BIG Festival 2023: Abragames quer fomentar nova geração de devs
Em entrevista ao Flow Games, vice-presidente da Abragames fala sobre desafios e projetos na cena de jogos indie no Brasil
período da não-E3 até pode ter acabado, mas não os eventos de games. Basta ver que, na semana passada, o Brasil recebeu um de seus encontros mais tradicionais do setor: o BIG Festival 2023. Foi por lá que batemos um papo com o pessoal da Abragames para entender não só sua participação na feira, mas também o momento atual da cena indie local.
Na conversa com Carolina Caravana, vice-presidente da associação, falamos sobre oportunidades de entrada no mercado de jogos, formação de novos profissionais, dicas para vender seu peixe nessa indústria e muito mais.
Abragames no BIG Festival 2023
Em nossa breve passagem pelo pavilhão do São Paulo Expo dedicado à edição 2023 do BIG Festival, na última sexta-feira (30/06), nos deparamos com uma cena curiosa: apesar do dia ser tipicamente menos agitado do que o final de semana que viria, havia um grupo considerável de jovens no inédito estande da Abragames na área geral do evento.
“Acho que esses pessoal mais jovem está percebendo, aos poucos, que é algo viável para o brasileiro ter uma carreira no mercado de games e que há um caminho para iniciar no setor”, pondera Caravana, que também é professora por formação, além de sócia e produtora na Aiyra.
“Percebemos que há um interesse cada vez maior das pessoas por entrar na área. Antes havia uma espécie de preconceito com jogos nacionais”, explica a representante da associação, “era algo até pejorativo”. Felizmente, parece que isso tem mudado.
Para ela, uma presença cada vez maior de profissionais brasileiros no mercado local e global de jogos têm ajudado a mudar essa visão, não só com produtos de qualidade progressivamente maior, mas também com easters eggs, inspirações e outras referências da cultura brasileira em games de alcance mundial.
“É um pouco daquela ideia de soft power”, acredita a entrevistada, citando o conceito de propagar ideias e influenciar interesses e comportamentos por meio de produções culturais. Isso é algo que os EUA fazem há tempos com Hollywood, por exemplo, e que também pode ser notado na recente expansão da Coreia do Sul pelo mundo por meio do k-pop. “Se os gringos fazem tanto isso, por que não podemos fazer também”, questiona.
É um pouco daquela ideia de soft power
Upgrade na parceria
Exatamente por isso, a Abragames resolveu levar sua parceria com o BIG a um novo patamar. A dupla tem grande afinidade e trabalha junta há tempos, com a associação agindo na intermediação de convidados da indústria, fazendo a curadoria de pautas para palestras e promovendo encontros entre profissionais e empresas. Em 2023, no entanto, essa história ganhou um novo e importante capítulo.
“Essa é a primeira vez que estamos com um estande com conteúdo na área Consumer do evento. Antes ficávamos muito focados na parte B2B e de aceleração [ApexBrasil], o que acabou deixando um pouco de lado a proposta da Abragames para o público”, analisa a vice-presidente. A ideia com o novo espaço é mostrar o que é a associação, o que os associados fazem e como eles podem ajudar o ecossistema juntos.
Garantir a entrada de mão de obra nacional e qualificada no mercado é uma das formas que a Abragames vê de elevar o setor. “A gente precisa começar a formar essas pessoas para que não tenhamos uma deficiência de profissionais daqui a 4 ou 5 anos”, comenta Caravana. Esse é um problema que afeta, por exemplo, o mercado de tecnologia no país, que não foi capaz de habilitar trabalhadores para determinadas vagas e especializações, e acabou limitando os avanços em algumas áreas.
A gente precisa começar a formar essas pessoas para que não tenhamos uma deficiência de profissionais daqui a 4 ou 5 anos
Como reverter esse cenário? Na entrevista com o Flow Games, a vice-presidente do grupo de empresas de desenvolvimentos de jogos explica algumas das ações possíveis e o que foi levado para o BIG Festival 2023.
BIG Empregos e Pitch@BIG
Um programa que já existia no passado do evento, mas foi reformulado recentemente com a ajuda da Abragames, foi o BIG Empregos: uma iniciativa que tem o nobre objetivo de conectar empresas do segmento a diversos profissionais locais durante o período da feira.
Infelizmente, um sistema quase que inteiramente online, aliado a uma baixa experiência dos candidatos – que deixavam muitas informações de fora do registro –, fez com que o projeto ficasse muito aquém do esperado em suas primeiras edições.
Agora, no BIG Festival deste ano, a grande mudança foi trazer tudo para o presencial, permitindo aquele bom e velho “olho no olho” e promovendo uma interação maior entre empresas e devs, que podem perguntar, explicar e se expressar de forma mais clara do que por um simples formulário.
“Nem sempre os estúdios e as publishers estão com vagas disponíveis ou encontram profissionais para as oportunidades abertas, mas é um contato importante”, diz Caravana. Afinal, é a chance para as marcas construírem um banco de profissionais locais enquanto o desenvolvedor pode começar a se sentir integrado ao mercado, conversando com quem já tem experiência na área e recebendo um feedback real.
De acordo com a VP da Abragames, o programa está aberto a profissionais de todos os níveis, desde quem está pensando em começar agora no segmento até quem já trabalha de alguma forma nele. “Vemos muita gente que está naquela etapa de transição, vindo de uma carreira em tech, marketing ou comunicação, por exemplo, para tentar a sorte nos games”, explica.
Saber vender seu peixe nesses papos é essencial para mostrar seu potencial, conquistar uma vaga e, em alguns casos mais avançados, conseguir uma distribuidora ou aporte financeiro para seus games. É justamente nesse quesito que entra o outro programa da Abragames com o BIG Festival, o Pitch@BIG.
Promovendo uma verdadeira competição de apresentações, a iniciativa que estreou este ano no BIG é inspirada pelo GDC Pitch e conta com a participação de seu organizador, Jason Della Rocca. A ideia, aqui, é oferecer um ambiente propício para que estúdios participantes possam mostrar seus projetos para especialistas da indústria e receber críticas, apoio e outras dicas para refinar essa arte de ofertar seu produto.
Na visão da VP da associação, esse é um programa importantíssimo não só para quem atua no Brasil, mas para quem pensa em levar seu jogo para fora ou buscar investidores com a ajuda do braço de aceleração da Abragames. Além disso, é uma forma de aparar arestas e resolver algumas das principais deficiências dos pitches brasileiros.
A principal delas? Falar demais do título e não dar um parecer mais abrangente de negócio. Marketing, aquisição de usuários, iniciativas de relações públicas – como informações do produto, imagens etc –, oportunidades de mercado e outros elementos acabam ficando em segundo plano e fazem falta para apoiadores em potencial. “Tudo bem ter paixão pelo game, mas é preciso ir além”, ensina a executiva.
Um recado para você
Para finalizar o papo com Carolina Caravana, pedimos que ela desse um recado para o pessoal que não conseguiu ir ao evento ou que ainda está indeciso entre entrar nessa área tão querida e aquecida quanto o mercado de games brasileiro.
“Primeiramente gostaria de fazer um apelo às mulheres: venham, participem, ocupem seus espaços seja no desenvolvimento de jogos, na produção arte, marketing e no que mais for possível. Vocês fazem tão bem esse papel em outras indústrias, seria ótimo contar com o trabalho de vocês aqui também”, dispara.
Primeiramente gostaria de fazer um apelo às mulheres: venham, participem
Ela também explica que, de uma forma geral, dar o primeiro passo é essencial. Ou seja, tudo bem ser introvertido ou não se sentir confortável em falar com investidores, publishers e outras figuras do setor, mas não deixe que isso te paralise.
“Escale alguém do time que seja mais comunicativo para falar sobre o jogo, mas também conheça melhor a comunidade para se tornar mais confortável com a situação e participe de eventos como o BIG e tantos outros que abrem espaço para os desenvolvedores independentes”, reforça Caravana.
A vice-presidente da Abragames também lembra que é em cenários como esses que você tem a oportunidade de absorver a experiência de profissionais gabaritados do mercado – inclusive vindos do exterior –, que falam abertamente sobre boas práticas, macetes, caminhos do segmento, ferramentas e todo tipo de conteúdo.
Ao mesmo tempo é possível fazer networking, falar e aprender com outros devs e estúdios e ver, na prática, o que as pessoas estão fazendo no mercado local: são dezenas de empresas e expositores mostrando trabalhos e projetos de todo tipo, gênero, orçamento e fase de produção. Um ambiente realmente inspirador e transformador.
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