Review: Armored Core 6 é a síntese de como deve ser um jogo de ação
Com Armored Core 6: Fires of Rubicon, a FromSoftware quer apresentar uma franquia espetacular a quem não conhece
s últimos 10 anos foram cruciais para a FromSoftware em termos de projeção ao mundo. Ela consolidou sua fórmula – a receita “soulslike” –, criou um novo subgênero, ditou tendências e, hoje, colhe os louros por ter rompido barreiras.
Em meio a Dark Souls, Bloodborne, Sekiro e Elden Ring, Armored Core 6: Fires of Rubicon não tem a mesma popularidade, mas, ironicamente ou não, carrega o fenômeno de ser a franquia mais longeva do estúdio japonês.
Afinal de contas, a série remonta a 1997, quando um estreante PS1 estabelecia sua base no mercado – e extraía o melhor que podia em suas desventuras ocidentais, já que nasceu no Japão e, naturalmente, abriu portas a inúmero estúdios orientais, incluindo a FromSoftware.
Armored Core 6 e a coragem da From na última década
A franquia de mechas cruzou gerações e bateu ponto em consoles como PS1, PS2, PS3, Xbox 360, PC e, agora, PS4, PS5, Xbox Series X|S e Xbox One. Embora tenha boa rodagem de estrada, Armored Core é o tipo de experiência que agrada a um grupo mais restrito de consumidores, um nicho com franca ligação à estética e ao estilo dos mechas, que no Japão integram uma parte mais cultural da sociedade e dos costumes de entretenimento.
Com presença mais mundial, uma base de fãs cristalizada e retaguarda financeira para se arriscar numa série menos popular, a FromSoftware teve segurança suficiente para ousar e sair um pouco da rota soulslike de sua última década.
Armored Core 6 é bem diferente do que você viu nos títulos mais recentes dessa equipe e, ao mesmo tempo, absolutamente familiar aos veteranos de plantão, com todos os pilares respeitados e seguidos à risca: estrutura de missões separadas (sem mundo aberto), instrução antes de cada objetivo, mechas com várias armas que precisam ser administradas em comandos diferentes e uma história que envolve o código de conduta de um mercenário independente – sim, eles possuem coração e têm uma ombridade a ser obedecida.
História contadinha
Souls, Bloodborne e Elden Ring apresentam parte de sua lore em descrições de itens e subtexto de NPCs. Esse modo místico e enigmático de contar histórias se tornou uma assinatura inconfundível da FromSoftware. Em outra toada, o enredo de Armored Core 6 é apresentado à moda tradicional, com briefings que precedem cada missão e esclarecem tudo que está acontecendo, bem ao estilo PS2-PS3-Xbox 360.
É preciso colocar na balança que a franquia está há 10 anos adormecida. Pensando num público ingressante, há um “soft reboot” aqui, isto é, ao mesmo tempo em que o jogo continua elementos mostrados anteriormente, também serve como porta de entrada a marinheiros de primeira viagem, funcionando sozinho.
Nesse sentido, há uma bem-vinda mudança de ares. As tramas prévias se ambientaram principalmente na Terra e em Marte. Desta vez, a jornada leva você para fora do Sistema Solar, no remoto planeta Rubicon 3, em que uma nova substância misteriosa é encontrada e promete evoluir dramaticamente as capacidades tecnológicas da humanidade.
As fases em si podem parecer inofensivas à primeira vista, mas basta chegar ao primeiro chefão para você bater com a mão na testa e constatar o óbvio: ok, esse é um jogo da FromSoftware
Meio século após a descoberta, a matéria ressurge num contexto de disputa entre corporações e grupos de resistência. O jogador assume a pele de um mercenário independente que deve se infiltrar no planeta e descobrir seu destino em meio a esse impasse de facções.
Sem seletor de dificuldade e com checkpoints
Embora o jogo se afaste do ciclo vicioso que se tornou a fórmula Souls, não se engane: a dificuldade, que também se tornou marca registrada desse time, se faz presente em diversos embates memoráveis de Armored Core 6.
As fases em si podem parecer inofensivas à primeira vista, mas basta chegar ao primeiro chefão para você bater com a mão na testa e constatar o óbvio: “Ok, esse é um jogo da FromSoftware”. Sim, você precisa telegrafar os movimentos desses soldados de elite, estudar seus golpes e responder com uma estratégia de acordo.
Não há um seletor de dificuldade em Armored Core 6. A ideia é que todos adotem o mesmo senso de desafio que tanto se tornou proeminente nas obras do estúdio: todos apanham, todos aprendem, todos melhoram. Paciência, progresso, tentativa e erro, não necessariamente nessa ordem, mas sumariamente mandatório e de forma coletiva.
Não há “fogueiras” aqui também, e sim checkpoints registrados automaticamente conforme você avança em cada estágio. Os serviços que você realiza são curtos, aliás, e alguns podem ser concluídos em questão de poucos minutos. Cada capítulo é composto por um conjunto de missões, e todas formam arcos diferentes na história.
Líder da FromSoftware, Hidetaka Miyazaki cuidou dos diamantes da empresa (Bloodborne, Dark Souls 1 e 3, Sekiro, Elden Ring) e hoje é presidente da companhia, mas segue sendo uma potência criativa do time. Ele participou de toda a concepção de Armored Core 6 antes de passar o bastão a Masaru Yamamura, que foi designer líder de Sekiro e, sem dúvidas, permitiu que Armored Core 6 herdasse alguns de seus princípios.
Ação impecável
Sentir-se poderoso é uma das melhores sensações que os games promovem. Armored Core 6 traduz esse sentimento ao pé da letra: o seu mecha pode carregar bazucas, lançadores de granadas, metralhadoras, pistolas, lança-chamas, propulsores para voar e, é claro, habilidades corpo a corpo. A montagem do robô é mais fundamental do que o jogo dá a entender.
O fato é que todos os mecanismos de Armored Core 6, que à primeira vista podem confundir os desavisados pelo excesso de comandos, serão colocados à prova em tiroteios fantásticos, em que o jogador se depara com enxames de inimigos e deve mesclar rápida movimentação enquanto atira.
Na hora do mano a mano, a luta se torna individual e requer a escola “Souls” para encontrar as brechas necessárias e pensar em abordagens corporais, que infligem altíssimo dano ao custo de mais exposição.
O sistema de combate de Armored Core 6 é absurdamente bem construído: movimentação, planagem, disparos, esquivas, peso do seu robô, objetos do cenário e outros aspectos se costuram e funcionam incrivelmente bem na camada intuitiva do nosso cérebro. Você logo estará se sentindo um “megazord” como arma de destruição em massa para varrer tudo que se projeta à frente do seu mecha. Há batalhas fabulosas contra robôs veiculares colossais – capazes de extrapolar as extremidades da sua tela –, que oferecem impacto audiovisual cheio de glamour.
Não desanime: se você estiver sofrendo derrotas consecutivas muito cruéis contra alguns chefes, pode ser que a montagem do seu mecha não seja a ideal para aquela batalha. Lembre-se disso.
A exploração é um aspecto mais secundário de Armored Core 6 e talvez pudesse ter um pouco mais de protagonismo em relação às outras entradas da franquia. Alguns ambientes até ensaiam vastos terrenos a serem vasculhados, nem sempre com recompensas, mas com um ou outro arquivo que enriquece o enredo. Há faixas vermelhas que interditam a passagem do jogador com paredões invisíveis para delinear o perímetro da exploração.
O multiplayer é um belo incremento aos fãs de PvP, com direito a modo espectador. E sim, você pode refazer missões para melhorar seu ranqueamento ou angariar mais dinheiro, que é o modo pelo qual novas peças são adquiridas. Aliás, essa é a progressão do seu personagem: não em níveis, e sim por equipamento. Turbinar seu robozão não é mero capricho: é um elemento crucial para o progresso.
A importância da customização
Conforme mencionado, a configuração do seu mecha é de suma importância para o sucesso nas batalhas contra chefes. Os robôs podem ser customizados nos mínimos detalhes, contemplando toda a carcaça externa (braços, pernas, tronco, cabeça) e as armas.
O porte pesado, médio ou leve de sua máquina influencia diretamente nas habilidades de combate e na movimentação. Você brincará com possibilidades que se encaixam melhor (ou pior) de acordo com cada objetivo de Armored Core 6.
Com o avanço da história, o modo Arena é desbloqueado, e nele você pode enfrentar adversários de elite que também servem como ótimo treinamento aos algozes presentes nas missões principais.
Lembre-se disso: se você estiver sofrendo cruéis derrotas consecutivas contra alguns chefes, pode ser que a montagem do seu mecha não seja a ideal para aquela batalha. O seu mecha possui um farto arsenal, mas jamais abaixe a guarda e tampouco ignore as opções corporais.
Veredito
Armored Core 6: Fires of Rubicon pode facilmente ser visto como o “Magnum Opus” da franquia, o ápice de um produto de nicho que, nas mãos de uma empresa capaz de se arriscar, se torna apresentável a toda uma audiência nova.
Com Yamamura tocando essa banda e um sistema de combate impecável, a experiência foi criada com carinho, esmero e competência, assegurando um sólido terreno que, definitivamente, sobe a barra do gênero de ação em suas 30 a 40 horas de campanha.
Ainda que alguns jogadores estranhem o jeitão “antiquado” e old-school da estrutura desse jogo, herdada de gerações passadas, o público certamente vai entender que, no final das contas, um jogo de ação sempre funciona sozinho quando todos os seus alicerces são erguidos de forma cristalina.
E Armored Core 6 é o melhor significado possível de “ação”.
Analisado no PS5.
O jogo foi gentilmente cedido pela Bandai Namco do Brasil para a realização desta análise.
Armored Core 6: Fires of Rubicon
Publisher: Bandai Namco
Desenvolvedora: FromSoftware
Plataformas: PS5, PS4, Xbox Series X|S, Xbox One e PC
Lançamento: 25/08/2023
Tempo de review: 45 horas
Armored Core 6 é o melhor significado possível de “ação” e definitivamente sobe a barra desse gênero tão milenar
Prós
- Ação sólida, competente e bem executada
- Customização caprichada e importante no combate
- Batalhas memoráveis contra chefes
- História melhor do que você imagina
- Amigável curva de aprendizado
Contras
- Exploração poderia ter mais protagonismo e recompensa
Comentários
Como sempre, as reviews do Micali são muito bem escritas. Valeu por compartilhar sua visão do jogo conosco, mestre.
Minha cópia já está comprada, só aguardando liberar o download pra jogar essa maravilha.
Brunão escreve as matérias com muita classe
Salve, Mica e galera do Flow. Sabem se o upgrade da versão comprada em mídia física do PS4 tem upgrade gratuito pra versão de PS5?
Tem sim, basta por o disco no ps5 e fazer upgrade gratuito.
É um prazer ler as reviews do mestre Mica!