Dead Island 2 carrega seu fardo com divertida matança de zumbis
Após anos de idas e vindas e quase ter sido cancelado, o game traz o espetáculo sangrento que os fãs esperam
á dizia um pensamento de Albert Einstein: “Mesmo desacreditado e ignorado por todos, não posso desistir, pois para mim, vencer é nunca desistir”. Em algum lugar disso Dead Island 2 se encaixa: anunciado há quase uma década num passa-e-repassa de estúdios, adiamentos e suscetível ao cancelamento, o game, enfim, viu a luz do dia.
Produções turbulentas e instáveis estão sempre elegíveis ao risco do fiasco, especialmente em se tratando de jogos, mas Dead Island 2 deu uma rasteira na teoria e provou, na prática, que consegue oferecer um dos principais pilares que os videogames têm: diversão.
Decepciona? De forma alguma. Surpreende? Também não. O arroz com feijão vale a pena? Vejamos. E aliás, vale relembrar o quão marcante foi o trailer de anúncio lá na E3 2014:
Dead Island 2 e o mérito de não se levar a sério
Ambientado numa versão de Los Angeles dominada por zumbis, Dead Island 2 coloca o jogador na pele de um entre seis sobreviventes do surto, cada qual com sua própria história previamente construída e atributos divididos em diferentes talentos, beliscando o leve sistema de RPG que o game adota.
O cenário, aliás, é no chamado “alto Los Angeles”, na rica região de Bel-Air, Beverly Hills e arredores, na ostentação do píer de Santa Mônica também, no charme do glamour hollywoodiano, berço do cinema e dos artistas estadunidenses.
Existe um cuidado interessante com os detalhes: casas com piscina, salões luxuosos, enfeites milionários, carros chiques e até anfiteatro mostram que o dinheiro não compra a salvação de uma invasão zumbi – e é nesse tom pastelão de comédia, com piadas e sátiras que tiram sarro do mundo real, que Dead Island 2 se apoia, mantendo o alívio cômico como premissa do começo ao fim da experiência.
Não se levar a sério facilmente é, hoje em dia, um mérito raro. A maioria dos conteúdos multimídia busca carregar consigo um rastro de pensamentos complicados, ideias, sentimentos e filosofias que “provoquem” ou mexam com o jogador – no melhor dos sentidos, claro –, num amálgama de seriedade e entrega de mensagens profundas.
Dead Island 2 não quer ser profundo, filosófico, difícil de se compreender ou complexo: ele fala, em alto e bom som, para você ligar e sair estraçalhando zumbis com o que encontrar no caminho, sinal esse que fica claro pela tímida quantidade de tutoriais e rápida inserção no mundo do jogo.
Gameplay simples e funcional
Eis aqui aquele que provavelmente se posta como o grande pilar dessa experiência: o gameplay. Não a história, não os personagens, não os gráficos e nem a performance ou outros quesitos técnicos.
Mantendo a mesmíssima estrutura de seu antecessor, a sequência se preocupa em rapidamente deixar o jogador “livre” no mundo – que não é exatamente aberto, e sim separado por regiões –, podendo coletar uma sorte de parafernálias customizáveis de maneiras criativas.
Bastões, tacos, espadas, martelos, pedaços de ferro, chaves inglesas e outras armas brancas compõem o “arsenal” de seu combatente, que pode incrementar esses itens com habilidades de choque, espinhos, fogo e outras engenhocas. Sim, as armas são quebráveis, mantendo a característica do game original – mecânica que é um tanto impopular aos olhos de muitos jogadores (os de Breath of the Wild que o digam).
O espetáculo sangrento gerado pelos combos finalizadores é um colírio aos olhos
No entanto, aqui, a quebra constante faz parte da cultura do gameplay. O segredo é não se apegar aos itens coletados, por mais raros que sejam, prática que é convidativa à experimentação de todas as ferramentas que a jornada tem a oferecer. E sim, armas de fogo estão presentes, embora em menor escala, já que o foco do jogo não é exatamente se comportar como um shooter.
Não há rodeios ou técnicas: desça a porrada, recue, use a esquiva e tenha uma boa distribuição de habilidades, aqui destacadas por cartas, aprimorando a defesa, o ataque, a movimentação etc.
O espetáculo sangrento gerado pelos combos finalizadores é um colírio aos olhos – e os efeitos sonoros de miolos se espatifando dão aquele nobre sentimento de satisfação a cada porrada aplicada. Nesse sentido, com tanta simplicidade de gameplay, Dead Island 2 brilha.
Ausência de novidades
Não espere que Dead Island 2 vá reinventar a roda, até porque ele nunca se propôs a isso. Portanto, sim, o impacto da novidade não vai te pegar. Não busque sentimentos inéditos ou uma exploração que faça o que outros títulos não tenham feito – do gênero ou não.
A estrutura repetitiva do primeiro game, aliada a uma progressão que tem ritmo instável, não se remodelou tanto assim. Aquilo que você viu em 2011, na geração retrasada, está aqui, intacto em grande parte e respeitado em essência, para bem ou para mal.
É estranho dizer isso, mas Dead Island 2 é, legitimamente, a sequência de Dead Island, sem riscos do DNA acusar outro progenitor. O mesmo arroz com feijão que funcionou naquela época vem agora ao prato – claro que com performance e gráficos atualizados, mas sem mudanças que tragam novidades ou variedade suficiente de missões para os que buscam um parque de diversões mais diversificado.
A sua principal atração é a matança de zumbis e é nessa premissa que você deve confiar. Não há necessariamente um foco em parkour – tal qual Dying Light, outro game da “fórmula zumbi” – e nada de enigmas ou complicações pelo caminho, apenas a carnificina desenfreada de mortos-vivos, que pode ser, na verdade, exatamente o que os fãs querem, até porque é possível embrenhar-se no mundo cooperativamente, em até 3 amigos, ou solo.
No entanto, havia espaço de sobra para que a equipe da Dambuster, estúdio a cargo de Dead Island 2 após o “troca-troca” de times, ampliasse o escopo para mostrar mais ambição no design das missões e no que é possível fazer nelas dentro dessa pancadaria sanguinária.
Veredito
Dead Island 2 tinha uma missão: existir. O game dura suas cerca de 15 horas nos objetivos principais e 25 a 30 para quem quiser cumprir as tarefas secundárias, que não saem muito do escopo “limpar a área de zumbis” ou “resgatar um objeto perdido” ou “deixar um território seguro” e por aí vai.
Como um produto que voltou das cinzas e se mostrou à prova do tempo, essa experiência poderia ser uma bomba, mas não é. Poderia decepcionar, mas também não surpreende. Poderia ampliar o escopo, mas foi leal ao seu legado.
Dead Island 2 é, sobretudo, resiliente, pelo lado bom ou ruim. E sua existência mostra que diversão descerebrada continua sendo, sim, uma grande válvula de escape da realidade.
Analisado no PS5 por meio de um código gentilmente cedido pela Deep Silver.
Dead Island 2
Publisher: Deep Silver
Desenvolvedora: Dambuster Studios
Plataformas: PS5, PS4, Xbox Series X|S, Xbox One e Pc
Lançamento: 21/04/2023
Tempo de review: 25 horas
Dead Island 2 tinha uma missão: existir. Mesmo que não renove sua estrutura, faz o básico bem-feito: matança desenfreada de zumbis
Prós
- Gameplay satisfatório e esmagador de miolos
- Bela recriação de Bel-Air e todo o luxo de Los Angeles
- Tom humorado do começo ao fim
- Funciona bem em modo solo ou co-op
Contras
- Poderia ampliar o escopo em relação ao 1
- Faltou ter mais criatividade no design das missões
Comentários
Eu só quero um jogo divertido para jogar. Acham que para jogar esse, seria melhor jogar o primeiro antes?