
Review: Fantasy Life i: The Girl Who Steals Time é a vida que queria fora dos videogames
Fantasy Life i: The Girl Who Steals Time é um RPG de ação relaxante, unindo o que há de melhor em Animal Crossing e Zelda. Veja o review!
Ainda é difícil acreditar que Fantasy Life i: The Girl Who Steals Time – continuação do excelente jogo de Nintendo 3DS – finalmente viu a luz do dia. Isso aconteceu mesmo após a saída de seu produtor, ninguém menos que Keiji Inafune, a mente por trás de Mega Man, e depois de uma série de adiamentos desde sua revelação em 2023.
Hoje em dia, qualquer motivo parece ser suficiente para que empresas de jogos cancelem projetos e fechem estúdios, muitas vezes por bem menos do que a Level-5 enfrentou no processo de dar vida à sequência de Fantasy Life. Dificuldades à parte, a produtora de Fukuoka, no Japão, não só voltou a marcar presença no Ocidente depois de um hiato de cinco anos como também entregou aquele que é, até agora, o maior e melhor título de seu portfólio.
Liberto das limitações de hardware do 3DS, Fantasy Life i: The Girl Who Steals Time mostra claramente a evolução que teve ao longo dos 13 anos desde seu antecessor. O game é uma salada de frutas bem-vinda, reunindo tudo que deu certo em Animal Crossing: New Horizons e The Legend of Zelda: Breath of the Wild, sem perder a essência que fez do original um clássico cult. Depois dos perrengues, a Level-5 reencontra sua identidade e está de volta ao seu auge, nos lembrando por que já foi sinônimo de qualidade.
Level-5 é o Studio Ghibli nos videogames
Antes de comentar sobre o jogo em si, quero dar um pouco mais de contexto sobre o motivo pelo qual Fantasy Life é tão importante para mim. Quando o primeiro game saiu lá em 2012 (e 2014 fora do continente asiático), eu já havia nutrido um carinho enorme pela desenvolvedora japonesa, graças às ótimas experiências que tive com Inazuma Eleven, Ni no Kuni e Professor Layton. Esses jogos tinham algo especial: uma magia simples e genuína que dificilmente se encontra em outro lugar no âmbito dos videogames.
Numa analogia rápida, a Level-5 está para a indústria de games como o Studio Ghibli está para o mundo das animações japonesas. O que quero dizer com isso? Dá para sentir, quase como algo palpável, a dedicação dos artistas por trás das obras dessas duas empresas. Ambas cultivam um estilo artístico muito particular, expressando suas ideias por meio de narrativas que se entrelaçam ao design de seus personagens. São criações com alma.
O que me encanta no jeito Level-5 de fazer as coisas é essa aspiração quase infantil, no melhor dos sentidos, de querer humanizar objetos, dar rosto a móveis e outros itens do cotidiano. Em Yokai Watch, para quem se lembra, a franquia concebida pela Level-5 para rivalizar com Pokémon e que ganhou reconhecimento durante os anos 2010, em especial no Japão, tem até uma bicicleta tagarela.

Imagem: Flow Games/Victor Teixeira
Falando especificamente sobre Fantasy Life, o original, esse jogo chegou num momento em que eu estava enfrentando um desgaste emocional incapacitante e, por isso, acabou se tornando meu refúgio contra o peso da existência. Era um cozy game, isto é, um joguinho relaxante, uma segunda vida à qual eu podia me dedicar, livre das cobranças e das amarras da vida real. Isso numa época em que Stardew Valley nem existia e Animal Crossing não tinha metade do apelo popular que tem hoje.
Mais uma vez, resolvi compartilhar essa história apenas para mostrar o quão determinante Fantasy Life foi para que eu passasse a enxergar os videogames com outros olhos, servindo como um suporte emocional constante por mais de 250 horas. Depois de terminar a campanha de Fantasy Life i: The Girl Who Steals Time, sorri ao perceber que, assim como cresci e evoluí desde 2012, a série também acompanhou esse progresso, ultrapassando em muito todas as minhas expectativas. Fantasy Life amadureceu mais que eu, e isso é ótimo.
A vida é sua, afinal
Sem surpresas, Fantasy Life i: The Girl Who Steals Time pode ser um jogo de fazendinha nos moldes tradicionais de Animal Crossing, se você quiser que ele seja, com direito a mecânicas robustas de personalização de ilha, cultivo e decoração livre de cenário. Ao mesmo tempo, ele também pode assumir a forma de um RPG de ação com visão aérea, em um esquema de combate que remete aos jogos 2D mais recentes de The Legend of Zelda, como Link’s Awakening e Echoes of Wisdom, inclusive pelas semelhanças visuais com o estilo chibi e seus simpáticos bonecos cabeçudos.

Imagem: Flow Games/Victor Teixeira
A nova produção da Level-5 parte do princípio de que a vida do personagem também é sua e, bem, cabe a você decidir o que fazer com ela. A graça, mais do que nunca, reside na liberdade de escolher o caminho que se quer trilhar. Salvo uma ou outra limitação necessária para o avanço da narrativa, o jogador tem total autonomia para mudar de ofício sempre que quiser – e de uma forma muito mais intuitiva que no primeiro game.
O Fantasy Life i: The Girl Who Steals Time parte do princípio de que a vida do personagem também é sua e, bem, cabe a você decidir o que fazer com ela
Cansou de descer a porrada nos monstros para subir de nível? Sem problemas. Largue a espada, dê um tempo dos combates e dedique-se à confecção de tecidos como um respeitável alfaiate. Para mudar de classe, digamos assim, basta interagir com outro elemento do ambiente, contanto que não seja um inimigo. Assim, de bate-pronto, sem burocracia. O grande pilar do gameplay ainda é o sistema de vidas, tal como em seu sucessor, ou seja, as profissões nas quais podemos nos especializar.
Um dos maiores méritos do Fantasy Life i: The Girl Who Steals Time é “amarrar” um monte de sistemas de criação e gerenciamento com um combate descomplicado, às vezes simples demais, porém crocante, que promove uma experiência tátil satisfatória e intuitiva. As tarefas, por mais básicas que sejam, como cortar árvores ou minerar matéria-prima, são incrivelmente prazerosas e estimuladas por mini-games, de modo que tudo que você faz exige atenção. Você sente que está sempre engajado com algo, mas nunca cansado de trabalhar nesse mundo.

Imagem: Flow Games/Victor Teixeira
As tarefas, por mais básicas que sejam, como cortar árvores ou minerar matéria-prima, são incrivelmente prazerosas e estimuladas por mini-games
Pescar, por exemplo, exige que você encontre o “sweet spot” do peixe, uma espécie de ponto fraco, o que também se aplica a objetos, das árvores aos minérios. Além disso, há mini-games para cozinhar, criar poções e forjar armas, todos com uma dinâmica que não deve nada aos passatempos da franquia Kirby. O que mais me fascina em Fantasy Life i: The Girl Who Steals Time é sua capacidade de transformar tarefas mundanas, por mais banais que pareçam, em momentos agradáveis, feitos para serem apreciados no controle.
Viagens no tempo
Como era de se imaginar, a história não é o foco aqui, da mesma maneira que não foi no primeiro game, e é mais um pretexto para você aprender tudo o que precisa, até que se sinta apto a desbravar o mundo à sua maneira. É no modo história, aliás, que somos apresentados às duas novas profissões: fazendeiro e artista, em tradução livre, já que o Fantasy Life i: The Girl Who Steals Time não conta com textos em português, infelizmente.
Com um tom mais sério que o do game anterior, mas ainda preservando o humor inocente que caracterizou a franquia, a narrativa se revela após despertamos um dragão feito de ossos. Nosso personagem é convidado a viajar entre um passado de mil anos e o presente, com o objetivo de salvar o mundo e, claro, de descobrir o mistério da garota que manipula o tempo. Afinal, é ela quem dá nome ao jogo.

Imagem: Flow Games/Victor Teixeira
Embora o enredo de Fantasy Life i: The Girl Who Steals Time não seja o aspecto central e, como mencionei, exerça mais a função de introduzir as mecânicas que nos acompanham ao longo da aventura, há momentos instigantes, especialmente nas reviravoltas da reta final da campanha. Digamos que isso é tudo o que você precisa saber para aproveitar, sem spoilers, quando for jogar.
Apesar de a história ser um feijão com arroz, a experiência como um todo ganha mais valor no modo cooperativo. Você pode optar por jogar online, com o auxílio de outros três participantes, ou recorrer à jogatina local, em um esquema que lembra a parceria entre Mario e Cappy, o chapéu mágico com quem o mascote bigodudo divide o protagonismo em Super Mario Odyssey. Se você busca um game com pegada multiplayer para se divertir com amigos ou filhos, The Girl Who Steals Time é uma escolha certeira.
Se você busca um game com pegada multiplayer para se divertir com amigos ou filhos, Fantasy Life i: The Girl Who Steals Time é uma escolha certeira
Fantasy Life i tem mundo aberto de respeito
Uma das ressalvas que ainda guardo em relação ao Fantasy Life original é o tamanho do seu mapa: contido em extensão, embora os elementos estejam bem distribuídos no pouco espaço disponível. Dadas as limitações do Nintendo 3DS, é compreensível que o mundo fosse mais enxuto, mesmo considerando os padrões da época. É verdade que existem RPGs mais robustos no próprio portátil, mas tudo bem.

Imagem: Flow Games/Victor Teixeira
Já em Fantasy Life i: The Girl Who Steals Time, contudo, o céu foi o limite para a Level-5. Sem medir esforços, a companhia japonesa mostrou, na prática, o que é um Breath of the Wild feito em casa, estruturando a jornada em três segmentos distintos: passado, presente e Ginormosia, cuja posição na linha do tempo permanece indefinida.
Ginormosia não é um conglomerado de ilhas, tal como as demais regiões, e sim um continente completo, 100% explorável desde o início, com um castelo no centro que faria Ganondorf sentir inveja – no fim das contas, ele não é o único a ter uma fortaleza no meio de um vasto mapa. Quase todas as distrações que você encontra nos dois últimos jogos 3D de Zelda também dão as caras aqui.
A Level-5 mostrou, na prática, o que é um Breath of the Wild feito em casa com Fantasy Life i: The Girl Who Steals Time
O mapa, assim como em Tears of the Kingdom, é delimitado por torres, então cabe a você alcançá-las para mapear os pontos de interesse ao redor. Masmorras com quebra-cabeças e desafios de hordas, santuários – as shrines –, plantinhas que se assemelham às sementes de Korok (funcionando como colecionáveis) e uma enxurrada de missões secundárias congestionam o mundo aberto, garantindo tranquilamente mais de 200 horas de conteúdo.

Imagem: Flow Games/Victor Teixeira
As missões secundárias, no entanto, se resumem a fetch quests, isto é, a levar itens do ponto A ao ponto B, e não acrescentam muita coisa além de experiência e dinheiro. Há exceções, claro, como quando ajudamos um tubarão que, em troca, nos ensina a nadar. Mas não se engane: você não vai se deparar com algo do nível épico de escalar um dragão para obter a Master Sword.
Também é possível expandir o rank de cada zona de Fantasy Life i: The Girl Who Steals Time para amplificar o desafio, elevando o nível de criaturas, chefes e até das matérias-primas que podemos coletar – um prato cheio para quem gosta de farmar em RPGs. No momento em que parei para escrever esta análise, já somo 59 horas de gameplay. Finalizei a história, mas nem cheguei a concluir um quarto do que a jornada reserva. A sensação é a de que mal arranhei a superfície, ainda bem, já que quero que essa experiência me acompanhe por muitos anos.
Veredito
Refúgio perfeito para quem busca se desconectar das pressões da vida real, Fantasy Life i: The Girl Who Steals Time nos convida a mergulhar nas pequenas tarefas do cotidiano, mas com “o molho” da Level-5, que transforma tudo em algo leve e prazeroso. Mais que um RPG de ação, seus elementos sociais e de simulação emanam uma atmosfera positiva e transmitem a deliciosa sensação de estar de férias.
Com potencial de sobra para ser o jogo de conforto definitivo nos dias que pedem calma, à altura do que Stardew Valley e Animal Crossing representam, Fantasy Life i: The Girl Who Steals Time traz a recompensa de trabalhar, mas sem o peso e o estresse que o trabalho real costuma carregar. Tudo embalado pelo charme inconfundível que a produtora japonesa imprime em cada um de seus projetos.
Um código de Fantasy Life i: The Girl Who Steals Time foi gentilmente fornecido pela Level-5 para a realização deste review no PS5 Pro
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Fantasy Life i: The Girl Who Steals Time
Publisher: Level-5
Desenvolvedora: Level-5
Plataformas: PS5, PS4, Xbox Series X/S, Nintendo Switch e PC
Lançamento: 21/05/2025
Tempo de review: 59 horas
Com vibe de férias, Fantasy Life i: The Girl Who Steals Time é um RPG de ação leve, relaxante e duradouro
Prós
- Evolui o primeiro jogo em todos os aspectos
- É a mistura perfeita entre Zelda e Animal Crossing
- Os mini-games dão vida às tarefas mundanas
- Conteúdo para dar e vender, sobretudo no mundo aberto
- Visual aconchegante
Contras
- Missões secundárias desinteressantes
- Ausência de localização para o português
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