Review: Diablo 4 tira a franquia do inferno e a leva aos céus
Diga adeus aos amigos e familiares: Diablo 4 chegou e Santuário, com certeza, será a sua nova casa
ais ou menos no final de novembro do ano passado, a Blizzard convidou o Flow Games para testar uma build fechada do 1º Ato de Diablo 4. Embora menos polido , o material que que serviu de base para o nosso preview foi praticamente o mesmo que, posteriormente, os jogadores puderam experimentar nas múltiplas sessões de Beta realizadas pelo estúdio durante o 1º semestre de 2023.
Na prévia, ressaltamos a ousadia do time por trás do projeto em não só construir o que parecia ser o maior entre todos os jogos da série, mas também aproveitar os elementos de mundo aberto para contar a melhor história in-game da franquia Diablo.
Meses depois, nestas últimas semanas de maio, pudemos conferir antecipadamente a build (quase) final do jogo, ver sua campanha e endgame na íntegra, e encontrar as respostas para algumas (mas não todas) das questões que, até então, estavam no ar. O que achamos da jogatina? É exatamente isso que você confere neste review de Diablo 4 aqui no Flow Games!
Como avaliamos o novo Diablo 4?
Por se tratar de build de review, com um período limitado para testes – sem tempo para revisitações, consultas posteriores ou destrinchamento mais adequado –, tentamos espremer o maior tempo de jogo possível para experimentar o máximo de atividades que o game oferece ao público.
Ao todo, dedicamos aproximadamente 50 horas à jogatina de Diablo 4 e fizemos o bom e velho rush para garantir que conseguiríamos conferir a história de cabo a rabo. A estratégia se mostrou acertada de uma forma geral, já que a trama do game é realmente ampla e cheia de percalços, mas não é como se a decisão estivesse livre de alguns efeitos colaterais.
Um exemplo: ao ignorar missões secundárias, masmorras fora da história principal e eventos que pipocam ao redor do mundo, conseguimos debulhar campanha em cerca de 26 horas – sem pular diálogos e conferindo com atenção as múltiplas cutscenes da aventura.
Isso permitiu que tivéssemos tempo suficiente para ir além do arroz com feijão e experimentar com bastante folga o que muita gente considera o prato principal de um Diablo: seu endgame. Por outro lado, o foco absoluto na trama principal nos privou de testar múltiplas classes no mesmo nível (como fizemos no preview) e, mais importante, de aprimorar nosso herói principal, um Bárbaro bastante estiloso.
Na prática, ao abdicar de quests, dungeons e tarefas extras, nosso personagem ganhou menos XP, coletou menos ouro, obteve menos poderes lendários, desbloqueou menos recursos de Renome e ficou com uma gear bem mais humilde do que se esperava. Bobagem? De início, sim. Porém, bastou avançar um pouco na brincadeira para que chefões e outras missões feitas para testar o seu poder nos desse um verdadeiro tapa na cara – às vezes, literalmente.
Embora a dificuldade extra tenha sido bem-vinda para apimentar a jornada em alguns momentos, em outros a situação beirava o impossível. Brasileiros que somos, no entanto, não desistimos e conseguimos não só ver tudo o que Diablo 4 tem a oferecer, como também aprendemos um bocado com a experiência. Mas vamos começar do começo…
Uma verdadeira aula de Diablo
Na extensa timeline da franquia, Diablo 4 se passa cerca de 50 anos após os eventos de Diablo 3. Ou seja, a população de Santuário ainda tenta se recuperar dos eventos cataclísmicos de Reaper of Souls, quando Malthael deu uma de “Thanos turbinado” e simplesmente eliminou 90% de toda a humanidade.
Nesse meio tempo, a religião se tornou não só uma válvula de escape para as pessoas, mas também uma força incrivelmente influente e sangrenta, graças principalmente ao comando do anjo caído Inarius, cuja filosofia de “os fins justificam os meios” se espalha por seus comandados e é distorcida ao bel prazer por figuras corruptas ou cegas às nuances da vida.
O retorno de Lilith ao local que ela ajudou a criar junto de Inarius piora ainda mais as coisas, oferecendo, na teoria, uma filosofia mais passional e livre de se viver a vida, mas trazendo, na prática, ainda mais caos e violência a um mundo já bastante instável. Ou seja, se estabelece uma dualidade que conflita a cada novo passo da trama.
O fato de o mundo absolutamente ter se tornado um local sombrio e no qual a brutalidade e o cinismo fazem parte do dia a dia das pessoas, por exemplo, está presente no cenário, nas interações com NPCs – sejam eles personagens importantes ou meros habitantes de vilarejos –, em missões e em cada um dos grandes pontos de virada da história.
Tanto os encontros com Lilith quanto com Inarius reforçam esse sentimento opressor de que não há uma saída para a situação de Santuário – pelo menos não uma que não envolva um sofrimento ainda maior para sua população. Porém, é nos ambientes mais escuros que a luz brilha mais forte, e Diablo 4 faz questão de bater nessa tecla para mostrar que, apesar de tudo, a esperança não está perdida.
Isso porque, ao abordar temas e situações absolutamente sombrias (de verdade), o novo Diablo cria o contraste necessário para que as boas ações e a empatia ganhem um tom ainda mais especial. Em algumas quests, por exemplo, você se pergunta por que resolveu ajudar determinada pessoa ou causa. Em outras, a dúvida é: por que não ajudei antes?
Em algumas quests, você se pergunta por que resolveu ajudar determinada pessoa ou causa. Em outras, a dúvida é: por que não ajudei antes?
Some a isso uma trama que toma seu tempo para ganhar escopo e profundidade, uma vilã que vai além da malvadeza padrão e faz questionamentos pertinentes, personagens de apoio incríveis e algumas participações inesperadas, e você tem em mãos a melhor história que a franquia já apresentou dentro do game.
Vale notar que, em alguns momentos, sentimos a impressão de que seria possível limar algumas horas da história para dar mais fluidez ao roteiro e ritmo à aventura – removendo trechos mais embolados de idas e vindas. Porém, admitimos que nossa experiência avançando rapidamente pela campanha pode ter afetado essa percepção.
Partindo do princípio que o jogador médio de Diablo 4 deve intercalar quests principais com missões secundárias, caças a itens em dungeons, evento globais e até mesmo exploração do mundo, é bem provável que sua imersão na trama, apesar de ser possivelmente mais longa que a nossa, pareça mais melhor dosada e sem solavancos.
Escolha sua aventura? Mais ou menos…
Aqui vale um adendo importante sobre a estrutura da história de Diablo 4. Durante boa parte da divulgação do game e até mesmo na entrevista que fizemos com alguns dos desenvolvedores em 2022, a capacidade de encarar os 3 primeiros atos do jogo na ordem que você quiser foi apresentada como uma das grandes evoluções do título em relação a seus antecessores – em especial o ultralinear Diablo 3.
A realidade, no entanto, é que, embora na versão final do jogo você tenha a possibilidade de transitar livremente entre esses hubs de missões e alterar seu progresso na trama geral, há uma série de elementos que praticamente te empurram para o Ato 1 desde o início.
Basta lembrar que, em todos os testes abertos, os jogadores ficaram restritos à zona das Cimeiras Fraturadas e de sua trama. Apesar disso, era possível conferir para onde as quests dos Ato 2 e 3 de Diablo 4 te mandavam: para longe, muito, muito longe. Não bastasse o desafio geográfico e requisitos de nível, a própria familiaridade construída no Ato 1 também influencia naturalmente o jogador a seguir sua trilha antes de partir para as próximas.
A própria familiaridade construída no Ato 1 também influencia naturalmente o jogador a seguir sua trilha antes de partir para as próximas
Em tempo: isso não é nenhum demérito e nem prejudica a experiência de Diablo 4. Porém, não deixa de ser estranho terem dado tanto destaque para esse elemento de “escolha sua aventura” quando, salvo classes que têm suas habilidades especiais desbloqueadas nessas regiões mais longínquas e o gamer mais curioso, não é natural que você queira se aventurar nas outras zonas no início da jogatina.
Diablo 4 é delicioso de se jogar
Por falar em destaque, a atualização da jogabilidade de Diablo 4 em relação a seus antecessores é um de seus pontos fortes. Nada de substancial mudou desde o preview do ano passado ou dos últimos Betas, mas isso é ótimo, já que tudo continua funcionando de forma muito suave e responsiva, dos ataques à movimentação do personagem.
Poucas coisas são tão gratificantes quanto reunir um pack considerável de inimigos, usar uma habilidades de controle de grupo, ativar um buff poderoso e lançar um ataque devastador em área para varrer o chão com as criaturas. Cada clique é crocante, cada explosão especial e cada chuva de loot valida sua habilidade em derrotar as forças do mal.
Animações, efeitos especiais, sons e outros elementos do game se unem para garantir que cada momento seu em Diablo 4 seja memorável, principalmente no que diz respeito às batalhas. Isso também é verdade para outros elementos do game, como os momentos em que você sobe de nível, desbloqueia uma Conquista, dropa um item lendário, faz upgrade numa arma, vence um chefão ou arranca uma Fortaleza das mãos das criaturas infernais.
Há uma sensação de gratificação palpável para essas e tantas outras atividades. Claro que tudo isso é importante para um jogo como serviço. Afinal, essa dose regular de dopamina te mantém voltando para a jogatina sempre que possível e também evita que você se canse do loop básico de matar monstros, dropar gear, evoluir equipamentos, enfrentar inimigos ainda maiores e recomeçar tudo outra vez. Mas Diablo 4 não para por aí.
A crocância e a responsividade do gameplay de Diablo 4 permitem que a Blizzard possa ir mais longe na hora de apresentar desafios. Ao enfrentar um elite ou boss, você precisa decidir se vai fazer isso na cara e coragem – contando com suas resistências e o uso consciente de poções –, desviando de ataques especiais no último momento ou, ainda, aplicando um atordoamento ou outro tipo de incapacitação para cancelar a habilidade do oponente.
É preciso dominar todas essas (e muitas outras) opções de combate, já que os adversários vão ficando mais complexos e, muitas vezes, tiram algumas alternativas das suas mãos, exigindo que você se adapte rapidamente à situação. Parece estressante, mas é só delicioso mesmo.
Caindo do cavalo
A exceção para esse gameplay crocante de Diablo 4 é o seu fiel cavalo. Sim, é ótimo quando você finalmente desbloqueia sua montaria – uma adição inédita na série – e pode se deslocar com mais velocidade pelo mapa gigantesco do jogo, mas controlar o bichinho pode ser extremamente frustrante. Explicamos.
Testando o novo Diablo no PC, passamos boa parte do tempo com o nosso combo de mouse e teclado, que torna a jogatina absolutamente orgânica. Porém, decidiram que seria uma boa ideia associar a velocidade de movimentação do pocotó com a distância que o seu cursor está do centro da tela. Infelizmente, isso torna tudo um pesadelo.
Em terreno aberto, qualquer trajeto para o Norte ou, principalmente, para o Sul – por conta da barra de habilidades – é mais lenta que para as laterais ou diagonais do cenário. Além disso, em terrenos mais acidentados, com muita curvas, paredes e outras barreiras com passagens estreitas, você acaba tendo que puxar o mouse mais para perto e a velocidade montada fica menor que se o seu personagem estivesse a pé.
Ironicamente, isso não deve acontecer nos consoles ou se você resolver jogar Diablo 4 com um controle no computador. Testamos esse último cenário com um Xbox Controller e a sensação foi de que tínhamos domado nosso cavalo. Isso porque é possível manter a velocidade máxima do animal mesmo nas situações mais periclitantes, colocando o analógico no talo e mudando apenas sua direção. Fica a torcida para que as duas experiências fiquem mais próximas (para melhor) no futuro.
Em questão de interface, tudo funciona da forma que se espera de um jogo do tipo, com abas, elementos e atalhos bem-posicionados. Algo que poderia melhorar seria apenas a Árvore de Habilidades de Diablo 4, cuja visualização é problemática mesmo com o zoom mais afastado possível. De início, o zigue-zague e o vai-e-volta da janela não incomoda tanto. Porém, basta evoluir mais com seu herói ou ter vontade de mudar a build para que o processo se torne uma tortura.
O sistema de filtros por elementos e palavras-chave até ajuda a navegação e a encontrar habilidades com sinergias específicas, mas eu trocaria essa busca por uma ferramenta de salvar builds – como os perfis de transmog – num piscar de olhos.
Fantasia como elemento de gameplay
Ainda no quesito jogabilidade, é louvável o empenho da Blizzard em reforçar a “fantasia” de cada uma das 5 classes de Diablo 4 por meio de sua jogabilidade. O termo, apesar de poder parecer fazer uma alusão visual num primeiro momento (estilo, vestimenta etc), é mais amplo e ligado intimamente à temática em torno do personagem e sua identidade.
O Bárbaro, por exemplo, parece realmente um mestre de armas, alternando entre múltiplos conjuntos delas para usar suas habilidades. Isso é reforçado por skills que exigem tipos de armamentos específicos ou talentos e poderes lendários que te recompensam por trocar repetidamente entre espadas de duas mãos, marretas, espadas duplas e outras companheiras de luta. O golpe com cada uma delas também tem seu próprio peso e impacto.
A mesma coisa vale para os outros heróis, com a devida adaptação aos seus kits, é claro. O Mago pode ser o senhor de um dos elementos, combinar dois deles ou misturar todos para conseguir lidar com todo tipo de situação. Seja como for, a energia destrutiva e arcana está presente em cada conjuração, escudo mágico ou feitiço do herói.
O Renegado, por sua vez, abraça o estilo assassino rápido e furtivo com seu set de movimentos. Seja no modo corpo-a-corpo ou na jogabilidade à distância, a classe exala velocidade, estilo e eficiência em combate. Skills baseadas em sombra ou veneno solidificam esse arquétipo conforme o jogador progride com o personagem.
No Druida, esses aspectos são ainda mais plurais, uma vez que o herói conectado à natureza pode se transformar num homem-urso, num lobisomem ou manter sua forma humana para dominar a eletricidade, a terra ou o vento. Cada ponto alocado na árvore de talentos ou lendário incorporado ao char dobram a aposta na fantasia druidesca – escolha você uma build de suporte, tank ou dps.
Por fim, o Necromante é aquele que talvez tenha o caminho mais fácil para reforçar seus temas, uma vez que tudo em torno do personagem gira em torno de morte, sangue e ossos. Se engana, no entanto, quem acha que isso não traz variedade à classe. Basta ver que um necro focado em pets é bem diferente daquele que sacrifica seus aliados para obter mais poderes e encarar tudo à curta distância ou de outro que explode e toma a força vital de inimigos enquanto se banha em uma chuva sanguinolenta (coisa fina).
Ou seja, você vai se sentir na pele do personagem e em seu campo de atuação a todo o momento, independentemente do seu nível, da sua build ou do transmog escolhido para seu avatar. Inclusive, recomendamos fortemente que, de tempos em tempos, você visite o guarda-roupas numa das cidades principais de Diablo 4 para deixar o herói do seu jeito, mudando a aparência das suas vestimentas, suas cores ou misturando de tudo um pouco.
Lidando com o desafio em Diablo 4
Se você acha que a Ashava do último teste de servidores ou o chefão final da Fortaleza de Kor Dragan nos Betas abertos de Diablo 4 eram o ápice da dificuldade do jogo, melhor pensar de novo. Isso porque a nova jogatina da Blizzard pode ser absolutamente brutal em seus desafios e mandar você repetidamente para o último ponto de retorno.
Fique tranquilo, com a exceção de alguns bosses-chave, a dificuldade do game vai subindo de forma gradual e permite que você escolha quando e como quer enfrentar essas barreiras. Para começar, é possível iniciar sua jogatina no modo Aventureiro sem grandes penalidades para a sua experiência na campanha.
Embora a dificuldade Veterano ofereça um pouco mais de ouro e experiência, a recompensa pode não ser significativa o bastante para valer o seu tempo – ainda mais se você quiser apenas curtir a história sem maiores compromissos ou correr para o endgame. Mas você não pode ficar com as rodinhas laterais presas para sempre na bicicleta: uma hora será preciso firmar a mão no guidão e aprender a pedalar em duas rodas.
Isso porque, para liberar alguns conteúdos mais avançados, é preciso completar uma dungeon específica na dificuldade máxima disponível para o seu personagem. Isso vale para a liberação do modo Pesadelo, no nível 50, e do Suplício, no 70. Nesses pontos, não há negociação. É isso ou ficar de fora de novas atividades, reduzir drasticamente a XP obtida e destruir suas chances de um upgrade de equipamento.
Durante nosso teste de Diablo 4, por exemplo, terminamos a campanha principal mais ou menos no nível 42. Para progredir na aventura, precisávamos fechar a versão Suprema de uma masmorra na dificuldade 2 (Veterano). O problema é que essa edição da dungeon é feita para personagens de nível 50 e pode ser incrivelmente impiedosa em níveis menores.
O que você pode fazer em casos como esse?
Preferencialmente, se adiantar ao problema e mesclar diferentes tarefas ao longo de sua jornada para chegar ao fim da história canônica com um level mais alto, armas e armaduras melhores, mais recompensas de Renome e uma boa coleção de Aspectos lendários à tiracolo. Pode ficar tranquilo, nem tudo está perdido se isso não for possível e seu personagem estiver undergeared e underpowered como o nosso.
Primeiro, porque é possível voltar e caçar tudo isso que mencionamos agora. Uma boa forma de fazer isso, é acessar o menu do Códice de Poder, conferir os Aspectos que mais beneficiam sua classe, ver em que dungeon eles são oferecidos como prêmio e ativar o rastreamento para ir atrás deles. Esse método é bastante completo por unir o drop garantido de um item impactante, XP extra, equipamentos de monstros e bosses, e muitos materiais de crafting.
Materiais? Isso mesmo! Equipamentos desmantelados e elementos interativos no mapa podem render recursos que ajudam a aprimorar sua gear. Basta visitar o Ferreiro em quase qualquer cidade para subir o nível de suas armas e armaduras. Como a ação custa ouro e materiais, é preciso ter parcimônia em relação a quais itens evoluir e até onde. Comece pelas armas, depois teste o resto – e nos agradeça depois.
Todos outros sistemas de Diablo 4 também podem ajudar a estreitar diferenças de poder. No Joalheiro, é possível obter gemas ainda mais fortes para ornamentar seu kit e upar joias. Na Ocultista, transformar um item mágico (azul) ou raro (amarelo) em um lendário (laranja). Na Herbalista, fazer upgrade nas poções e criar elixires de resistência, ataque ou experiência. O próprio jogo faz questão de te lembrar periodicamente de interagir com esses NPCs.
Um deles, no entanto, pode passar despercebido: o Vendedor de Curiosidades. Essa personagem age como a Kadala, de Diablo 3, permitindo que você faça “apostas” com seus Óbolos Murmurantes. Esse recurso são obtidos em eventos do mundo e trocado por um item aleatório de determinada categoria (como arma de uma mão, bota, elmo etc), que pode inclusive ser um lendário poderoso.
A própria exploração do mundo aberto de Diablo 4 rende benefícios para o seu char. Durante suas andanças, ao completar missões paralelas, desvendar o mapa, participar de eventos, liberar Fortalezas e ativar Marcas de Sendas (teleportes) – entre outras atividades –, é possível ganhar Renome com as regiões. Ele dá experiência, ouro, cargas extras de poções, pontos de habilidade adicionais e outros agradinhos relevantes.
A própria exploração do mundo aberto de Diablo 4 rende benefícios para o seu char
Testar novas builds ou uma distribuição de pontos levemente diferente da que o seu herói usa agora também é algo válido. Apesar de todo drama em torno dos respecs, eles não só são possíveis, como bastante acessíveis. É claro que é muito mais barato apenas tirar alguns níveis de uma skill para colocar em outra, mas mesmo uma restituição completa das suas habilidades não vai te deixar muito mais pobre (a não ser que você for muito indeciso).
Por fim, é possível simplesmente cerrar os dentes e tentar repetidamente aquele desafio que está te enlouquecendo. Vale a pena gastar um tempo para entender padrões de ataque, fases, skills especiais e interação com adds. A dica aqui é: tenha o dedo rápido no botão de esquiva , não tenha medo de usar cooldowns e fique atento para usar as poções dropadas pelos chefões quando eles chegam em determinados pontos de sua barrinha de vida.
Como é, quer saber como a gente lidou com a Masmorra Suprema do nível 50? Engolimos o orgulho, upamos mais um pouquinho, até o level 46, e encaramos cada pack de elites da dungeon como se fosse um boss em miniatura. Acredite, deu tudo certo no final das contas.
Um endgame para chamar de seu
Ao completar a campanha de Diablo 4 pela primeira vez, independentemente do nível que você tenha no final da história, o jogo te dá acesso imediato ao sistema de Sussurros dos Mortos, que abre uma série de caçadas pelo mundo. Cada atividade rende pontos e, ao atingir um determinado montante, é possível trocá-los por uma coleção de itens.
Esse processo é repetível, pode render upgrades interessantes e te faz ir para diferentes zonas do mapa. Dentre essas regiões mais remotas, há duas delas que abrigam os chamados Campos do Ódio, áreas PvP com suas próprias atividades. Por lá, é possível tanto enfrentar jogadores em combate aberto quanto derrotar monstros para obter recursos que, após serem purificados, podem ser trocados por cosméticos e outros itens.
Quer ir além disso? Então, prepare-se para ralar um pouco. É necessário liberar a dificuldade Pesadelo para habilitar a queda de equipamentos sagrados e únicos, e o drop de Sigilos do Pesadelo, que permitem acessar versões ainda mais difíceis das masmorras. Isso também ativa as Marés Infernais pelo mundo, eventos regionais que deixam os monstros mais poderosos, mas concedem recompensas igualmente fortes – usando um certo número de Cinzas Aberrantes para abrir baús chamados Dádivas Torturadas.
Ao chegar ao nível 50, abre-se a almejada Árvore de Excelência, um quadro de habilidades paralelas que amplia consideravelmente o poder latente do seu personagem. Você ganha 4 pontos de Excelência por nível acima do 50 e precisa avançar por essa árvore escolhendo Glifos adjacentes de diferentes qualidade. O objetivo, aqui, é coletar os bônus que mais fazem sentido para sua build, escolher um Glifo lendário e partir para o próximo board.
Você até pode correr para o nível 70 para enfrentar mais uma Masmorra Suprema e liberar a dificuldade Suplício, mas ela não vem acompanhada de nenhuma atividade de endgame extra e sim de monstros progressivamente mais mortais, que podem dropar armas e armamentos ancestrais – além de uma nova seleção de únicos e de pavimentar o caminho para o level 100.
Improvisando um New Game+
Enquanto a 1ª Temporada não chega a Diablo 4, também é possível encarar a criação de um personagem secundário como uma espécie de New Game+. É só finalizar a campanha do jogo uma vez na sua conta para que seja possível iniciar um novo herói sem a necessidade de recomeçar a história do zero.
Basta clicar na opção “Pular Campanha” na tela de criação para que o novo aventureiro seja jogado diretamente no mundo aberto do game. Parece cruel, mas só traz vantagens. Ele já começa com diversos Marcos de Senda ativos, acesso à montaria e boa parte dos bônus de Renome e de Estátuas de Lilith liberados no seu herói principal – o que se traduz em pontos de habilidade extras, mais usos de poções e facilidade extrema de locomoção.
Para upar, será preciso encarar missões secundárias, limpar porões e masmorras, participar de eventos e liberar Fortalezas – tarefas que, por si só, rendem muita XP e equipamentos. Como se isso não bastasse, os Sussurros dos Mortos também ficam ativos desde o nível 1, oferecendo ainda mais experiência e a chance de obter itens realmente descomunais para o seu patamar. É que nem ativar o cheat code, mas dentro das regras.
Visual, localização e outras tecnicalidades
A Blizzard não mentiu quando nos disse que continuaria polindo Diablo 4 até o último minuto. De dezembro para cá, passando pelos Betas abertos, o jogo parece ter ficado ainda mais bonito. Ok, ele não é o título mais belo da atualidade, mas, dentro de seu gênero, coloca quase todo mundo no bolso – com exceção do famigerado Wolcen, que tem como única vantagem o poder gráfico da CryEngine a seu favor.
Todos os personagens são muito bem modelados e animados, os efeitos de luz e sombra criam uma ambientação realmente imersiva e as cutscenes trazendo o visual real do seu herói são uma bela adição à fórmula. Também chama bastante atenção a renderização de tecidos e metais em equipamentos, algo que pode ser observado com detalhes na tela de seleção de personagens, na aba de inventário do seu herói ou na janela de transmog.
No departamento visual, nossa crítica fica apenas a algumas texturas em baixa qualidade espalhadas por Santuário e à discrepância entre cenas scriptadas in-game – umas extremamente caprichadas e outras apenas protocolares. Felizmente, tudo isso fica em segundo plano diante de zonas estrategicamente planejadas, tomadas de cena épicas em lutas contra chefões e uma cinematic que vai muito além do que você imagina.
Após o lançamento, o estúdio ainda promete adicionar ray tracing à jogatina – embora plataformas suportadas e detalhes da implementação da tecnologia não tenham sido revelados. Outra promessa é de que um patch de Dia 1 vai aprimorar ainda mais os recursos de upscaling de imagem (como DLSS, FSR e XeSS).
Particularmente, enfrentamos pouquíssimos bugs ao longo de todo período de testes e ainda menos deles fora do que a desenvolvedora considera como “problemas já conhecidos” – que serão corrigidos automaticamente com o update que vai acompanhar a estreia do jogo.
Também quase não tivemos surpresas negativas em relação a desempenho. Usando a mesma máquina do preview do ano passado (um já castigado Ryzen 3600X + RTX 2060 Super), conseguimos rodar o título em generosos 4K, com um misto de configurações em Médio e Alto, e mantendo os fps travados em 60 a quase todo momento.
Diferentemente do que vemos em outros games AAA de grandes empresas em atividade no país, a Blizzard não poupou esforços e trouxe uma localização de primeira qualidade a Diablo 4. Com opção de textos, legendas e dublagem em português brasileiro, a tradução permite que qualquer um possa curtir a aventura sem barreiras – ainda mais quando somada a uma infinidade de recursos de acessibilidade.
A Blizzard não poupou esforços e trouxe uma localização de primeira qualidade a Diablo 4
Um tópico que passa despercebido em muitos reviews, a produção de áudio do novo Diablo é digna de palmas. Não só os efeitos sonoros ajudam a criar a sensação de uma jogabilidade precisa e crocante – como mencionamos anteriormente –, como as músicas do jogo assumem um papel central para dar o clima de cada cidade, masmorra e boss. Um destaque especial para a trilha que embala as cenas protagonizadas por Lilith, simplesmente épica.
As perguntas não respondidas de Diablo 4
Na ocasião em que publicamos o preview de Diablo 4, em dezembro do ano passado, deixamos claro que a build testada não incluia montarias, o Passe de Batalha e a loja de microtransações do game, e que essas eram ausências importantes, já que esses elementos podiam mudar completamente a nossa percepção – e a dos jogadores – sobre o produto.
Corta para maio de 2023 e só conseguimos riscar um item da lista acima: a inédita montaria. Isso nos convida a fazer uma reflexão sobre o novo Diablo e sobre a relação de confiança com a Blizzard. Isso porque, ao termos acesso limitado a esse tipo de conteúdo, não conseguimos avaliar o impacto da monetização na comunidade.
Sim, a Blizzard nos forneceu uma visão generosa sobre o tipo de visuais de itens vendidos na loja, sua comparação com a arte de equipamentos obtidos dentro do jogo e os valores (em dólares) da Platina. Ela também se comprometeu inúmeras vezes em manter a loja de Diablo 4 estritamente voltada para cosméticos, além de sugerir que parte do dinheiro obtido com esses sistemas seria reaplicado em Temporadas mais criativas, com conteúdo, mecânicas e trechos de história extras – como em Path of Exile. O problema? Nada disso é palpável no momento.
Vai haver uma splash screen na primeira vez que você logar com os destaques do dia na loja? Teremos uma notificação no canto da tela pedindo constantemente pelo seu clique, apenas para mostrar um set pago sob medida para a sua classe? Ao abrir o mapa, algum pop-up pode surgir de tempos em tempos? A resposta para todas elas: não sabemos. Também fica difícil saber se o suado dinheiro dos players será convertido num conteúdo realmente bacana.
Por um lado, precisamos ser céticos por conta de diversos episódios recente orbitando a companhia: surpresas com Diablo Immortal – que, ok, tem mais o DNA da NetEase –, uma comunicação limitada com os jogadores em World of Warcraft Classic e a recente mudança de direção com os planos para Overwatch 2.
Por outro, não dá para negar como a Blizzard tem sido atenta aos apelos da comunidade no caso específico de Diablo 4. Isso ficou claro nas mudanças implementadas no jogo após o feedback da comunidade – as masmorras e os porões estão infinitamente mais divertidos do que antes – e até mesmo no recente caso da premiação para os primeiros jogadores a chegar ao nível 100 do Hardcore, que teve suas regras atualizadas para eliminar da competição quem testou antecipadamente a build final do game.
Isso acaba dando um alento para que, mesmo se houver algum tipo de monetização agressiva ou elemento incompatível com o que se espera de Diablo 4 em sua estreia, haja uma perspectiva positiva de mudança e melhoria rápida. Se considerarmos que Diablo 3 se recuperou do Erro 37 e da Casa de Leilões com dinheiro real, isso seria um passeio no parque. Mas ficaremos de olho, é claro.
Palavras finais
Se não ficou claro até agora, vamos lá: acima de quaisquer dúvidas levantadas, Diablo 4 é um jogo sensacional, daquele tipo que vai despachar suas outras jogatinas para escanteio e fazer seus amigos não-gamers perguntarem “por onde anda Fulano, hein?” .
Ele muito provavelmente não vai, mas deveria estar entre os indicados de melhores do ano, já que leva a franquia para novos horizontes, de uma forma semelhante ao que Elden Ring fez a partir da série Souls. Isso acontece por muitos motivos.
Primeiro, porque Diablo 4 combina uma espécie de “complexidade acessível”, capaz de cativar veteranos e atrair novatos, com um gameplay crocantíssimo e um loop de jogo viciante, que explora atividade espalhadas pelo mapa, lutas épicas contra verdadeiros “chefões de fase” e um endgame matador e bastante variado.
Depois, porque embala essa mistura numa história realmente imersiva, que se aproveita de cada recurso do game – gráficos e trilha sonora soberbos, um mundo extremamente vivo, uma ambientação imersiva e personagens cativantes – para amarrar pontas soltas e apresentar novos ganchos.
Por fim, por esse ser somente o alicerce do que a Blizzard pode construir com o game. Afinal, como em episódios anteriores da saga, a perspectiva é de que o novo Diablo ganhe ainda mais fôlego e escopo ao longo do tempo, sendo lapidado para trazer uma experiência verdadeiramente única a cada nova Temporada, atualização e expansão.
É somente o alicerce do que a Blizzard pode construir com o game
Quer mais uma prova de por que Diablo 4 é um jogão? Basta ver que, mesmo depois de termos todo nosso progresso zerado múltiplas vezes – centenas de horas dedicadas a previews, testes e análises –, só conseguimos pensar em voltar mais uma vez para Santuário. Só que, desta vez, para ficar.
O Flow Games pôde testar antecipadamente Diablo 4 no PC a convite da Blizzard.
Diablo 4
Publisher: Activision Blizzard
Desenvolvedora: Blizzard
Plataformas: PS4, PS5, Xbox One, Xbox Series X/S e PC
Lançamento: 06/06/2023
Tempo de review: 50 horas
Diablo 4 leva a franquia para novos horizontes ao contar a melhor história da saga aliada a um gameplay completamente viciante (e isso é só o começo!)
Prós
- A melhor história da série até agora
- Gameplay absurdamente crocante
- Visual e som fora da curva para o gênero
- Complexidade na medida certa
- Mundo vivo e quue te convida para explorá-lo
- Endgame robusto e bastante variado
Contras
- Impacto da monetização ainda é uma dúvida
- Controle da montaria no mouse deixa a desejar
Comentários
Simplesmente este, review está crocante de delicioso.
Estou ansioso para jogar, ótima análise ❤️
Apesar de esse não ser o meu tipo de jogo devo reconhecer que é de alta qualidade. A review está excelente.