandas e até trechos bem importantes com faixas sonoras.
Alan Wake 2 é, no geral, um game silencioso que preza pelos efeitos que vão nos deixar tenso em sua atmosfera sombria, mas nunca é parado suficiente para não ter verdadeiros videoclipes que amarram cada um desses trechos de gameplay.
Ainda não posso falar (e nem vou para garantir sua surpresa), mas certamente há um momento da aventura que vai dar o que falar – positivamente – por aí na internet: e mal espero para ver você ficar tão empolgado quanto eu fiquei.
É tudo tão bem encaixado em Alan Wake 2 que vale até uma dica aqui: após zerar o game, ouça as músicas de fim de capítulo e você vai perceber que muitas respostas à história estavam presentes já nas letras das músicas desde o começo.
Esse tipo de narrativa que comentei no começo desse review. É genial a maneira como a Remedy encaixa todas as peças do quebra-cabeça em diferentes formas de contar o enredo planejado pela equipe, especialmente na música.
Alan Wake 2 vale a pena? SIM!
Em um ano recheado de novidades, tido como um dos melhores da história, acreditava que Alan Wake 2 seria um título forte e com alta dose de terror para os amantes do gênero. Hoje, eu tenho quase certeza que ele concorre ao GOTY (a probabilidade de ganhar não é dos maiores, mas cada vez mais ele tem se tornado a minha escolha pessoal).
A palavra-chave para o game é autoral. Tudo aqui tem um DNA marcante da Remedy: elementos bem-feitos, combate e exploração incríveis (mesmo não sendo um alicerce), narrativa que vai se tornar um marco no futuro da indústria e um universo conectado de dar inveja a qualquer franquia.
Alan Wake 2 será o jogo que vai selar 2023 como um dos melhores da história e um dos grandes AAA de peso que a indústria já produziu: tudo exala um cheiro de polimento técnico enorme (apesar de alguns pequenos bugs) e uma campanha confeccionada com carinho e muito cuidado – curiosamente, por um preço abaixo dos blockbusters atuais.
Talvez seja muito difícil explicar em palavras a qualidade excepcional deste game, mas essa é justamente a graça e uma prova de competência: em um mar de títulos plastificados e pasteurizados, copiados e replicados vezes e vezes, Alan Wake 2 não só parece algo único, mas uma experiência tão diferente que é difícil buscar analogias para explicá-lo.
Se o mundo é justo, em breve a Remedy terá o mesmo prestígio de uma Naughty Dog e Sam Lake será um nome de peso tão grande quanto Hideo Kojima. Se você não estava com o título na radar, chegou a hora, porque Alan Wake 2 tem o pior ponto negativo possível em um game: ele infelizmente acaba uma hora.
Alan Wake 2 foi gentilmente cedido pela Epic Games para a realização desta análise.
Alan Wake 2
Publisher: Epic Games
Desenvolvedora: Remedy
Plataformas: PC, PS5 e Xbox Series X|S
Lançamento: 27/10/2023
Tempo de review: 30 horas
Alan Wake 2 não só é um excelente game, mas um dos melhores títulos narrativos e de terror já feitos, um tipo de jogo tão autoral que vai marca a história em 2023.
Prós
- Narrativa absurdamente boa e cheia de metalinguagem
- Ótimo gameplay com boas inspirações, mas com DNA único
- Ideias muito criativas com ambos os personagens
- Um dos jogos mais lindos de todos os tempos
- Uma das melhores experiências musicais em um jogo
Contras
- Alguns pequenos bugs
- Travessia pelo mapa pode ser lenta para buscar os 100%
Comentários
Narrativa, clima, gráficos… tudo nesse jogo impressiona e o torna um dos melhores títulos que já joguei.
Excelente analise Vini.